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Sexta-feira, 12/6/2009
A revista da Tina
Elisa Andrade Buzzo

Saiu mês passado a primeira edição da revista da Tina, depois de a personagem e sua turma aparecerem durante anos em diversas revistas e almanaques da Turma da Mônica e, recentemente, em edição especial e minissérie com histórias de aventura. Anos atrás, quem imaginaria que ela teria uma revista só dela!

Fazendo uma pequena viagem no tempo ao reler o livro As melhores histórias da Tina (Mauricio de Sousa Editora/L&PM, 1991), se pode ver que a adolescente cresceu (dando lugar agora aos personagens da Turma da Mônica Jovem), mas suas histórias continuam com o mesmo toque ingênuo daquelas do final dos anos 80 e 90. Em 2004 aparecia o encaminhamento do interesse em haver um espaço maior para a Tina, com a primeira edição do Almanaque da Turma da Tina, da Editora Globo, tendo o mesmo reestreado em 2007 pela Panini. Vale lembrar que a Tina apareceu pela primeira vez nos quadrinhos do Mauricio de Sousa em 1964, bem diferente da personagem com curvas voluptuosas que temos visto nos últimos anos: os mesmos cabelos de casca de banana, mas na altura do ombros, os óculos também eram redondos, só que enormes, camiseta e calça boca de sino, seguindo a moda hippie.

As histórias com os amigos Rolo, Pipa e Zecão vêm numa revista com formato americano e ainda traz uma sessão de entrevista ― nesta primeira edição com a Mônica Sousa, filha de Mauricio que o inspirou na criação da personagem Mônica ― feita pela Tina, agora uma estudante de jornalismo (pelo menos é o que se pressupõe, pois ela está na faculdade) e o Blog da Tina. O conteúdo deste não é muito desenvolvido, com pequenas notas sobre tecnologia, esporte, vestibular, alimentação e namoro, é claro. Estas duas páginas, em estilo de revista adolescente, destoam da personagem já num universo mais jovem e maduro.

Esse, aliás, é o paradoxo que, apesar da alegria com a chegada da revista, não deixa de me causar certo desconforto. De um lado, parece haver este desejo juvenil rumo à idade adulta, dos meandros da vida, de aventuras mais estruturadas, como a última história ("Enigma de Atlântida") ― embora eu prefira as historinhas do cotidiano; de outro lado, o roteiro das histórias permanece um tanto simples, infantil, para a complexidade que se instaura, ou poderia se instaurar, neste momento. Talvez esteja aí o cerne da questão ― os temas recorrentes da turma, amor, paquera, estudos, e mesmo as pequenas aventuras cotidianas geralmente com um toque de comicidade e leveza, deveriam a partir desta renovação das personagens alcançar um salto de complexidade?

As personagens sofreram uma repaginada em sua aparência desde as recentes edições especiais, embora Tina seja a que continue de fato mais fiel, não às suas origens, mas ao estilo da década de 90: seios fartos geralmente marcados por um belo decote em tops ou mesmo camisetas, calça jeans justinha e minissaia valorizando os quadris. Mas não teria ficado a doce Tina meio exagerada na capa da edição de lançamento (como estrela de rock provocante e sem os óculos, quase uma marca registrada da personagem)?

Já a Pipa da nova revista está bem mais magra do que aquela que víamos em seu "uniforme" de blusa branca e saia preta. Fora o rostinho maquiado. Até o Zecão aparece com um visual mais "clean", o nariz ligeiramente menor, e ainda protagonizando uma história em que praticamente se torna um metrossexual!

Mas a maior transformação é a do Rolo, que transitou de hippie à la FFLCH a galã da novelinha Malhação. Agora seu rosto não é mais quase que completamente envolto pelos cachos azuis, as orelhas estão à mostra, ganhou um nariz mais afilado, olhos menores e sombrancelhas marcantes. Vai fazer falta aquele Rolo atrapalhado, bicho-grilo, de cabelão e barba no mínimo revoltos...

Assim, as personagens acabaram perdendo seu lado caricatural, sucumbindo à estética. Ainda assim, Tina foi a mais poupada nesta plástica, restando como símbolo da indefinição que a revista traz entre a coexistência da juventude e o infantil, a internet e o papel. Daí a pouca consistência e a sensação de "quero mais", ou "falta alguma coisa". No entanto, é a ingenuidade que continua sendo o traço mais forte do Mauricio, e isso é louvável, talvez até um pouco incompreensível, mas surpreende por conseguir mantê-la até hoje.

Elisa Andrade Buzzo
12/6/2009 às 20h39

 

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