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Sexta-feira, 9/9/2011
Festivais: enxurrada de filmes
Yuri Vieira

Esse trecho de um artigo de Marcelo Lyra - que trata da verdadeira enxurrada de curtas e longas-metragens nos festivais de cinema -, explica por que, após ter dirigido dois making ofs de diferentes festivais, não me preocupei em enviar meu segundo curta-metragem a nenhum festival: conheci suas entranhas abarrotadas.
A produção de curtas e longas vem crescendo exponencialmente a cada ano. Desde que integrei a comissão de seleção de curtas do Festival de Brasília, em 2003, quando o total de inscritos mal chegava a cem (mais ou menos o total da produção brasileira na época), até os mais de 500 filmes inscritos este ano no Festival de Curtas de São Paulo (de cuja comissão também fiz parte), o número de profissionais em busca de um lugar ao Sol é cada vez mais impressionante. Coloco dois fatores principais entre as causas. O barateamento das câmeras digitais em HD, de excelente qualidade, e a profusão de escolas de cinema em todo Brasil. O problema é que muitos festivais e mostras do país parecem não estar adaptados a esse crescimento cada vez mais abrupto.

Com tanta gente fazendo filmes, os festivais de cinema ganham inestimável importância principalmente para os curtas, pois são praticamente o único mercado exibidor, a única chance desses filmes terem uma platéia. O problema é que nem todos os festivais e mostras tem critérios decentes para selecionar filmes. Em geral tenta-se caprichar na escolha dos júris, que aparecem mais para o público, mas as comissões são entidades obscuras, relegadas a um segundo plano.

No mês passado o site oficial do Festival de Brasília anunciava os 12 curtas-metragens selecionados de um total de 415 inscritos. O que me assustou foi que a comissão teve apenas oito dias para selecionar os filmes. Ora, se cada curta tiver 15 minutos em média, seriam necessárias 16 horas por dia para assistir tudo. Missão impossível. Mesmo que jantassem, almoçassem e tomassem café da manhã assistindo curtas, seria humanamente impossível ter qualquer discernimento para avaliar a qualidade de um curta depois de algumas horas de sessão. Um dos membros da comissão de curtas dizia, para quem quisesse ouvir, que fizeram uma pré-triagem onde cada examinador assistia apenas três minutos de cada filme.

O mesmo vale para longas. Eram 114 inscritos e apenas oito dias para assistir. Conversei com um dos membros e ele afirmou que todos os filmes foram vistos, exceto um ou outro que não atingiram a duração mínima. Isso ofende a inteligência de qualquer pessoa que goste minimamente de matemática. Se cada longa tiver no mínimo 70 minutos (em geral tem bem mais), nem trabalhando 20 horas por dia daria. É evidente que longas e curtas foram selecionados por trechos, num flagrante desrespeito aos cineastas. Tanto em curtas quanto em longas, pode-se afirmar com toda segurança que nenhum membro da comissão de seleção assistiu integralmente todos os filmes inscritos. Provavelmente nem à metade. Não é por acaso que entre os selecionados, boa parte é de nomes conhecidos.

Isso é um escândalo, um erro grosseiro dos organizadores. Critico com tristeza, pois tenho o maior carinho pelo Festival de Brasília. E a despeito de ter vários amigos nas comissões, arrisco-me a perder todos afirmando que questiono também os integrantes das comissões de seleção, que deveriam ter pedido demissão assim que souberam que não poderiam assistir a todos os filmes na íntegra (seus nomes estão lá no site). É uma questão de respeito aos realizadores e ao público do festival. Eu pergunto: será que os membros das comissões gostariam que seus filmes fossem avaliados da mesma forma que eles fizeram?
Leia o artigo completo no site Cinequanon.

Yuri Vieira
9/9/2011 às 14h24

 

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