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Segunda-feira, 4/4/2005
À procura de barranco
Julio Daio Borges

Eu sou de natureza cínica pero bonachã. Quer dizer, sou um camarada que não acredita quase nada nas boas intenções dos outros, mas também não cria muito caso com isso, ressalvadas certas circunstâncias de caráter sentimental. Sou adepto do cinismo ameno. Das brisas cínicas, se as houver. Da sombra cínica. Se uma mulher de cabelos arrepiados chegar perto de mim gritando que quer salvar o mundo, primeiro digo:

- Ãrrã.

E depois:

- Senta aqui, minha filha, e me explica essa besteirada toda.

E vou bebericando alguma coisinha, ouvindo e achando graça.

Eu acho muita graça nas coisas. E acho muitas coisas engraçadas. É por isso, aliás, que não gosto da palavra "diversão". A diversão, me parece, dá trabalho, é pró-ativa: você, para se divertir, tem que fazer coisas, praticar atos, elaborar gestos. Gente que faz rapéu ou dança a noite inteira diz que se diverte. Fica toda quebrada, mas sai falando:

- Foi muuuuuito divertido.

Já a graça vem sozinha. Vem - ou vêm; são Graças, moças muito bonitas - e se instala ao meu lado, e me encanta. Então é isto, a graça é amena. E cínica. Fica sentada comigo ouvindo a moça de cabelos arrepiados que quer mudar tudo, absolutamente tudo, e pisca para mim, pensando o que eu também penso:

- Coitada, é tanta coisa pra mudar de lugar.

Orlando, no Postiçagens, que linca pra nós.

Julio Daio Borges
4/4/2005 às 10h42

 

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