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Sexta-feira, 22/7/2005
Apuro técnico: Suíte 1
Guilherme Conte

E o FIT segue à toda. Decidi tirar a manhã e parte da tarde para ver até que ponto a cidade está mexida com o Festival. Logo que cheguei, na terça, uma simpática assessora me garantiu que "a cidade está respirando teatro". Mas ela é suspeita. Então dei uma rodada pelo centro e por aí para ver qual é a real.

Não posso dizer que ela estava errada. Rola uma expectativa geral, as pessoas estão acompanhando as peças, principalmente as de rua. Vem gente de cidades próximas também. Encontrei algumas pessoas que compraram ingressos para várias peças e estão acompanhando bastante coisa. Não diria que a cidade está "respirando teatro", mas o impacto é considerável.

No início da tarde fui conferir a palestra do Armazém Companhia de Teatro, do Rio (originalmente de Londrina). É o grupo mais representado por aqui, com três peças (Pessoas invisíveis, Alice através do espelho e A caminho de casa), no Módulo de Ocupação (nos anos anteriores, foram o Cemitério de Automóveis e Os Sátyros). Descreveram o processo de trabalho, as criações coletivas, a busca por uma dramaturgia própria. Muito interessante, fiquei bem curioso. Falo mais deles depois. Já tinha perdido o Pessoas invisíveis, mas veria Alice, a montagem mais concorrida, lotada, a menina dos olhos do FIT.

Não consegui entrar no Alice. Só 65 lugares, fiquei de fora. Odiei-me enquanto ser humano.

Primeira peça da noite: Suíte 1, dos simpaticíssimos curitibanos da Companhia Brasileira de Teatro. Cinco mulheres e um homem conversando, abastecidos por prosaicas caixinhas do China in Box e latas de Coca-Cola. Ótima.

O texto do francês Philippe Minyana, inédito por estas bandas, é rápido, áspero, duro. A partir de conversas banais, sobre assuntos banais, entre pessoas comuns, cresce uma tensão. Uma casa, um episódio traumático, "uma carnificina". A tentativa de construção de uma memória comum esbarra na rispidez e nos traumas.

O clima é claustrofóbico. O ótimo Ranieri Gonzalez passa a maior parte da peça sentado, de frente para a platéia, sendo questionado e provocado pelas mulheres (Christiane de Macedo é a que mais chama a atenção, com uma voz única). Seu rosto transparece angústia, um turbilhão entalado na garganta.

"Tudo me parece irreal", diz uma das mulheres.

"Nós estamos comendo. Tudo está perfeitamente real", responde outra.

Agradou e convenceu, arrancando aplausos firmes.

Como não pude atravessar o espelho, nem tampouco meu crachá de imprensa me permitia ir até o País das Maravilhas, tomei o caminho do SESC para rever Foi Carmem Miranda. Além de ser a peça que tinha mais gostado, queria ver as reações de outra leva de público. Neste ponto, na mesma. Não é uma peça para grandes platéias. Mas é necessária. Gostei mais ainda da segunda vez. O elenco estava mais afinado, preciso. Outros detalhes me prenderam. No início, três viúvas e uma menina sentam-se de frente para a platéia, olhando um microfone e uma Carmem que não está lá. O domínio técnico das quatro atrizes é impressionante, nas mínimas expressões faciais. Brilhante.

Hoje tenho pela frente Navalha na carne, outra das peças mais concorridas por aqui. É da Bate Nessa Face Que Eu Te Viro a Outra, daqui de Rio Preto. Depois, 121.023 J, da Cia Auto-Mecânica de Teatro, de São Paulo. Promete. Amanhã eu conto.

Guilherme Conte
22/7/2005 às 15h12

 

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