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Domingo, 22/6/2008
Juventude, de J.M. Coetzee
Rafael Rodrigues

Se não me engano, foi em 2003 que li Juventude, romance do escritor J.M. Coetzee. O livro, um romance de formação (o famoso bildungsroman), é um dos melhores que li, e dos que mais me fizeram passar dias e dias pensando na vida.

Conta parte da trajetória de John, um jovem matemático que deseja ser escritor. Autobiográfico (J.M. Coetzee = John Maxwell Coetzee), Juventude é o segundo volume de uma trilogia chamada "Cenas da vida na província", iniciada com Boyhood, publicado aqui com o título de Cenas de uma vida. O terceiro título, que encerrará a trilogia, não foi publicado ainda (não que eu saiba). Espero que Coetzee ao menos já o tenha escrito. Será uma pena ele não encerrar esse projeto.

Não posso falar muito sobre a história em si, até por não lembrar dos detalhes, e nem é essa a minha intenção, agora. A intenção é apenas despertar o interesse em algum curioso.

Mas curiosa mesmo é minha história com Juventude. Comprei o livro em 2003, num supermercado aqui da cidade, por um preço salgado. Emprestei o livro a uma amiga da faculdade faz uns três anos, e até hoje ela não me devolveu. Perdemos o contato e tal, vocês sabem como é. Já perdi as esperanças de tê-lo de volta. Dia desses, ao ver o último exemplar do livro (creio que só foram colocados à venda uns dois ou três, incluindo aí o que eu havia comprado em 2003) no mesmo supermercado, tive a idéia de consultar o preço. No visor, a bela notícia: R$ 14,00. Não pensei duas vezes e comprei, pela segunda vez, o livro.

Lerei novamente Juventude, em breve. Será que o efeito da leitura vai ser o mesmo? Veremos.

Abaixo, um trecho do livro.

"Pessoas normais acham difícil serem más. Pessoas normais, quando sentem a maldade se acender dentro delas, bebem, falam palavrões, cometem violência. A maldade é como uma febre para elas: querem arrancá-la do corpo, querem voltar a ser normais. Mas os artistas têm de viver com sua febre, seja qual for a natureza dela, boa ou má. A febre é que os faz artistas, a febre tem de ser mantida viva. Por isso é que os artistas nunca podem estar inteiramente presentes no mundo: um olho tem de estar sempre voltado para dentro. Quanto às mulheres que se juntam em torno de artistas, elas não merecem plena confiança. Pois, assim como o espírito do artista é ao mesmo tempo chama e febre, também a mulher que quer ser lambida por línguas de fogo fará ao mesmo tempo todo o possível para estancar a febre e puxar o artista para o chão comum. Portanto, é preciso resistir às mulheres, mesmo quando amadas. Não se pode permitir que cheguem tão perto da chama a ponto de esfriá-la."

Rafael Rodrigues
22/6/2008 às 22h44

 

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