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Quarta-feira, 15/10/2014
Mestres
Julio Daio Borges

A Tia Lúcia foi minha primeira professora. Me ensinou a escrever meu nome. Dela guardo uma foto em que aparece com a cabeça cortada. Era a Mamãe querendo me fotografar. Estou na fila; de lancheira.

A Tia Neuza me ensinou a ler e a escrever. Lembro dela brava em sala de aula. Mas me trata com muito carinho até hoje. Nos reencontramos graças à internet.

A Tia Cristina nos levou para conhecer sua casa. Fomos a pé. Era perto da escola. Lembro do portão até hoje.

Dona Eudecir nos contou a história da Cinderela no último dia de aula. O meu colega José Adail aprontava mil e uma e ela soltava: "Esse menino deve ser débil mental". Ainda não era pecado.

A Tia Márcia me amava. E eu amo ela até hoje. Por onde andará? Me disse, um dia, que eu era o melhor aluno da classe. Eu não sabia o que significava. Fiquei famoso. Ganhamos, na competição de tabuada, eu e a Natasha. Esta, quando me reencontrou 30 anos depois, perguntou: "E aí, Julio, você continua bom aluno?"

A Tia Zizi me ensinou religião (ela preferia do que dizer "catecismo"). Lembro das aulas até hoje, muito vívidas. Eram episódios da Bíblia. Nunca esqueci Moisés atravessando o deserto e recebendo o maná dos céus. O filho pródigo... Jesus entrando na cidade montado num burro.

A professora Claudia, de História, era chata mas elogiou minha redação, quando escrevi sobre as primeiras expedições ao Brasil Colônia. Nesse ano, me elegeram representante de classe. Eu também não sabia o que significava. Nesse ano, pedi uma colega em namoro por carta. Deu errado.

Misturo os professores do ginásio. O professor Mário gostava muito de mim e lembro menos da matéria que ele ensinava do que das histórias que ele contava quando havia sido diretor do colégio São Luiz.

A professora Nilda, de desenho geométrico, escolheu eu e mais uns colegas para sermos seus "secretários". Corrigíamos o trabalhos dos nossos amigos, dando dicas para eles melhorarem.

Meu melhor professor de Português foi o professor Sérgio. Todo idiossincrático. Nunca esqueço de suas aulas de análise sintática. Infelizmente não tive Literatura com ele. Mudei de escola.

O professor Roberto, de Matemática, era muito querido. Fui na festa junina seguinte à minha mudança de escola, ele estava no caixa e repetia sem parar: "Volta pra cá, volta pra cá". Nos reencontramos numa Bienal do Livro, 15 ou 20 anos depois. Lembro quando escreveu a data "8/8/88" na lousa. Nesse ano, tentei ligar para uma menina de outra classe de quem eu gostava. Não deu muito certo.

Nunca esqueci as aulas do professor Celso Antunes. "Persona". Os jogos que inventava. Dava pontos para quem acompanhava o noticiário.

O professor Francisco, de Biologia, me adorava. Era espanhol. Dizia que queria ter um filho como eu. Quando deixei o cabelo crescer, me provocava: "Julio, quando você vai cortar esse cabelo de bicha?"

A professora Giselda me fez descobrir que eu era bom em redação. O professor Ari, também.

O Guidorizzi era um gênio. Eu amava seus livros. Poderia continuar estudando Cálculo indefinidamente.

Íamos em peregrinação assistir às aulas de História das Ideias do professor Nicolau. Também às de Literatura Brasileira do professor Hansen.

O professor Roberto Bolzani Filho me inspirou a prestar Filosofia quando terminei a Poli.

Na Poli, aprendi a aprender sozinho. Uma lição solitária, para o resto da vida.

Descobri, também, que mestre é qualquer pessoa capaz de nos ensinar.

Essas são os meus. Você deve ter os seus.

Agradeço a todos que me ensinaram, de um jeito ou de outro. Mesmo não sendo professores.

Julio Daio Borges
15/10/2014 às 11h15

 

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