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Quarta-feira, 4/12/2002
Literatura e vida literária
Eduardo Carvalho

legenda

Literatura e vida literária. Diário e confissões de Álvaro Lins. Faço minha, por conveniência, a admissão de Wilson Martins: "Eu não sei até que ponto parecerá snob esta declaração, mas a verdade é que eu me encontro várias vezes no pensamento de Álvaro Lins." Como, por exemplo:

Ah, a tristeza de saber, no fim da leitura de certos livros, que nunca mais os leremos pela primeira vez, que não se repetirá jamais a sensação da primeira leitura, que não teremos renovada a felicidade de ignora-los num dia e conhecê-los no dia seguinte!

Tenho a impressão de que, ao exigir-se de um personagem de um romance que ele seja lógico, também se exige que ele seja medíocre.

Penso hoje que tudo nos escapa sem sentido e sem conseqüências. Não sabemos nada da vida; a vida foge de nós a cada dia que passa.

Eu sou talvez o crítico que, nos seus artigos, menos oferece frases de elogios para propaganda na capa dos livros...

O conceito de elite em literatura não implica qualquer privilégio odioso. Não é de uma classe; e nada tem de vitalício ou hereditário. É uma situação que se conquista e se retém pelo espírito e pelos dons pessoais.

Não sei se será um felicidade ou uma desgraça que neste mundo os pobres de espírito e os idiotas estejam sempre em maioria. E a verdade é que ninguém prescinde dessa maioria para a criação de qualquer coisa de ordem superior.

Continuo no meu propósito de não dar respostas literárias senão a escritores que tenham verdadeira categoria intelectual. Para os outros, conservo um silencio de invariável desprezo.

Artigo de Rubem Braga sobre Oswald de Andrade. Poucas vezes tenho lido coisa tão estúpida.

Vou compreendendo, com alguma tristeza, que o gosto das idéias e o exercício da literatura não me permitiram, na época própria, a sensação de ter vinte anos. Sinto-me como alguém cujo pensamento envelheceu há muito tempo.

Hoje, sem nenhum motivo, uma grande sensação de tristeza, de vazio, de inutilidade de todas as coisas e da própria vida.

Nada existe com um caráter mais parricida do que a rotina. Ela mata a realidade mesma que a criou.

Há certos inimigos que se acham sempre na minha gratidão. Como eles têm contribuído para o êxito e autoridade da minha crítica!

F. é otimista sem ser imbecil. E como isto é raro!

Horror ao sujo: no interior como no exterior das pessoas.

Eduardo Carvalho
4/12/2002 às 17h11

 

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