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Quinta-feira, 12/5/2011
Rabiscaria e o crowdfunding
Yuri Vieira


Mateus Dutra e Carlos Filho. (Foto: Anne Vilela.)

Conversar com gente culta é sempre bastante profícuo. Perguntei a um amigo, tradutor, se ele já conhecia o sistema de financiamento colaborativo ou crowdfunding. Eu estava pensando, entre outras novidades internéticas, no Catarse.me, no Multidão e no Movere.me. E então ele me respondeu que Alexander Pope (1688-1744) havia bancado sua tradução da Ilíada e da Odisséia através de crowdfunding: ia publicando os capítulos aos poucos, conforme fosse recebendo o dinheiro dos assinantes. Carácoles!, pensei com meus botões. Vivendo, lendo e aprendendo. Embora a internet tenha estendido e acelerado os tentáculos da comunicação humana, ela não está por trás de todas as técnicas da interatividade. O que me leva a pensar que muitas futuras invenções de sucesso encontram-se, neste momento, submersas em livros antigos de alguma biblioteca empoeirada. Alexander Pope explica.

Mas o crowdfunding continua sendo uma novidade para mim. Segunda-feira, aliás, estive no happy hour dos designers da Rabiscaria, primeiro projeto brasileiro a ser custeado via crowdfunding. Os caras conseguiram um financiamento de R$ 23.095,00 e, claro, decidiram comemorar tal feito num bar de Goiânia. Não é para menos: num país onde toda iniciativa empresarial é emperrada por mil e um impostos e leis trabalhistas, e onde as leis de incentivo não passam de labirintos burocráticos a financiar os mesmos de sempre, a possibilidade de conseguir ajuda direta e voluntária da sociedade não deixa de ser uma luz no fim do túnel. Mateus Dutra, designer (na foto acima, com Carlos Filho), comentou comigo exatamente esse problema: beira o impossível manter uma empresa de design na atual conjuntura. Se você é pequeno, se está começando, dificilmente conseguirá decolar com tantas dificuldades impostas pelo Estado, como se já não bastassem os tropeços da vida mesma. O trabalho em forma de cooperativa acaba sendo a saída mais viável. E, para fazê-lo caminhar, ao Rabiscaria só faltava o financiamento, obtido ― vou repetir mais uma vez ― por crowdfunding. E a comemoração foi dentro do espírito do projeto: houve sorteio de produtos, entregues em embalagens ilustradas ali mesmo. No crowdfunding é assim: quem banca recebe algo em câmbio, há feedback.

Por enquanto, cerca de uma dezena de projetos já foi financiada por crowdfunding no Brasil. Espero que nossa elite financeira, além dos poucos que ainda conseguem poupar algum dinheiro por aqui, não deixem de prestigiar os projetos que lhe agradem. É uma iniciativa que pode tirar muita coisa boa do buraco ― e sem a intermediação dos sábios iluminados da burocracia... (Para saber mais sobre crowdfunding, clique aqui.)

Yuri Vieira
12/5/2011 às 14h08

 

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