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Quinta-feira, 22/1/2009
Na Campus Party 2009 II
Julio Daio Borges


Qua, 21hs. ― Ainda estou "pilhado" terminada a mesa que mediei com Juliano Spyer, Rogério Bonfim (da VirtualNet) e Soninha Francine. A última, que assumiu a subprefeitura da Lapa ontem, chegou atrasada, mas não prejudicou, em nada, o andamento dos trabalhos. Nossa mesa era sobre "Mídias Sociais nas Eleições", dentro do espaço Campus Blog, na Campus Party 2009. Continuo aqui ― no meio da balbúrdia ― e posso escrever ainda um relatório porque serviram Red Bull na mesa, e vai ser difícil dormir depois de "ganhar aaasas"... "E este 'merchan' aqui, hein?", foi o comentário da mesma Soninha sobre a bebida, imediatamente antes de abrir sua lata... O Interney me cumprimentou por ter mediado a mesa mais longa do Campus Blog. Começou, pontualmente, às 17h50; era para terminar, oficialmente, por volta das 19; mas, com o delay da Soninha, excepcionalmente fechamos às 20 horas.

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Em seguida, o Inagaki me chamou para gravar alguma coisa (que eu não sei o que é) no estande da TV Cultura. Cheguei lá en retard ― corri o máximo que pude, Ina ― e ele estava com o Merigo, o Ian Black, e o Manoel do BlogBlogs, entre outros, gravando, possivelmente, um depoimento para o já famoso documentário sobre blogs... Como eles estavam se apresentando, um a um, concluí que iria demorar e voltei pra cá. Estou próximo à equipe da Pólvora Comunicação, agência do Ina e do Edney. Concluo que a Campus Party tem, pelo menos, três turnos: manhã, tarde e noite. A galera na minha frente, do meu lado e atrás não parece que está cronologicamente no fim do dia, como eu, mas apenas no começo da noite... Ontem, o Wagner Cocadaboa Martins me contou que grava, com o saudoso Chico Barney (comprador de cerveja lá na Casa Mário de Andrade), personagens esdrúxulos da Campus Party, a partir da uma da manhã. "Só à uma da manhã, porque a idéia, justamente, é registrar quem ainda circula nesse horário". Parece que gravaram um índio; sim, os há na Campus Party. Agora há pouco estavam numa rodinha, perto da Agência Click, dançando ou cantando, o que me lembrou uma roda de capoeira, mas tudo bem.

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O Gilberto Gil também estava por lá. Antes dos índios, diga-se de passagem. Assistia a uma roda de um pessoal que parecia dos pontos-de-cultura, que criou em sua gestão no MinC. Confesso que me impressionou o fato de ele estar aqui, na Campus Party, porque já não é mais ministro... Seu interesse por internet é, realmente, genuíno? Depois me ocorreu, é claro, que seu último disco tem alguma relação com a internet na temática ― não parei para ouvir, contudo ―, mas aí é outra história... Foi a maior "celebridade" que avistei por estas plagas, fora a Soninha, talvez. Mas o pessoal de internet ― comme il fault ― parece não ligar muito. "Ah, o Gilberto Gil", alguém observou, quase num muxoxo nerd. Mesmo a Soninha, que eu achei que ia atrair uma pequena multidão, atraiu, efetivamente, quem gostaria de ouvi-la ― e não eram muitas pessoas. A mesa dos podcasts, com os Jovens Nerds, e a mesa sobre publicidade em blogs, hoje à tarde, estavam mais cheias. Acho saudável esse "desinteresse" pelas celebridades. É ― dizem ― a tal da "horizontalidade" da WWW.

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À mesa, pois. (Está tudo embaralhado, ainda, na minha cabeça, perdoem a(s) delonga(s)...) Aproveitamos bastante o Spyer e o Bonfim, antes da Soninha desembarcar, porque era, praticamente, óbvio que ela monopolizaria as atenções (como, de fato, monopolizou). Tivemos quase uma hora para falar da experiência do Spyer com mídias sociais na campanha do Kassab e da experiência do Bonfim criando ferramentas para o todo-poderoso Google. O Spyer me pareceu mais politizado e começou descendo o sarrafo na lei eleitoral. Já o Bonfim é um grande realizador em ambientes como o Orkut e focalizou suas ações nas comunidades. Eu queria que o Spyer falasse mais dos projetos Leia Livro e Radar Cultura, que, igualmente, coordenou, mas ele preferiu focar nas eleições propriamente ditas (e com razão). E eu queria que o Bonfim desse uma dica de como pegou o cliente mais desejado do planeta, mas ele preferiu abordar as complicações da legislação (que obrigaram sua empresa a ir até o congresso, por exemplo). Gostei de conhecê-los pessoalmente. O Spyer tem uma larguíssima experiência ― e, inclusive, conhece bastante o Digestivo ― e o Bonfim é de se admirar como empreendedor.

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A Soninha, porém, desestabilizou tudo. Eu senti que ela estava chegando porque começaram a aparecer luzes na minha cara e câmeras de televisão. Logo, ela estava do lado da mesa, com seu traje de motoboy (é verdade, ela veio mesmo de moto) e eu a convidei a participar conosco. Não fui de todo cavalheiro e antes que ela pudesse se acomodar ― sem o casacão (ia dizer "jaco") ― tasquei-lhe uma pergunta. (A novidade aqui, hoje, são os megafones, para ajudar a poluir o som...) A Soninha é muito desenvolta e, apesar de respeitar a minha mediação (obrigado, Soninha), poderia, facilmente, ter engatado uma primeira ― como o Noblat, ontem ― e ninguém a interromperia, até amanhã. Fora o que estava no menu, procurei trazer a política, em si, para a discussão, perguntando a ela sobre as "esperanças" para o Obama e as "expectativas" para as eleições brasileiras em 2010.

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Sobre o Obama, Soninha disse que ele tem tudo para nos decepcionar, porque é quase impossível, no caso dele, não decepcionar seus "eleitores" (no mundo tudo). Não por que seja culpa dele, Obama, mas porque sua posição ― de Presidente dos United States ―, em algum momento, obriga-o a dizer "não". Soninha falou ainda do slogan "Yes We Can", que foi uma grande sacada, já que poderia, muito bem, ser "Yes He Can" ("Ele" em vez de "Nós"). Eu lembrei que o tal do "We" evoca, justamente, a constituição americana ― "We the People..." ― mas não obtive eco na minha observação. Sobre as eleições do ano que vem, Soninha não se mostrou nada melindrada e apostou na confirmação do Serra, na oposição, e de algum outro candidato ― que pode não ser a Dilma ―, pelo lado do governo. Perguntei sobre o Aécio, mas Soninha não crê que ele seja um "nome", na disputa majoritária, talvez no senado... Enfim, a mesa tocou outros pontos, mas, para não ficar só nisso, é bem provável que eu disponibilize o áudio. E talvez entreviste a Soninha, numa próxima oportunidade. Ela se mostrou animada com a possibilidade. Legal.

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E eu não poderia deixar de abordar a relação "internet e obesidade" (ou sedentarismo), com a qual fiz piada no Twitter ontem, mas que me parece séria pacas. Computador engorda, mas ninguém fala. Computador em excesso leva à obesidade mórbida. Sem brincadeira, se alguma academia de ginástica organizasse uma ação na Campus Party, seria muito eficiente, porque todos estão precisando. Mesmo. Quase todo mundo me pareceu mais magro na foto que disponibiliza na WWW. E eu não me excluo. Mais gordo e mais velho. (E não só eu!) Computador envelhece, rapazes. (Sempre penso no Steve Jobs. Tudo bem que ele sofreu, ou ainda sofre, um câncer...) Enfim, "campuseiros" e geeks em geral, cuidem-se. Ninguém quer vê-los com problemas de colesterol, de pressão ou com diabetes nos próximos anos. (Isto não é uma maldição; é um alerta.)

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Queria falar um pouco, também, da mesa "Uso de mídias sociais na publicidade". Foi uma das melhores. Os publicitários da iThink, da LiveAD, da Bullet e da Espalhe soltaram várias pérolas. A seguir, algumas. "O Estadão tem uma página sobre marketing por semana; se eu quiser ler sobre o assunto, não vou esperar todo esse tempo, vou acessar o blog do Merigo, que escreve todo dia". "Não existem mais mídias principais hoje, todas as mídias são coadjuvantes". "O grande anunciante se ilude [dando um tiro de canhão, por exemplo, na novela das oito da Globo] e achando que todo mundo vai escutar sua mensagem...". "Seu consumidor [o alvo da sua campanha] aparentemente não lê blog, não tá no Orkut? Não interessa, meu amigo: ele vai pelo Google. E ninguém escapa da indexação do Google". "Mesmo quando o consumidor fala mal [em mídias sociais], o consumidor propicia o diálogo sobre a marca". "[Se você gasta 90% da sua verba no mainstream] Se você tem de 'comprar' a pessoa para ela 'falar' de você, então você é um péssimo anunciante e seu produto deve ser uma porcaria".

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Qui, 11hs. ― Fui interrompido, no meio da minha narrativa (acima), ontem à noite, para finalmente participar da tal gravação. Era um depoimento, para o Ian Black (e não para o Inagaki), sobre uma pesquisa que ele está fazendo, a respeito das ligações entre literatura e internet. Para vocês saberem como esses campuseiros são malucos, ele se dispôs a me entrevistar quase 11 horas da noite de ontem. E fomos até a meia-noite na conversa. A Campus Party me lembrou um cassino, no bom sentido da palavra: nunca pára. É como a própria internet, aliás. Não sei se vou incluir o conteúdo da gravação aqui, nem sei se posso, mas tem um ponto, "em off", que posso abordar. Lembramos de como a blogosfera do Brasil foi "literária" há uns 5 anos e como isso se evaporou... Até a Geração 90 blogava!

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Assim como os jornalistas quiseram tomar conta da Web no início ― nos anos em torno da bolha ― os escritores brasileiros quiseram se apropriar da blogosfera tupiniquim na aurora dos anos 2000. A literatura era um issue. "Onde foram parar esses autores?", eu e o Ian nos perguntávamos, de repente, ontem, após a gravação. Evoquei, inclusive, um post do Inagaki, citado pela Daniela Castilho, em que ele dizia que não seria (nem queria ser mais) o próximo Guimarães Rosa etc. e tal. Como se desabafasse da pressão por ter de fazer literatura, que imperava na blogosfera de então... O mesmo Inagaki e o Edney, indiretamente, criaram um "monstro", concatenando a blogosfera do Brasil, como ninguém mais. Porém, a literatura passou, ou as ambições literárias e, com elas, os jovens autores...

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Antes do Ian, conversei com o mesmíssimo Inagaki, mas não sobre isso (porque la disparission da literatura não havia me ocorrido ainda ― estou um mala, com esses galicismos, não estou?). Eu e o Ina fizemos uma avaliação ― em meia hora? ― destes anos todos, de "militância", por assim dizer, na internet brasileira. Como foi duro, como foi custoso, como foi desafiador... Suddenly, ontem à noite, no meio da Campus Party, concluíamos que a ficha tinha finalmente caído. Que aquelas pessoas, em volta de nós, estavam vivendo o que passamos anos pregando. Era o nosso dream-come-true... Devíamos estar felizes? Talvez sim, mas estávamos, quase à meia-noite, trabalhando. A "troca da guarda" trouxe um monte de trabalho pra nós. Que bom! Que legal poder ― no meio da balbúrdia ― concluir isso com o grande Alexandre Inagaki...

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Hoje ― quinta-feira ― estou aqui, no escritório. (Trabalhando!) E eu sei que é brega, mas eu ia dizer que o meu coração ficou lá na Campus Party. Porque ficou, de verdade. Como eu disse, no meu primeiro relato, já fui a muitas feiras ― de músicos, bienais do livro, até festas literárias...! Gozei os nerds no primeiro dia, mas percebi, como outras vezes (na verdade), que a minha turma é, mais do que todas, a da internet e, neste instante, está lá na Campus Party... A Web brasileira, com todos os seus problemas, com tudo o que há para melhorar ainda, com todas as críticas que eu mesmo faço, é o nosso legado agora. É o que nós mesmos construímos. É a principal "obra" da nossa geração. É o que vamos deixar para as próximas... Amigos, eu me emocionei de ver. (E, agora, vocês podem chorar...) A gente se vê na Campus Party.

Para ir além
Minha cobertura da Campus Party via Twitter

Julio Daio Borges
22/1/2009 às 11h22

 

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