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Domingo, 2/11/2014
Tentam estigmatizar São Paulo
Julio Daio Borges

São Paulo é a cidade mais cosmopolita do Brasil. Talvez uma das mais cosmopolitas do mundo.

São Paulo é a maior colônia do Japão fora do Japão. Os italianos estão no DNA de São Paulo. Fora os portugueses, os judeus, os árabes...

Sabe qual é o estado com o maior número de nordestinos fora do Nordeste (e de suas adjacências)? São Paulo.

Além de centro financeiro, São Paulo sempre esteve na vanguarda do pensamento e das artes desde, pelo menos, a Semana de 22.

Na escola, a gente aprende sobre a política do café-com-leite, mas o fato é que São Paulo foi palco da Revolução Constitucionalista de 1932. Na praça Charles Miller (1983) e no Vale do Anhangabaú (1984), aconteceram os principais comícios da campanha Diretas Já. E São Paulo foi o berço do PSDB. E do PT também.

Mas agora querem estigmatizar São Paulo.

Não é porque São Paulo não elegeu um governador do PT, nem o senador do PT, nem deu mais votos à candidata a presidente pelo PT, que São Paulo tem "preconceito" contra o PT.

O *conceito* do PT é que não está bom. E não é só em São Paulo...

Na manifestação do dia 1º de Novembro, milhares de pessoas *não foram* à avenida Paulista para pedir "golpe". Muito menos, "intervenção militar".

A inspiração era o impeachment, ou melhor: a apuração dos escândalos de corrupção - na Petrobrás - que podem caracterizar "improbidade administrativa", e redundar em processo de impeachment.

Também se foi às ruas, em São Paulo, para reforçar o desejo de "auditoria" da última eleição presidencial. Uma iniciativa do PSDB, a partir de manifestações da própria sociedade civil.

Infelizmente por má-fé de um repórter da Folha e de outro do Estadão (sim, do Estadão), a manchete do evento foi: "Ato com cerca de mil manifestantes em São Paulo pede impeachment de Dilma e intervenção militar no Brasil".

Primeiro que até jornais estrangeiros, como Le Monde, noticiaram que não eram "mil" pessoas, eram muitas mais. Depois que "intervenção militar" foi, no mínimo, uma generalização apressada.

Por causa de um único cartaz, entre dezenas de outros, os repórteres Gustavo Uribe (da Folha) e Ricardo Chapola (do Estadão) resolveram tachar a manifestação como "golpista", evocando - com a expressão "intervenção militar" - o 1964.

Cada manifestante é livre para carregar o cartaz que quiser. Mas não significa que todos os outros manifestantes concordem com todo e qualquer cartaz apresentado.

Fora que, sinceramente, as Forças Armadas não tem a menor condição de dar nenhum golpe de Estado no Brasil. Há muito tempo que as Forças Armadas pedem a atenção do estado brasileiro, pois não são nem a sombra do que já foram. Institucionalmente, têm sido esvaziadas há décadas. Materialmente, rogam, há anos, por um orçamento maior.

Concluindo: não tem pé nem cabeça noticiar que São Paulo foi às ruas pedir "intervenção militar". Além de ser uma generalização apressada, motivada por evidente má-fé, não se sustenta nem como ideia, pois não temos mais Forças Armadas dignas desse nome.

A você, que pode ser vítima de manchetes assim "editorializadas": lembre-se sempre do povo de São Paulo, da História de São Paulo e da participação política de São Paulo na História do Brasil. E tire suas próprias conclusões.

Julio Daio Borges
2/11/2014 às 12h42

 

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