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Segunda-feira, 20/6/2011
Papo com Contardo Calligaris
Daniela Lima



"As ficções, no fundo, nos ensinam a romancear a vida", afirmou Contardo Calligaris, psicanalista e escritor, em entrevista recente.

Contudo, em seu segundo livro, A Mulher de Vermelho e Branco (Companhia das Letras, 2011), Contardo demonstra ter aprendido também a embriagar o romance de vida. As lembranças do autor vão se misturando a ficção e formando a renda que envolve Carlo Antonini, protagonista de seu primeiro trabalho, O Conto do Amor, que reaparece em A Mulher de Vermelho e Branco.

Enquanto Antonini se perde nos traços de duas mulheres e três cidades, Nova York São Paulo e Paris, nós nos perdemos no ranger das tábuas que dividem lucidez e loucura, realidade e ficção e outros opostos que, unidos, movem esta entrevista.

A sua experiência pessoal é a principal matéria-prima dos seus livros?
Sim, e acho que isso é o caso da imensa maioria dos autores de ficção. Escrever ficção é costurar fragmentos que, de uma maneira ou de outra, fazem parte de nossa experiência.

Muitos escritores da nova geração começaram com blogs e seus livros são assumidamente autobiográficos; em sua opinião, o que separa uma obra literária de um diário?
Um blog e um diário virtual podem ser autobiográficos e ficcionais ao mesmo tempo. Aliás, quase sempre são. A história que a gente se conta como se fosse a nossa é, em geral, apenas a ficção na qual preferimos acreditar.

A escritora Hilda Hilst, afirma: "As pessoas fantasiam muito com a loucura, ficam imaginando só um lado poético, genial de ser louco. Mas não é só isso. Padecer de loucura é terrivelmente doloroso. E não sei até onde a loucura garante a boa qualidade de sensibilidade ou percepção de alguém." O que você pensa sobre a glamorização da loucura?
É incrível, e é sempre assim: glamorizamos a alteridade, mas, se possível, a segregamos. Só glamoriza a loucura quem nunca se deparou com ela.

Como a psicanálise influencia no seu processo de criação?
O protagonista do livro é terapeuta e talvez psicanalista, mas não tem nada de teórico nisso. Não uso a psicanálise no que escrevo, embora ela seja parte substancial do que sou.

Você se considera um personagem de si mesmo?
Considero que a vida de cada um deveria ser uma boa história, uma história que vale a pena ser contada. E vivo mesmo minha vida como uma aventura. Agora, ser um personagem não me agradaria, porque me sentiria um pouco previsível. Prefiro me surpreender de vez em quando.

Para ir além





Daniela Lima
20/6/2011 às 08h04

 

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