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Terça-feira, 19/11/2002
adrian arroba digestivo
Julio Daio Borges

O melhor modelo mental para a rede não é a clássica imagem do debate/polílogo, mas o da pichação. É a mesma lógica do efêmero, da comunicação anônima e da libertação pelo anonimato que governa a internet amadora, da publicação do usuário (enquanto é claro que na rede comercial e acadêmica vc enxerga os paralelos típicos, da discussão, do grande mercado e da biblioteca), aquela que vem sendo festejada e sobre a qual se escrevem idiotices e reflexões. Um escreve seu nome ou apelido com aqueles esquisitos caracteres quase ilegíveis (ou então, numa carteira de sala de aula, + o ano) numa tentativa de dizer "Eu existo, eu estou - ou eu estive - aqui"; outro faz uma página pessoal na geocities. Um picha "Fora fhc-fmi" e uma série de calúnias e frases de efeito contra o governo, a rede globo, os estados unidos, o capitalismo ou os órgãos internacionais; outro escreve ou passa adiante correntes de e-mail com o mesmo conteúdo. Até mesmo o graffiti com pretensões artísticas encontra seu duplo on-line nas web-installations, com uma proposta estética assustadoramente próxima, considerando os diferentes meios que usam. Pichações de banheiro e crianças fazendo cybersexo, o spam (agora deixando a comparação menos rígida) e a poluição visual publicitária. Não é de todo impressionante que o slogan (ou meme*, para os marqueteiros q tem medo das palavras) mais conhecido da rede, o lamentável "All your base are belong to us", foi chamar atenção no mundo real justamente quando flagraram alguém o pichando, pq é justamente aí onde a película entre os dois mundos é mais tênue. E é perfeitamente natural não gostar de blogs pensantes, como tantos dizem, pq blogs não são feitos para ler, ou, se tanto, são para ser lidos como um anúncio, uma frase rabiscada na parede ou algo afixado no mural no trabalho. Blogs pensantes, no sentido de blogs q realmente comunicam idéias, c/ tudo q isso implica (e não q simplesmente utilizam as riquezas do meio eletrônico para dar um verniz de confiabilidade ao que é no fundo uma pichação), são coisas tão aberrantes quanto escrever uma demonstração matemática na parede de um banheiro ou colar uma reprodução de Goya no mural de um supermercado.

Adrian Leverkuhn, o blogueiro-filósofo, agora também Colunista do Digestivo Cultural

Julio Daio Borges
19/11/2002 às 10h05

 

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