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Terça-feira, 20/8/2002
Russell sobre Wittgenstein
Julio Daio Borges

fonte: Greg O'Keefe

"Um alemão desconhecido apareceu, falando pouquíssimo inglês, mas recusando-se a falar alemão. Era um homem que estudara engenharia em Charlottenburg mas que, durante o curso, adquirira, por si só, uma paixão pela filosofia da matemática e chegava agora a Cambridge com o propósito de acompanhar minhas aulas."

"Meu amigo alemão ameaça tornar-se uma inflição; ele voltou comigo após a aula e ficou discutindo até a hora do jantar - obstinado e contumaz, mas não creio que estúpido." [19/10/11]

"Meu bravio alemão apareceu e argumentou comigo após a aula. Ele veste uma armadura contra todas as investidas da razão. É realmente uma grande perda de tempo conversar com ele." [16/11/11]

* * *

"Meu alemão está hesitando entre a filosofia e a aviação; veio me perguntar hoje se eu achava que ele era um caso totalmente perdido em filosofia. Eu lhe disse que não sabia, mas que achava que não. Pedi-lhe que trouxesse alguma coisa por escrito para me ajudar a avaliar. Ele é rico, e está apaixonadamente interessado pela filosofia, mas sente que não deve dedicar sua vida a ela se não for realmente bom. Sinto uma grande responsabilidade, pois de fato não sei o que penso da sua capacidade." [27/11/11]

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"Wittgenstein foi o grande evento em minha vida - o que quer que possa sair disso. Eu o adoro e sinto que irá resolver os problemas que estou velho demais para resolver - toda espécie de problemas que foram levantados pelo meu trabalho, mas que exigem uma mente fresca e o vigor da juventude. Ele é o jovem que eu poderia esperar."

"Wittgenstein é terrivelmente persistente, monopoliza a palavra e, no geral, é considerado um chato. Como eu realmente gosto muito dele, consegui insinuar essas coisas sem ofendê-lo."

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"Sua disposição é a de um artista, intuitiva e temperamental. Diz que todas as manhãs começa seu trabalho com esperança, e todas as noites o encerra em desespero - sente o mesmo tipo de raiva que eu quando não consegue entender as coisas." [16/3/12]

"Sinto a mais perfeita simpatia intelectual por ele - a mesma paixão e veemência, a mesma sensação de que é preciso compreender ou perecer, as súbitas piadas desfazendo a assustadora tensão do pensamento." [17/3/12]

* * *

"Ninguém poderia ser mais sincero do que Wittgenstein, ou mais destituído da falsa polidez que interfere com a verdade; ele deixa transparecer seus sentimentos e afeições, e isso enternece o coração." [10/3/12]

"Ele abomina a ética e a moral em geral; é deliberadamente uma criatura de impulso e acha que se deve ser assim." [17/3/12]

"Ele é capaz de fazer qualquer tipo de coisa por paixão; mas jamais cometera a sangue frio algum tipo de imoralidade. Sua posição é bastante livre; princípios e coisas do gênero parecem-lhe uma insensatez, pois seus impulsos são fortes e nunca vergonhosos."

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"Tem a sensibilidade do artista ao achar que deve produzir algo perfeito ou então absolutamente nada. Eu lhe expliquei que não iria se formar nem conseguiria lecionar se não aprendesse a escrever coisas imperfeitas - o que só o deixou mais furioso. Por fim, implorou-me que eu não desistisse dele mesmo que houvesse me desapontado."

(Trechos extraídos das cartas de Bertrand Russel a Ottoline Morrell, transcritos do livro Wittgenstein - o dever do gênio, de Ray Monk, Companhia das Letras, 1995, 572 págs.)

Julio Daio Borges
20/8/2002 às 15h25

 

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