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Segunda-feira, 22/12/2014
Obrigado, vida
Julio Daio Borges

Algumas épocas do ano nos fazem pensar no ano todo. Às vezes, na vida toda.

São épocas, também, polêmicas. Muita gente não se conforma com rumo que as coisas estão tomando. Muita gente se sente cobrada. Muita gente se sente confrontada - até por si própria -, e sofre.

O ano passado foi talvez o ano mais difícil da minha vida. Tive de aprender a viver sem a minha mãe. Sem a presença física da minha mãe. Porque sair de casa não é nada, "cortar os laços". O duro é continuar na vida quando alguém tão importante não está mais...

Mas tudo isso foi no ano passado. Não que este ano não tenha sido difícil também. "Um ano depois" etc. Até porque certas coisas nunca passam. Mas foi mais fácil ou, se preferirem, menos difícil.

E quando eu penso hoje, não só na minha mãe, mas na vida como um todo, eu me sinto grato. Eu tive sorte. A vida foi boa comigo.

Eu tive sorte, por exemplo, de ter nascido na família em que nasci. Eu tive sorte de ter uma mãe que me amou incondicionalmente, que sempre esteve presente e que sempre me estimulou. Sempre, sempre.

Eu tive, e tenho, sorte de ter um pai que, vencendo na vida, nos mostrou que tudo é possível. Tudo. Que sempre se preocupou com tudo, permitindo que pudéssemos nos desenvolver, realizando o nosso potencial. Um pai de quem herdei o senso crítico.

Eu tive sorte de ter irmãos para compartilhar desde o dia a dia até as grandes conquistas. Para amar, mas também para provocar, estimulando. Para me confirmar, mas também - pelo contraponto - me ajudar a descobrir quem sou.

Eu tive sorte de ter família dos dois lados. De ter avós, avôs. De ter tios, que me serviram de exemplo e de inspiração. De ter primos, para compartilhar gostos, aventuras, descobertas. De ter um pouco mais daquele amor incondicional, de mãe, e daquela identificação, que só uma família proporciona.

Eu tive sorte de ter amigos. Muitos amigos. Em todas as fases. Em todos os lugares. De todas as cores, raças, credos, orientações. Amigos que me ajudaram naqueles descobertas "não familiares" (rs). Naqueles desafios que a gente tem de enfrentar e que compartilha não com familiares mas com "pares" (em inglês "peers").

Eu tive sorte de estudar onde estudei. De ter tido os professores que tive. Mesmo os ruins. Graças a eles, inclusive, passei em todos os vestibulares em que prestei, eu pude escolher para onde ir. Eu pude trabalhar onde quis. Eu pude trabalhar *no que* quis.

Eu tive sorte de conhecer muitos dos meus ídolos. De ter meu trabalho reconhecido por eles. De ser até *amigo* de alguns. De conhecer, também, pessoas aparentemente "comuns", mas que me ensinaram muito e me serviram, igualmente, de exemplo.

E eu tive a sorte de encontrar a Carol. De encontrar o amor da minha vida. E de me casar com ela. E de formar uma *família* com ela. Também tive sorte de entrar pra família da Carol. E de ganhar, além uma nova família, novos amigos.

Eu tive a sorte de ser pai da Catarina. De me ver "continuando" nela. De ver minha família, ou minhas famílias, "continuando" nela. E eu tenho a sorte de poder compartilhar todas as alegrias que a Catarina nos proporciona. E de ter feito até novos amigos graças a ela.

Tempos atrás, a Catarina me perguntou: "O que é a vida, Papai?". Sem saber o que responder, eu falei: "Não sei, Catarina. Acho que a vida é tudo".

Então, hoje, eu agradeço à vida. Obrigado, vida. Obrigado por tudo.

Para ir além
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Julio Daio Borges
22/12/2014 às 12h03

 

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