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Quarta-feira, 11/3/2009
Yan Pascal Tortelier na Osesp
Elisa Andrade Buzzo

Vamos direto ao ponto, deixando um pouco de lado a comoção causada pela despedida do maestro John Neschling: como foi o primeiro concerto da temporada 2009 da Osesp com o novo regente principal, o francês Yan Pascal Tortelier?

Noite de sexta-feira, dia 6 de março, falta pouco mais de meia hora para o início do concerto. No saguão da Sala São Paulo um bufê com crepes, deliciosas fogazzas de carne, vapor de sopas, café, champagne, doces e um burburinho grã-fino. A mais bela violinista da Osesp, deslumbrante em saia de tule e blusa pretas, pede para colocar na conta uma tortinha de maçã.

Já dentro da sala, nesse espaço de sonho e técnica incrustado na Estação Júlio Prestes, sento na terceira fileira da plateia e aguardo a entrada do maestro. Quando vejo o senhor de olhos claros e cabeleira completamente branca me espanto ao comparar a sua imagem divulgada na imprensa, uma foto de muitos anos atrás, provavelmente. Ele parece tão bem hoje, não compreendo o porquê desta anacronia fotográfica.

E foi assim que começou a temporada 2009 da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo: com um suspiro profundíssimo. Tortelier está agora tão perto de mim, que ouço sua respiração, todos seus grunhidos orquestrais, presencio seu olhar ora doce, ora vivaz. Sua casaca comprida lembra a roupinha de gala do Mickey e, se fosse engraçado o sublime espetáculo de ser sugado pelo som retumbante de uma orquestra ao vivo e ao lado, imaginaria as costuras cedendo ao impacto dos movimentos de seus braços.

Aplaudido de pé logo no final das Variações Enigma, Opus 36, de Edward Elgar, Tortelier estava radiante. Os músicos batiam o pé no palco. Ele é, sem dúvida, um bom regente. Mas a orquestra, digamos assim, ajudou. Tocou não só com vontade, mas com boa vontade. Na Sinfonia n.º 2 em mi menor, Opus 27, de Rachmaninov, a Osesp deu tudo de si. A plateia bateu palmas de pé, mais uma vez efusivamente e, embora pedisse bis, o trabalho daquela noite se deu por encerrado.

"Nunca uso uma partitura quando rejo minha orquestra. Um domador de leões entra na jaula com um livro sobre como domar um leão?", já havia dito o maestro grego naturalizado americano Dimitri Mitropoulos. Pois Tortelier entrou assim, de mãos limpas, mas não se encontrou diante de um leão indomável, e sim de um gatinho brincalhão a rolar seu novelo de lã... magistralmente.

Elisa Andrade Buzzo
11/3/2009 às 09h12

 

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