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Terça-feira, 31/5/2005
Juventude
Julio Daio Borges

É essa a força da IBM: homens de todos os tipos podem chegar ao topo porque tudo o que interessa à IBM é lealdade, trabalho duro e concentrado.

(...)O âmbito de assuntos que ele e [seu colega] Bill Briggs concordam tacitamente em não abordar em suas conversas é tão amplo que ele se surpreende de sobrar ainda alguma coisa.

(...)Quanto mais vezes são ditas as palavras amigo, amizade, amigável, mais estranhas elas soam. Pode imaginar o homem falando assim: se está procurando amigos, associe-se a um clube, vá jogar boliche, fazer voar aeromodelos, colecionar selos. Por que esperar que seu empregador, a IBM, International Business Machines, fabricante de calculadoras eletrônicas e de computadores, providencie amigos para você?

* * *

Está no mundo dos negócios, e no mundo dos negócios, descobre, não é preciso ser polido.

* * *

No escritório, não há nada em que pousar os olhos além de superfícies metálicas planas. Debaixo do brilho sem sombras da luz de neon, sente que sua alma está sob ataque. O prédio, em bloco de concreto e vidro sem particularidades, parece emanar um gás, sem cheiro, nem cor, que consegue penetrar seu sangue e o amortece. A IBM, é capaz de jurar, o está matando, transformando-o num zumbi.

(...)Para ficar alerta, toma xícaras e xícaras de café; o coração martela, o cérebro fumega; perde a noção de tempo, tem de ser chamado para almoçar.

(...)Aos dezoito anos, poderia ter sido um poeta. Agora não é poeta, nem um escritor, nem um artista. É um programador de computador, um programador de computador de vinte e quatro anos num mundo em que não existem programadores de computador de trinta anos.

J.M. Coetzee, em Juventude (me fez lembrar, mais uma vez, porque desisti do mundo corporativo).

Julio Daio Borges
31/5/2005 às 11h40

 

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