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Sexta-feira, 10/10/2014
Quando não existe diálogo...
Julio Daio Borges

...não existe democracia plena

"Lógos" quer dizer "discurso", em grego.

Platão acreditava que cada coisa tinha o seu próprio "discurso", o seu "lógos". Esse "discurso", sobre uma determinada coisa, permitia que ela fosse conhecida, estudada, compreendida.

Assim, "biologia" é o "discurso" sobre a vida ("bio" é latim). E a "lógica" é o estudo sobre o próprio discurso, sobre como o discurso funciona.

É o começo da filosofia. E do conhecimento humano.

Platão acreditava, também, no diálogo. O discurso que se construía "a dois", digamos assim.

Tese, antítese e síntese. Um processo que depois se convencionou chamar de "dialética".

A maioria dos famosos Diálogos de Platão funciona desse jeito. Com Sócrates, o mestre de Platão, dialogando com um ou mais personagens. Ou até discursando praticamente sozinho.

Utilizando essa "ferramenta", Platão escreveu divinamente sobre o amor, a alma, a beleza, a justiça, a virtude, entre tantos outros temas, que destrinchou como ninguém, deslumbrando a humanidade através dos séculos.

Platão acreditava no diálogo, portanto. E acreditava que o diálogo fosse uma ferramenta na construção do conhecimento.

Todo esse preâmbulo para aterrissar nas eleições brasileiras...

Existe um lado que apresenta fatos, oferece dados e coloca argumentos. Mas existe outro lado que atropela os fatos, distorce os dados e despreza os argumentos (até porque não tem).

Se queremos avançar, como sociedade, devemos ficar do lado de quem se predispõe ao debate, com um mínimo de honestidade intelectual, ou de quem deseja impor sua propaganda, reconhecidamente falsa, na tentativa de manipular a audiência?

Como partido, o PT vem insistindo num "modus operandi" que o tem isolado, como nunca, nesta eleição. Dos partidos que não passaram para o segundo turno, nesta eleição presidencial: ou dão seu apoio ao PSDB, ou tentam se manter "neutros". Ninguém quer apoiar o PT declaradamente.

Na própria "base aliada" do governo, não há mais consenso. Vemos governadores eleitos, que historicamente apoiariam o PT, se bandeando para o lado do candidato do PSDB. Enquanto figuras históricas, da esquerda brasileira, declaram também seu apoio ao presidenciável do PSDB. E até - quem diria - ex-membros do PT. E até - heresia suprema - ex-colaboradores de Lula no governo...

Num contexto de estagflação (inflação sem crescimento) e novos escândalos de corrupção irrompendo diariamente, o partido do governo vai se isolando do mundo exterior, numa tentativa canhestra de negar a realidade - mesmo sabendo que, com o tempo, a verdade sempre vence...

O que resta para a militância, nesse contexto? Obedecer, cegamente. Trabalhar, incessantemente. Suspender a razão, numa corrida inútil *contra* o tempo...

Com o mundo acabando para o PT, e a militância em desespero, não há espaço para o diálogo. Com esse pessoal, não dá mais para debater.

O PT e sua militância desaprenderam a viver numa democracia plena. Se é que, um dia, souberam. Pode ser que tenham fingido a maior parte do tempo...

Julio Daio Borges
10/10/2014 às 19h44

 

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