|
Sexta-feira, 27/11/2009 Entrevista à revista Capitu Julio Daio Borges "Nunca fui leitor assíduo da Cult, mas acho que ela foi importante por ser focada, estritamente, em literatura, no final dos anos 90. Pessoalmente, acho o Manuel da Costa Pinto muito condescendente com a literatura brasileira contemporânea, mas repeito a realização editorial dele na Cult, numa época em que não havia quase internet, sites e blogs literários etc. Depois que o Manuel saiu, até entendi a necessidade da Daisy Bregantin em ampliar o escopo da revista, mas, tirando a fase do Luís Antônio Giron, a Cult se transformou numa "prima pobre" da Bravo!, sobrando algumas entrevistas e alguns dossiês que, às vezes, são bons. (Ultimamente, acho que a Daisy têm acertado mais nos cursos.) "Li o 'Caderno2' durante praticamente toda a minha juventude. Como leitor, foi o que me formou (em termos de jornalismo cultural em papel). Mas confesso que esperava mais da volta do Daniel Piza ao Estadão, como editor-executivo, em 2000 (mesmo ano em que eu fundei o Digestivo). Tudo bem que, no final da década de 90, eu praticamente abria o 'Caderno2' só para ler o Paulo Francis, mas, mesmo assim, esperava que o Daniel implementasse a mesma revolução que ocorreu no 'Caderno Fim de Semana', da Gazeta Mercantil, durante a sua 'gestão' como editor (1996-2000). Claro que a responsabilidade não é apenas dele, mas todas as atenções, naquele momento, estavam sobre ele... "Hoje acho o 'Caderno2' e a 'Ilustrada' muito dependentes da 'agenda', dos press-releases e das assessorias de imprensa. Talvez porque as estruturas das redações de publicações em papel tenham diminuído a ponto de um 'assessor' influente emplacar mais pautas que um editor oficialmente nomeado. É preocupante, ainda, que uma única pessoa cuide de uma editoria importante quase sozinha. Por exemplo, no 'Caderno2', o Lauro Lisboa Garcia escrevendo quase tudo sobre 'música', o Luiz Carlos Merten, quase tudo sobre 'cinema' e o Ubiratan Brasil, quase tudo sobre 'livros'. Depois de algum tempo assim, é impossível um jornalista não se repetir, e o leitor se desinteressa, porque já sabe o que vai encontrar... "Eu gostaria de acrescentar - embora seja bastante recente -, a Piauí, que, a meu ver, é a grande novidade dos últimos tempos, nessa leva de 'jornalismo literário' brasileiro. Além de ser incrivelmente bem escrita, não é populista (a Piauí se dá ao luxo de não publicar uma única linha sobre a morte do Michael Jackson, por exemplo), e traz notas e reportagens culturais que não encontro em nenhum outro lugar. É, verdadeiramente, indispensável, ao contrário da Veja (que virou commodity). Quando eu não lia a Piauí, sabia que estava 'perdendo' alguma coisa. É raro sentir isso em relação a algum outro periódico do Brasil..." Trecho de uma entrevista que concedi ao Duanne Ribeiro, por e-mail. Julio Daio Borges |
|
|