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Sábado, 17/8/2002
O talento e o viço
Julio Daio Borges

Boris Schnaiderman sobre as cartas de Tchékhov, também no Estadão:

"'Ele diz: O talento e o viço vencerão tudo. O talento e o viço podem estragar muita coisa - isso é o mais certo. Além da abundância de material e de talento, é preciso algo mais, não menos importante. Em primeiro lugar, é preciso maturidade; em segundo, é indispensável ter o sentimento de liberdade individual, e esse sentimento só começou a despertar em mim há pouco tempo. Antes eu não o tinha; era substituído em sucesso por minha leviandade, negligência e desrespeito pelo trabalho.'

"'Escreva, pois, um conto sobre um jovem, filho de servo, antigo empregado numa mercearia, canto de coro, ginasiano e universitário que foi educado para respeitar a hierarquia funcional, para beijar a mão dos popes e para curvar-se às idéias alheias, que agradecia cada pedaço de pão, que foi açoitado muitas vezes, que ia às aulas sem galochas, que brigava, que torturava os animais, que gostava de almoçar na casa dos parentes ricos, que fingia diante de Deus e dos homens, sem nenhuma necessidade, simplesmente por ter consciência da própria insignificância - escreva como esse jovem espreme, gota a gota, o escravo que tem dentro de si, e como ele, ao acordar numa bela manhã, sente que em suas veias já não corre o sangue de um servo, mas o de um verdadeiro homem...'"

Julio Daio Borges
17/8/2002 às 14h34

 

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