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Domingo, 30/6/2013
Trio Guarneri de Praga
Eugenia Zerbini

Junho terminou com brilho na programação musical da Sociedade de Cultura Artística: no Parque do Ibirapuera, domingo (dia 23), concerto gratuito da orquestra Concertgebouw de Amsterdan, tida como a melhor do mundo. Nos dois dias que se sucederam (dias 24 - viva São João! - e 25), apresentação dessa orquestra na Sala São Paulo. Quinta-feira (dia 27), finalmente, dentro da série Cultura Artística - Música de Câmera, a apresentação do excepcional Trio Guarneri de Praga, no Teatro Cultura Artística Itaim

Formado em 1986 por três músicos checos, o nome escolhido para a formação é homenagem à família de renomados luthiers de Cremona (Itália), que nos séculos XVII e XVIII fabricaram violoncelos e violinos especialíssimos. Para alguns, pela sonoridade profunda e aveludada, superam os famosos Stradivarius. Heresia à parte: uma espécie de chocolate 70% cacau de origem. Venezuela, de preferência.

Cenek Pavlík, que também participa de escavações arqueológicas (sendo especialista em cerâmica da Idade Média), toca em um violino Guarnieri del Jesù, de 1735; o violoncelista Marek Jerie, professor da Academia de Música de Lucerna, em um violoncelo Andrea Guarneri, de 1684. Durante a conversa que antecedeu o concerto, dirigida como sempre por Gioconda Bordon, o sorridente pianista Iván Klanskı - professor nas Academias de Praga e de Lucerna - confessou ser o homem de sorte do trio, já que a cada noite pode variar de companhia. Na noite de quinta, por exemplo, o proeminente Steinway no palco.

A simpatia do bate-papo cedeu lugar à excelência de interpretação do programa, cuja peça de destaque foi o Trio nº 2 para piano, violino e violoncelo em Mi bemol Maior, Opus 100, de Franz Schubert (1797-1828). Música marcante no coração de muitos.

No Allegro, à semelhança de uma grande conversação, intuiu-se uma digressão sobre os grandes temas da vida: nascimento, morte, ilusões, dúvidas, enganos, perdas, desespero e vitórias no chiarooscuro de nossa existência. Contudo, como já lembrava Heinrich Heine (1797-1856), poeta austríaco que teve alguns de seus poemas musicados por Schubert, onde mora o perigo está também a salvação. O vigor da esperança fez-se presente. A palavra passa do violoncelo para o violino, o piano faz suas observações, a questão volta de novo para as cordas, que às vezes se contraem para depois relaxarem frente aos apartes do piano. Tudo isso para introduzir o momento de êxtase da peça: o segundo movimento, o Andante com moto.

O Andante, de beleza inusual, foi tomado emprestado pelo cinema ao menos duas vezes: por Stanley Kubrick, em Barry Lyndon (1975, baseado no livro de W. Thackeray e filmado após a polêmica do Laranja Mecânica), e por Tony Scott, em The Hunger (1983, no Brasil Fome de viver, a história dos vampiros sensuais, interpretados pela inaudita dupla Catherine Deneuve e David Bowie). Aplausos de pé para o Trio Guarneri de Praga. E, nas palavras de Hamlet, o resto é silencio. Fora ele,o Andante com moto de Schubert e as imagens de Barry Lyndon, filmadas à luz de velas(o diretor encomendou à NASA lentes especiais para isso).




Eugenia Zerbini
30/6/2013 às 19h36

 

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