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Quarta-feira, 8/6/2005
Alumbramento
Julio Daio Borges

Quando eu estava pra terminar a faculdade, ou antes, costumava cabular aulas na Poli e fugir pra outras unidades da USP. Na dúvida entre prestar um novo vestibular (depois da formatura) para Letras, Filosofia, Psicologia ou História, fui assistir aula nas quatro.

Lá na Letras, pelos idos de 1994-1995, ou antes, topei com o professor Hansen. Ele era hipnotizante. Acho que eu paquerava uma menina nas Letras Germânicas (?), não sei, mas fui cair lá. Quando ele começou a falar, esqueci do resto. Lembro de sua análise do Macunaíma, como se, através dele, eu o tivesse lido pela primeira vez. Começou ali minha admiração por Mário de Andrade.

O professor Hansen contava histórias dos modernistas. Outra que contava, e que também me fascinava, era a Nádia, biógrafa da Clarice Lispector. Hansen dizia que Oswald defendia pontos de vista estapafúrdios em discussões e, depois, quando ia perdendo a razão, confessava: "Mas não foi eu quem disse... Foi o Mário!".

O professor Hansen também gostava de repetir o seguinte, sobre suas posições ateístas: "Meu pai me mostrou que Deus, por definição, não existe e que pecado é comer palha". Eu observava que ele insistia em expressões e citações incomuns que eu jamais esqueci: "muita vez", "é claro?" (como um efeito retórico)... "A língua é uma man-da-ri-na".

Ontem à noite, na Casa do Saber, encontrei de novo o professor Hansen, falando sobre Poesia Moderna Brasileira, e principalmente Manuel Bandeira, e soprei no ouvido dele: "Professor, a língua é uma mandarina!". Ele permaneceu com aquele seu olhar insistentemente saltitante, aparentemente curioso, e completou: "Ah, então serviu pra alguma coisa?"

Julio Daio Borges
8/6/2005 às 07h35

 

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