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Segunda-feira, 13/4/2015
Eduardo Galeano (1940-2015)
Celso A. Uequed Pitol

Acabo de receber a notícia: Eduardo Galeano faleceu nesta manhã, em Montevidéu, aos 74 anos.

Autor de "Memórias do Fogo", "Futebol ao sol e à sombra" e o conhecidíssimo "Veias abertas da América Latina", Galeano foi um escritor muito lido em nosso continente. E, no meu entender, também muito mal entendido.

Suas opções políticas às vezes constituíram um obstáculo para a apreciação de seu talento literário. Falou-se mais do Galeano militante esquerdista que do escritor e jornalista, o que ergueu barreiras entre ele e o público dos dois extremos do espectro político. Grande parte de seus admiradores e de seus detratores erraram juntos nesse ponto: os primeiros ao lerem-no por motivos ideológicos; os outros, por deixarem de lê-lo pela mesma razão.

Os dois perderam, cada um a seu modo.

Galeano tinha um grande tema, que ele chamaria de "obsessão": o passado da América Latina. E abordou-o com um estilo próprio, colorido, criador de imagens poderosas, meio barroco, fortemente calcado na tradição da prosa de língua espanhola. O que para nós, brasileiros, é um atrativo a mais. Assim como é um atrativo - por sermos brasileiros - a devoção de Galeano ao futebol, ao qual dedicou tantas e belas páginas.

A verdade é que os brasileiros têm uma dívida especial para com Galeano. Foram muitos os que conheceram a América Latina em sua profundidade através de seus livros. E foram muitos os que, a partir de "O Futebol ao Sol e à Sombra" passaram a entender e amar o futebol de uma maneira diferente.

E Galeano, que falava português quase como um gaúcho de Livramento ou de Uruguaiana, era amante do Brasil e amigo dos brasileiros. Nasceu e foi criado no Uruguai, centro geográfico e cultural do pampa, aquele território transnacional que une todas as nações do Cone Sul da América e cuja travessia, como cantou seu amigo Dante Ramon Ledesma, não deveria exigir passaporte. Talvez por isso tenha-se feito latinoamericano antes dos outros, em plena era das ditaduras nacionalistas no continente.

Quando Galeano começou a escrever, era preciso apresentar passaportes para atravessar o pampa.

Hoje, não mais.

É justo pensar que sua obra teve algo a ver com isso.

Celso A. Uequed Pitol
13/4/2015 às 19h18

 

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