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Terça-feira, 2/12/2014
Sobre queda de ministros
Julio Daio Borges

(Sou do tempo em que ministros caíam)

Antigamente, os ministros "caíam".

Eu lembro de ouvir a expressão. Eu era criança, ou adolescente. "Caiu o ministro".

Não é que alguém "derrubava". Não era "golpe" (como é moda falar hoje). O ministro "caía" sozinho.

Não é que caía "de maduro". Caía porque chegava uma hora em que a coisa se tornava insustentável. O ministro precisava sair. E saía ("caía").

Havia outro senso de dignidade. Um belo dia, o ministro se olhava no espelho e concluía que não dava mais. Ou alguém lhe dava "um toque". Um presidente? (Alguém do partido?)

Mesmo o suicídio de Getúlio Vargas. Ele não tinha mais saída. Era o tal "mar de lama"...

Mesmo Jânio Quadros. Renunciou por causa das tais "forças ocultas"...

Hoje, eu fico olhando e parece que ninguém mais liga pra nada.

Os escândalos agora se sucedem e as pessoas ficam lá, impávidas. Como se não lhes dissesse respeito.

A presidente da Petrobras, por exemplo. A Graça Foster. Ela foi na CPI da Petrobras e, em juízo, disse que não sabia de nada. Mas acabamos de descobrir que ela sabia. Por causa das investigações na Holanda. Ela havia sido notificada. Ou seja: ela mentiu na CPI. Mas nem ficou vermelha. Ela não se abala. Estão desviando recursos da Petrobras desde 2006 (agora dizem que desde 2004). 10 bilhões de reais, segundo estimam. Mas a Graça Foster finge que não é com ela. Até criou uma diretoria para "fiscalizar". É mole?

A Gleisi Hoffmann, outro exemplo. Foi ministra-chefe da Casa Civil. Descobriu-se que sua campanha para o Senado, em 2010, foi supostamente abastecida pelo mesmo "petrolão". Agora pergunte se ela está preocupada. Ela aparece em Brasília com a mesma cara. E ainda sobe na tribuna...

O Lindberg Farias. É aquele que se lançou como "cara-pintada", na época do impeachment de Fernando Collor, depois apareceu numa foto, confraternizando-se com o próprio, no Senado. Não faz nem um mês que Paulo Roberto Costa revelou supostas doações, de empresas investigadas na operação Lava Jato, para a campanha de Lindberg Farias, para o governo do Rio de Janeiro. Você acha que Lindberg ficou preocupado? Além de não ficar, ele foi, recentemente, discursar no Senado, atacando Aécio Neves e dizendo que ele havia "passado dos limites" na entrevista que deu a Roberto D'Ávila. Você assistiu à entrevista? Não tem nada de mais. Ou seja: Lindberg, além de estar supostamente implicado no escândalo do petrolão, teve cara de pau de atacar alguém que falou a verdade: mensalão e petrolão foram "obras" de uma "organização criminosa". (É, inclusive, a conclusão do Supremo.)

Por último, o Humberto Costa. Líder do PT no Senado. Não é que ele também aparece na lista de Paulo Roberto Costa, tendo, supostamente, recebido R$ 1 milhão do petrolão? Além de fingir que não é com ele, Humberto Costa fez coro com Lindberg Farias e chamou o senador Aécio de "irresponsável", por, na mesma entrevista a Roberto D'Ávila, associar o PT à tal "organização criminosa". Ou seja: Humberto Costa, supostamente beneficiado pela "organização criminosa", além de não dar nenhuma satisfação, *acusou* quem associou o PT ao mensalão e ao, suposto, "petrolão". É mole?

Além de estarem, supostamente, implicados no maior esquema de corrupção desde o "mensalão", além não se envergonharem disso, vêm à luz do dia e ainda *acusam*. Como dizia uma certa candidata, é estarrecedor.

Depois se espantam com quem vai às ruas pedir "intervenção militar". Não estou defendendo a "intervenção militar". Mas parece que vem crescendo uma percepção geral de que a tal "organização criminosa" só vai largar o poder pela força. De novo: não estou defendendo nenhum tipo de "golpe", mas acredito só vão abandonar o poder se forem *obrigados* a tal.

A cara de pau não vai diminuir. Provavelmente, à medida que os escândalos se desdobrarem, só vai aumentar. Porque eles não vão se mexer. Não vão sair. Vão fingir que não é com eles. Vão fingir que nada está acontecendo. E vão *acusar*. Até não poderem mais. Até serem *impedidos* de continuar.

É por essas e por outras que o "impeachment" vai deixando de ser uma "tentativa de golpe" para se afirmar como o desdobramento natural de "crimes de responsabilidade", cada vez maiores, cometidos por gente que não tem a mínima dignidade - nem para renunciar.

Saudosos os ministros que "caíam" outrora. Tinham um mínimo de dignidade que nem essa, hoje, se encontra mais...

Julio Daio Borges
2/12/2014 às 16h36

 

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