busca | avançada
70683 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Quarta-feira, 9/4/2008
Scorsese e o rock
Julio Daio Borges

Entre os músicos dos anos 1960 que aparentemente seguem vivos, Bob Dylan e os Rolling Stones encarnam símbolos opostos. O cantor e compositor é identificado com a idéia da eterna mudança e, para quem ainda acredita nisto quando se trata de show biz, como uma espécie de catalisador dos tormentos individuais da alma artística. Já os Stones estão aí para se divertir ― sempre da mesma forma, sempre dando uma banana para qualquer discussão que vincule sua trajetória a argumentos políticos, históricos ou comportamentais.

A dicotomia foi captada por Martin Scorsese em seus documentários mais recentes, No direction home e Shine a Light. Em ambos, ele poderia ter optado pela narrativa convencional da cinebiografia, mas preferiu uma forma mais apaixonada de homenagem: no primeiro caso, submergindo na mitologia de extração romântica que o gênio egocêntrico de Dylan sempre alimentou; no segundo, deixando os Stones fazerem aquilo que mais sabem, mais gostam e mais devem mesmo fazer: tocar.

Óbvio que No direction home é um filme mais rico. Mas Shine a Light, embora algumas passagens complacentes, consegue recuperar a eletricidade de Mick Jagger e companhia ao vivo, algo que havia sido enterrado por transmissões burocráticas de shows na TV ou por aqueles DVDs hediondos da banda. É um registro caloroso, estridente, físico, onde os músicos estão sempre próximos da câmera e se vê Keith Richards cuspindo no microfone ou envolto na fumaça de cigarro. E onde em alguns números, especialmente "Jumpin' Jack Flash", "Shattered" e os duetos com Buddy Guy e Jack White, dá para entender por que os Rolling Stones vêm conseguindo ser os Rolling Stones por tanto tempo.

Michel Laub, elevando o nível da blogosfera brasileira, e lincando pra nós.

Julio Daio Borges
9/4/2008 à 00h48

 

busca | avançada
70683 visitas/dia
2,0 milhão/mês