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Quarta-feira, 12/2/2014
O humanista Edward Said
Celso A. Uequed Pitol

"Humanismo e crítica democrática" foi o último livro concluído pelo crítico e ensaísta palestino Edward Said antes de sua morte, em 2003. De todos os trabalhos do autor com os quais tive contato creio ser esta a obra mais representativa dos fundamentos filosóficos e culturais sobre os quais se assentam seus principais livros, como os celebrados "Orientalismo" e "Cultura e Imperialismo".

Lidas à luz de "Humanismo e crítica democrática", as demais obras de Said revelam-se não como aquelas meras denúncias raivosas contra a opressão e a exploração colonial que os seus adversários mal intencionados tentavam fazer crer que são, mas sim como alertas contra o fechamento progressivo da mente dos países ocidentais para as demais produções do espírito humano.

Said propõe aqui recuperar a velha noção de humanismo, tão bem representada pela conhecida frase de Terêncio - "sou homem e nada de humano me é estranho" - sem a qual a aventura intelectual de cada um estará irremediavelmente limitada por preconceitos e barreiras inventadas.

Emerge, portanto, da leitura destes cinco ensaios - do quais pelo menos dois, "O regresso à filologia" e "Introdução a 'Mimesis', de Erich Auerbach", merecem o título de magistrais - um Said que mais parece um Julien Benda (que foi alvo de críticas suas) do que um Homi Babbha (que é um discípulo confesso seu), um "homme de lettres" apologista do universalismo, crente na dignidade e no valor essencial de todos os povos, inimigo dos extremismos e exclusivismos e movido por uma quase comovente confiança na cultura e no homem.

Celso A. Uequed Pitol
12/2/2014 às 10h46

 

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