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Domingo, 24/7/2005
O mesmo sol e a mesma lua
Eduardo Carvalho

Um dos pontos mais altos do Festival de Jazz & Blues de Buzios é - e não estou sendo irônico - o cartaz. Ficou sensacional. Combina muito com o clima que marcou a cidade neste final de semana. Buzios está, na medida do possível, limpa, organizada. O programa aqui é - como dizem as meninas - uma delícia: alternando Ferradura e Geribá durante o dia com, à noite, boa comida, boa música e excelente ambiente.

O ideal aqui é estar de carro ou, se possível, de jipe. Gosto de pular de praia em praia, sem sentar muito tempo em nenhuma, e caminhar uma, duas vezes beirando o mar. É um exercício saudável, relaxante, com vista agradável para todos os lados. E um pesseio pela Orla Brigite, no final da tarde, completa o dia, antes do banho, do jantar no Don Juan, da caipirinha no Brigitta's e, enfim, a música.

Leo Gandelman poderia ter tocado horas, ontem, na praça Santos Dumont, o ritmo meio meloso, calmo, mas ao mesmo tempo dançante, com que começou o seu show. Poderia ter até contar mais uma ou outra história da Gávea, da janela do seu apartamento ou do seu abacateiro. Mas não poderia ter deixado seu guitarrista abusar no solo, quebrando todo o ritmo e o clima que o seu sax demorou para conquistar. É essa falta de sensibilidade - até de profissionalismo, eu diria - que entrega um músico médio mas pretensioso. Não precisava, definitivamente.

Só que o público - que não deve ter entendido esse solo fora de hora - parecia também não estar entendendo muito antes. Porque fazia cara de que havia ali alguma coisa para entender. O sax de Leo Gandelman estava soprando com um certo gingado, um rebolado que pedia, que quase exigia que o público dançasse. Mas praticamente ninguém mexia os joelhos. Acho que ninguém sabia se aquilo era Kenny G, Bill Clinton ou Winton Marsalis, mas tinham todos na cabeça que jazz - e também não era exatamente jazz - deve-se ouvir parado. Beirou uma vergonha coletiva.

Mas o ambiente, mais uma vez: fico sempre encantado com esses lugares que reúnem todas as categorias de pessoas. Ontem, a praça Santos Dumont foi um lugar assim: estava lá o filho do pescador, de boné do Lakers pra trás; um grupo de meninas cariocas, que passam as férias em Búzios enquanto os pais estão em Tonga; vários casais, dos mais jovens aos mais velhos, de todas as classes e estilos; surfistas, jornalistas, executivos, cantores. Todos aqui, aproveitando o mesmo sol, a mesma lua e - surpreendentemente - a mesma música.

Eduardo Carvalho
24/7/2005 às 16h07

 

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