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Segunda-feira, 20/10/2014
Uma questão de lógica
Julio Daio Borges

A gente tenta colocar argumentos, quando percebe que existe um problema anterior a esse, na discussão política atual:

As pessoas não seguem os argumentos, elas pulam direto para a conclusão (quando não tiram sua própria conclusão "do nada") e rejeitam seu raciocínio inteiro.

Você mal consegue começar, a pessoa já descartou você, carimbou um rótulo, e tentou te desmoralizar na sequência.

Assim, se você fala em inflação alta, "economia parada" e crescimento menor do que a média da América Latina, a pessoa não quer saber se esses argumentos valem, nem se são fatos comprovados, ela conclui que você vota no Aécio, é tucano, faz oposição à Dilma e aos petistas, é inimigo do povo e deve ser abatido.

Esse é um problema de lógica porque a lógica deixou de funcionar nestas eleições. Aquela velha história:

Todo homem é mortal (premissa maior). Sócrates é homem (premissa menor). Logo, Sócrates é mortal (conclusão).

Chama-se silogismo. E foi uma invenção de Aristóteles.

Assim, tente seguir estes argumentos que empregam lógica simples (e que até Aristóteles aprovaria - independente da ideologia):

A inflação é nociva para a economia de qualquer país. Este governo trouxe a inflação de volta e não consegue controlá-la. Devemos reeleger este governo?

A corrupção é rechaçada no mundo inteiro. O partido do atual governo protagonizou um dos maiores escândalos de corrupção de todos os tempos. Devemos manter esse partido no governo?

Ter instituições fortes é pré-requisito para qualquer democracia moderna. A base aliada deste governo vem achacando e enfraquecendo nossas instituições. Devemos dar continuidade as essas práticas reelegendo esse governo e reforçando sua base aliada?

Ninguém precisa entender de filosofia para tirar conclusões a partir dos três parágrafos acima. Não precisa nem entender de política, na verdade. É lógica pura.

Se as "premissas maiores" são praticamente consensos (sobre inflação, corrupção e funcionamento de regimes democráticos), e as "premissas menores" são fatos comprovados, as conclusões que daí derivam são únicas e não aceitam refutação.

Quero crer que a lógica tenha deixado de funcionar, momentaneamente, nestas eleições. Quero crer que as pessoas que tentam refutar a pura lógica estão, momentaneamente, impedidas de raciocinar.

Porque se a lógica foi, definitivamente, abandonada no Brasil, deixa de ser um problema político para ser um problema civilizatório. Estaremos retrocedendo alguns milênios na evolução humana.

O Brasil é um país atrasado mas quero crer que nem tanto.

Julio Daio Borges
20/10/2014 às 15h54

 

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