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Quinta-feira, 28/8/2008
Pernas, pra que te quero?
Guga Schultze

Tivemos lá em casa um whippet, um cãozinho que é uma miniatura perfeita do grande greyhound, aquele galgo de corridas. Seu nome era Ninute, que é uma palavra do vocabulário da minha mãe, que ela usa quando vê bebês bonitinhos ou passarinhos pequeninos, por exemplo.

Ninute era, antes de mais nada, um cãozinho adorável. Ou melhor, eu adorava o bicho. Porque ele era trapalhão, inquieto, completamente infantil e dócil. Suas expressões de alegria eram coisas que só um whippet pode fazer, como pular de um sofá ao outro, dentro da sala.

É preciso notar que os sofás estavam distantes uns três metros um do outro. Ninute voava entre um e outro, quicando como uma bola de pingue-pongue batendo entre paredes. Quem viu se lembrará disso.

Certa vez estava eu chegando da rua e, no portão da nossa casa, vi que Ninute tinha "fugido". Eram pequenas fugas que ele praticava de vez em quando. É necessário dizer que nossa casa ficava no alto de uma rampa. A rua era uma rampa enorme, com mais de cem metros, do nosso portão até a esquina de baixo. Lá estava o Ninute, cheirando a esquina.

Coincidentemente eu estava segurando nas mãos o cronômetro que minha mãe usava para marcar o tempo. Ela praticava o método de Cooper. Ambos, o cronômetro e o método, heranças de meu avô.

Eu tinha ido, a pé, buscar o cronômetro que estava no conserto e voltei com ele nas mãos, cronometrando tudo. Cheguei no portão e vi o Ninute lá na esquina de baixo. Gritei: "Ninute!" e ele parou imediatamente e levantou, alegre, a cabeça, me reconhecendo. Disparou ladeira acima e eu, claro, cronometrei: 5,6 segundos até ele passar como uma bala pelo portão aberto, rodar derrapando pela grama, voltar pro meu lado, girar de novo e entrar outra vez, e fazer tudo outra e mais outra vez. Ele era assim, de uma alegria contagiante.

Sempre é bom lembrar que a rua era uma rampa forte, e que a esquina ficava uns cem metros abaixo. Fazendo as contas, na subida, Ninute passou por mim na velocidade aproximada de 64 quilômetros por hora. Um whippet é capaz disso, creiam.

Isso porque eu estava revendo a corrida que deu a Usain Bolt a medalha de ouro, nos cem metros rasos (e planos), nas olimpíadas recentes em Beijing e comparei seus meros 37,1 quilômetros por hora, de média, com a performance do meu cãozinho.

O ser humano tem um cérebro enorme em relação a outros bichos e uma das características desse cérebro é um excesso de felicitações por proezas mixurucas desse mesmo ser humano. Digo isso levando-se em conta todo o reino animal. Entre os seres humanos, tá bem, é uma proeza essa do Bolt.

Mas eu não corro a pé cem metros, nem quero fazer isso. Quando preciso me locomover mais rapido, normalmente piso no acelerador. E nem um guepardo, com seus 110 quilômetros por hora me acompanha, meu. E, como dizia a Xuxa, beijing, beijing, tchau, tchau.

Guga Schultze
28/8/2008 às 17h12

 

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