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Sexta-feira, 18/7/2008
A verdade na Flip
Daniel Bushatsky

Para mim, a Flip 2008 foi norteada pela palavra verdade. Não sei se foi intencional ou não, mas foi essa palavra que prevaleceu nas entrelinhas das histórias contadas pelos autores.

A primeira triste verdade é que ninguém se importa muito com Machado de Assis. O objetivo da festa era homenageá-lo, mas, infelizmente, ele não foi muito lembrado.

A segunda verdade é que ninguém agüenta mais os autores lendo parte de sua obra durante a mesa, é insuportável. Espero que na próxima Flip isso acabe, ou pelo menos diminua.

Mas, a maior verdade de todas estava no plano metafísico. Aprendi que ser verdadeiro é mais do que questão de ética, é fundamental para sobreviver em alguns lugares. Explico:

David Sedaris, um dos maiores humoristas norte-americanos, contou que suas crônicas são classificadas pela revista New Yorker como não-ficção. Dessa forma, todas as referências feitas pelos seus textos, das maiores às mais insignificantes, são checadas para garantir que mesmo a piada deve ser 100% verídica. Paradoxal, né?

Duas horas antes, Guilherme Fiúza e Misha Glenny comentaram que a visão ocidental sobre drogas deveria mudar. É antiga e retrograda! Fiúza explicou que o discurso de "não compre drogas porque você está sustentando o narcotráfico" não possui força retórica para conscientizar 95% da população. Glenny arrematou quase que fazendo uma prece: "por favor, vamos ter uma conversa adulta sobre drogas".

Para mim, o que ambos pediam era que colocássemos a hipocrisia de lado e discutíssemos nossos assuntos pautados na verdade e não em mitos sociológicos ininteligíveis.

Na verdade, os dois jornalistas acima pregaram o mesmo que David Sedaris e sua New Yorker: que o mundo seria melhor caso a verdade prevalecesse.

Talvez isso a cultura norte-americana possa nos ensinar: a quinta emenda, da Constituição Federal americana, permite ao Réu não falar, mas, caso fale, presumir-se-á que estará falando a verdade, sob pena de perjúrio.

David Sedaris dá outro exemplo: nos EUA não é vergonha ser rico e ser sincero. Não é falta de educação perguntar quanto você ganha ou quanto custa seu relógio.

Pare um pouco e pense. Imagine um mundo onde a verdade sempre dominasse. Talvez isso eliminasse o tão famigerado jeitinho brasileiro, mas com certeza dormiríamos mais tranqüilos. A prioridade seria pautada pela verdade mais chocante, pela real urgência.

Nesse sentido e considerando a utopia que escrevo acima, com os dedos cruzados para poder mentir que prego: conte você também piadas 100% verdadeiras!

Daniel Bushatsky
18/7/2008 às 19h59

 

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