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Sábado, 1/12/2012
Onde andam meus amigos?
Guga Schultze

Onde andam meus amigos homens? Quero dizer, onde estão os caras que foram meus amigos de infância? Talvez eu conseguisse manter uma conversa com algum desses amigos remotos porque percebi que, atualmente, só converso - uma conversa que seja minimamente satisfatória ou mesmo medianamente inteligente - com mulheres. Encontro de vez em quando um amigo, um conhecido, e me espanto ao ver que o cara é um... sei lá, burrão. Geralmente é rígido, cheio de conceitos prontos (e nunca próprios. Se fossem conceitos próprios, ainda vá lá.) Torce bestamente pra um time qualquer, de uma forma mais ou menos fanática. Tem opiniões fechadas sobre Dilma, Lula, Obama etc. Pró ou contra, foda-se. De qualquer forma são opiniões pré-fabricadas, dessas que você vê continuamente na mídia. É a favor de gays, baleias, árvores da amazônia e camadas de ozônio - ou não. Tanto faz, evita se expor em demasia nesses assuntos. Fala de mulher - ah - como se fossem aliens de uma galáxia distante e incompreensível. Confia em técnicas de aproximação, tenta elaborar uma técnica de aproximação, caraca! Não percebe, mas é obcecado por sexo e seu humor é primário, um troço escatológico e infantil ao mesmo tempo. Acha que refinamento tem a ver com gastronomia e vem com longas explicações sobre vinhos, lagostas, e pato no tucupi que ele digeriu in loco, em algum rincão do Piauí, sei lá. Se inverto o jogo e falo que vinho e cozinha é coisa de viado, ri, aliviado (olha a redundância) e confessa que gosta mesmo é de pinga e cerveja. Um conoisseur de pinga. Lá na Bélgica tomou uma cerveja inigualável, dos monges - claro, a Bélgica é cheia de monges cervejeiros. Digo a ele que um outro amigo que também esteve lá soube que os monges se masturbam enquanto fabricam aquela droga de cerveja quente. Ele ri e fala, "porra, cê tá de sacanagem!", mas gosta da imagem dos monges punheteiros - tudo que se relaciona a sexo é absorvido por ele com uma felicidade que chega a ser constrangedora. É especialista nas "leis do mercado", no "custo-benefício" de todas as coisas, tópico cultural preferido, usa a palavra "franquia" com frequencia. Francamente. Sou velhaco, posso ser tão cretino quanto e converso com o cara numa boa; sou capaz de passar a noite bebendo com o sujeito, numa boa. Continuo amigo, como sempre e nada vai mudar. Mas em outras ocasiões - que se tornam cada vez mais interessantes com o passar do tempo - me encontro com alguma amiga, que às vezes está num grupo de amigas. Sou recebido com aquela discreta e gentil avaliação preliminar - às vezes tenho a sorte de usufruir daquela doçura que corre entre mulheres alegres - acompanho, ou tento acompanhar, a conversa veloz que rola, o ritmo doido e sincopado dos assuntos - não estou ali para opinar, fico na escuta - bebo meu uisque, de leve, me divirto e troco gentilezas esporádicas - e se uma mulher aceita uma gentileza (e gentileza não é só elogio) ela dá o troco com generosidade. Gentileza e doçura, cara, e doçura é tudo.

Guga Schultze
1/12/2012 às 16h56

 

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