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Segunda-feira, 31/3/2008
A volta da Mad
Gian Danton

Como se diz, vaso ruim não quebra. E a revista Mad, a mais anárquica revista de humor já lançada no Brasil, está de volta, depois de ter sido cancela três vezes. Agora a publicação sai pela poderosa Panini, o que pode garantir seu sucesso junto a novos leitores.

A Mad surgiu na década de 1950, criada pelo mestre Harvey Kurtzman a pedido de Bill Gaines, o dono da E.C., editora que fazia grande sucesso com revistas de terror e ficção-científica. Inicialmente o seu foco era justamente aquilo que Kurtzman mais conhecia: os próprios quadrinhos. Mas logo a revista começaria a ridicularizar todos os aspectos da vida norte-americana. Era tão irreverente que não conseguia anunciantes, vivendo exclusivamente das vendas em bancas.

Os quadrinhos da E.C. arregimentaram a fúria dos setores mais conservadores da sociedade, que fizeram uma cruzada contra os quadrinhos. Para sobreviver, as outras editoras montaram um comics code que praticamente proibia as revistas da E.C. A única publicação que sobreviveu foi a Mad. Adaptada para o formato magazine e em preto e branco, não era considerada um gibi e, portanto, escapava das regras do código. Nesse período, Kurtzman se desentendeu com Gaines e a revista passou a ser editada por All Feldestein. Este não tinha um humor tão corrosivo quanto o de Kurtzman, mas introduziu mudanças que agradaram, como colocar o mascote da revista, o idiota Alfred E. Newman, em todas as capas. Esse mascote ficou tão famoso que foi usado, posteriormente, em protestos contra o presidente George Bush (por causa da semelhança física).

A revista não só sobreviveu, como se tornou a mais vendida dos EUA durante décadas. Por ela passaram grandes nomes dos quadrinhos, como Wally Wood, Jack Davis, Bill Elder, Sérgio Aragonés, Don Martin e muitos outros.

No Brasil a revista surgiu em 1974, duas décadas depois de ter sido lançada. A razão do atraso é que a maioria das editoras achava que seria impossível traduzir as piadas. Quem acreditou na proposta foi Lotário Vechhi, da editora Vecchi. Para cuidar da adaptação, ele encarregou o jovem Otacílio d'Assunção Barros, que mais tarde ficaria conhecido pelos leitores com Ota. Dizem as lendas que a entrevista de emprego do novo editor poderia ser mais uma piada da Mad. Lotário perguntou ao Ota quais eram os nomes dos sobrinhos do Pato Donald e do cachorro do Fantasma. Ao final, ele se levantou, apertou sua mão e disse: "Sr. Otacílio, o senhor foi o melhor candidato que apareceu aqui até agora. O emprego é seu!". Ota saiu de lá achando seu novo patrão um completo imbecil.

Apesar de Lotário e Ota estarem certos do sucesso da Mad, essa opinião não era compartilhada por mais ninguém na editora, de forma que foi um espanto quando a primeira edição, de 40 mil exemplares vendeu rapidamente, apenas no Rio e São Paulo. Foi necessário imprimir às pressas mais 30 mil exemplares. A revista vendeu muito bem (gerando várias imitações), até a falência da Vecchi, sendo publicada posteriormente pela Record e, mais recentemente, pela Mithos.

Nos últimos anos, a revista não lembrava os tempos de grande sucesso das décadas de 1980 e 1990, quando virou referência, satirizando novelas, filmes e acontecimentos políticos. Cara e mal impressa, a Mad ficava perdida nas bancas e não chamava a atenção da nova geração de leitores.

A edição da Panini obviamente pretende reviver o sucesso da publicação. Para isso, eles mexeram no que estava ruim e deixaram o que sempre fez sucesso. O Ota, por exemplo, continua na revista. Nesses mais de 30 anos ele virou uma verdadeira referência, sendo o editor que mais tempo cuidou da revista no mundo. Mas outros detalhes mudaram. A impressão, por exemplo, deu um salto. Além disso, agora a revista vem completamente colorida. Na versão da Mithos, histórias coloridas eram impressas em preto e branco, o que tornava a leitura desinteressante. A editora ganhou também um segundo editor, Raphael Fernandes, responsável pela parte internacional ("eles são incompetentes o bastante para cuidar da parte deles assim como sou da minha", afirma Ota, no editorial do primeiro número).

O primeiro número tem coisas clássicas, como as cartas esculhambando a revista (muitos leitores escreviam para a Mad em folhas de papel higiênico), sátiras de filmes (Harry Potter, Meu nome não é Johnny), o relatório Ota, as histórias mudas de Sérgio Aragonés... tudo que tinha nas versões anteriores, mas a qualidade de impressão e a cor fazem uma diferença enorme. Para não dizer que está perfeita, há vários erros de revisão e o papel da capa ainda está muito fino. Mesmo assim, espera-se que essa nova versão consiga conquistar os jovens leitores. Aqui em casa funcionou. A garotada devorou a revista.

Gian Danton
31/3/2008 às 08h43

 

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