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Terça-feira, 10/6/2008
Machado de Assis e a Esperança
Daniel Bushatsky

Era um dia bonito em Santos. Acordei cedo e comecei a pesquisar sobre o Sr. Joaquim Maria Machado de Assis, mais conhecido por Machado de Assis. Precisava pensar em algo para escrever para este Especial, que pudesse transmitir uma mensagem sem ser hipócrita comigo e enganador de leitores (em particular, os "apressados" que iriam pesquisar sobre o maior escritor brasileiro na Internet e se deparariam com o meu texto, citando-o em uma alguma ocasião, causando quem sabe alguma infeliz conseqüência).

Já adianto e explico: não sou especialista nos romances realistas machadianos. Admiro sua linguagem, aprecio sua ironia, mas não posso ir além.

Porém, nobre leitor (bem Machado, não?) você me dá licença para falar sobre uma coisa bonita?

Estava eu sentado na mesa da copa, debruçado sobre livros de literatura e, nos intervalos, lendo os contos de Machado, quando minha sogra me contou, com um ar de orgulho e nostalgia, a força de vontade que seu pai teve para sair de Portugal, emigrar para o Brasil e proporcionar uma vida confortável em Santos para sua família. Narrou-me que seu pai acordava às três horas da manhã e só fazia a primeira refeição ao meio-dia — durante esse tempo trabalhava duro em uma terra desconhecida. Veio por meio de uma carta de chamada enviada pelo seu irmão. Sua filha (minha sogra) nasceu no velho continente, e seu pai só foi conhecê-la quando ela tinha mais de 2 anos, mas, no final, tudo valeu a pena: teve uma família feliz e a certeza de que venceu.

Enquanto ela falava, lembrei da admiração que minha namorada tinha e tem pelo avô. Realmente algo mágico...

Lembrei, também, que eu, igualmente, sinto grande respeito e admiração pelos meus avós (eles ainda serão tema de grandes artigos). Todos fugiram da guerra e fincaram raízes em um país desconhecido, transmitindo seus hábitos e ensinamentos da melhor forma possível: com carinho!

Os imigrantes são parte importante do Brasil e trazem no sangue histórias de otimismo, dedicação e vontade de vencer.

Estes heróis construíram o Brasil e enriqueceram a nossa cultura. Perpetraram, subconscientemente, uma sociedade mais culta e receptiva, para novas idéias e crenças.

Mas o que tem tudo isso a ver com Machado de Assis?

Machado é uma vertente da mesma moeda. Nasceu pobre, fruto de um ex-escravo e uma lavadeira açoriana. Ficou órfão muito cedo e sofria, já na infância, de epilepsia e gaguez.

Ora, tudo isso já é mais do que razão para, pelos deterministas, chegar-se à conclusão que ou viraria "ladrão" ou "office-boy" nos tempos modernos. Talvez, um suicídio. Quem diria que se transformaria em um dos maiores ícones da literatura brasileira?

Ele, como os imigrantes, serve-nos como exemplo, orgulho e modelo a ser seguido. Raça e determinação! Dedicação e oportunismo! São essas as palavras que melhor combinam com o perfil dos verdadeiros heróis brasileiros.

Se tivéssemos uma nova onda de imigrantes e uma nova onda de "Machados", hoje, com certeza, teríamos muito mais esperança!

Daniel Bushatsky
10/6/2008 às 16h56

 

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