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Domingo, 18/8/2013
O compositor e a imperatriz
Eugenia Zerbini

para d. Mariinha Fleury,
no mês do aniversário

Em O Sol se põe em São Paulo (Cia das Letras,2007), Bernardo de Carvalho escreve que inverno é uma estação que não existe nessa cidade. O domingo de hoje, com temperaturas siberianas, contradisse a afirmação. Sair na tarde gélida valeu a pena para os que se dirigiram à apresentação da Orquestra de Câmara da OSESP, sob a regência exímia de Cláudio Cruz, na Sala São Paulo. Tiveram a honra de presenciar a estréia mundial do concerto nš 2 para piano em Dó Maior, composto em 1785 por Leopold Kozeluch (1747-1818).

Por dois séculos os manuscritos da peça, dedicada pelo autor à imperatriz Maria Leopoldina (quando esta ainda era arquiduquesa e sua aluna em Viena) repousaram nas prateleiras da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Descoberta na década de 1950, pela fundadora da Divisão de Música daquela instituição, junto com os originais de mais dois concertos, a recuperação dessa peça histórica é atribuída ao trabalho de Sonia Rubinsky, brilhante pianista paulista que, nessa tarde de domingo, respondeu por sua execução.

Kozeluch, nascido na Boêmia, na época parte do império austro-húngaro, sucedeu a Mozart no cargo de Compositor da Câmara Imperial. Foi um prolífico compositor: óperas, oratóros, obras sinfônicas e de câmera. Assumiu, também, a educação musical das filhas do imperador da Áustria, Francisco I. Entre elas, as arquiduquesas Maria Luísa, futura imperatriz dos franceses, mulher de Napoleão, e Leopoldina, futura imperatriz do Brasil, mulher de d. Pedro I. Por sinal, através de carta, esta última reclamava àquela primeira que o professor de piano era muito exigente, apertando-lhe os dedos com força, a qualquer erro.

Leopoldina trouxe para o Brasil, em 1817, um sem número de partituras de Salieri, Hümmel, Clementi, Neukomm, entre outros, além das primeiras edições abrangentes de compositores como Haydn, Mozart e Beethoven. Coincidentemente, seu marido, o então príncipe da Beira, Pedro de Bragança, posteriormente à Independência, imperador Pedro I, entre outros atributos, também tinha o dom musical: aluno, no Rio de Janeiro, do padre José Mauricio Garcia e de Neukomm, além do hino da Independência, compôs uma missa cantada, sinfonias e um Te Deum. Entre outros instrumentos, tocava piano, cravo, violino, flauta e violão. Toda essa música, porém, não assegurou uma união feliz entre o casal imperial, como todos sabem. Mas a platéia da sala São Paulo experimentou momentos de prazer durante o concerto desta tarde fria.

E nem só dos clássicos vivem os ouvintes: Rubinsky, como extra, presenteou o auditório com uma peça romântica,um estudo de Chopin (opus 10, nš 6, aquele sempre tão apaixonadamente tocado por aquela que consta na dedicatória). Encore, na interpretação de Maurizio Pollini.




Eugenia Zerbini
18/8/2013 às 23h02

 

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