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Terça-feira, 17/12/2002
Cabeça de Francis
Julio Daio Borges

O Brasil tem uma dívida com Paulo Francis. Uma dívida que jamais será saldada. Continuaremos no vermelho. Os velhos caloteiros de sempre. Paulo Francis gerava anticorpos contra nossa patológica covardia intelectual, contra nossa cultura conchavista, contra nossa natureza servil.

Ele inibia nosso irrefreável desejo de apaziguamento, vigiando-nos o tempo todo: quando um de nós capitulava, sentia vergonha de estar sendo observado por ele. Paulo Francis conseguia fazer tudo isso com muita graça, com aquele seu ar desdenhador, aquele seu cabotinismo desavergonhado, quase teatral.

Quando ele morreu, perdemos todas as defesas. Viramos mais vulgares, mais medrosos, mais reacionários. O Brasil piorou sem ele. Empobreceu. Banalizou-se. Restaram seus livros, porém. A imensa figura de Paulo Francis acabava por obscurecê-los. Lendo-os, víamos sua cara, ouvíamos sua voz, sentíamos que ele estava logo ali, deitado em nosso sofá, comentando com sarcasmo os acontecimentos do dia. Era uma presença familiar demais para permitir um saudável distanciamento narrativo. Agora isso mudou. Paulo Francis já pode ser lido. Mais: ele deve ser lido. Cabeça de Negro é um bom começo. Aumentará sua dívida com ele.
Diogo Mainardi

Muitos talvez achassem o contrário, mas Paulo Francis tinha profundo amor pelo Brasil. Seu mau humor e irritação para com os rumos e os desrumos nacionais eram um reflexo de sua revolta pelo que o País poderia ser e não era. E o que ele temia era que não fosse nunca.
Ruy Castro

Uma vez na Bahia, vomitando duas semanas, acordei no vigésimo quinto andar do Hotel Meridien, corri pelas praias do Rio Vermelho e entrei no gélido mar furioso gritando para Nova York - come back, volte Francis, volte!
Glauber Rocha

[Todos na orela e na contracapa de Cabeça de papel e Cabeça de Negro, relançados pela W11 de Sonia Nolasco e Wagner Carelli]

Julio Daio Borges
17/12/2002 às 14h40

 

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