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Segunda-feira, 24/10/2005
Osesp, 22.10
Fabio Silvestre Cardoso

No último sábado, a Osesp repetiu o concerto que havia feito em homenagem a Vladimir Herzog na quinta-feira, dia 20. Em relação ao programa, o nome que aparecia em destaque era o do flautista húngaro András Adorjan, com participação na peça de Felix Mendelssohn. Como os leitores vão notar, esta obra "competiu", no melhor sentido do termo, com a Sinfonia nš4 em dó menor, Op.43, de Dmitri Shostakovich. Em outras palavras, é correto dizer que as duas obras dividiram as atenções do público que, mais uma vez, lotava a Sala São Paulo, com direito à presença de animadas turistas alemãs que estavam ao lado deste repórter. Com todas essas atrações, o concerto começou com a Abertura Heróica, de Andrzej Panufik. E a reação não poderia ter sido menos plural.

Isso porque o ataque inicial desta peça de conturbados seis minutos causou "choque" na platéia. Tal reação era esperada, se se observar que a Abertura, conforme consta no programa do espetáculo, tinha como objetivo de compor uma homenagem patriótica, mas que se tornou uma espécie de protesto em virtude das circunstâncias políticas. O que importa, no entanto, é de que forma isso se materializa: tom marcial, devidamente demarcado pela percussão, chegando, inclusive, a aludir uma espécie de parada militar. De outra parte, o naipe de cordas consegue, a um só tempo, agir e reagir, como se desse a real forma do sentimento, severo, imaginado pelo compositor. A platéia, por sua vez, não deixou de aplaudir, da mesma maneira como ressaltou um certo incômodo em relação ao que ouviu - certamente, uma peça que não está entre as mais tocadas quando se pensa em música de concerto.

Para a Transcrição para Flauta do Concerto para Violino, de Mendelssohn, houve mudanças estruturais. O forro móvel da Sala São Paulo entrou em ação e adequou-se para o solo do flautista András Adorjan. Nesta peça, ao contrário de uma ebulição inicial, ocorreu, sim, uma condução harmoniosa, sempre pontuada pela participação do solista. Com virtuosismo e sem afetação gestual, Adorjan substituiu a força pela leveza, graças a um toque suave, porém bem definido. Cabe destacar o momento em que a orquestra fez pausa e o flautista solou soberano - até as tosses pararam!

Caso terminasse aqui, teríamos, já, um ótimo concerto. Faltava, no entanto, a segunda parte. Então, depois do intervalo, os espectadores foram tomados de assalto pela veemência da obra de Dmitri Shostakovich. De fato, contrastando com a peça executada antes do intervalo, aqui a Osesp se fez notar tanto pela formação - voltaram boa parte dos instrumentos, com direito a duas harpas e a percussão - como pela sonoridade que passava por todos os naipes, das cordas aos metais. Nesse sentido, era a orquestra o principal elemento. Curiosamente, o público ficou impressionado, para o bem e para o mal. Com o andar dos movimentos, alguns deixaram a Sala, talvez incomodados pelo que ouviram. Esta presença sonora é, sem dúvida, acentuada pela duração da pela - pouco mais de uma hora - com movimentos circulares que remontam, sempre, a temas-chave. No final, a platéia que aguardou até a última nota (que, singular, se fazia notar graças ao silêncio do conjunto) aplaudiu calorosamente a orquestra, como que fazendo as vezes daqueles que já tinham ido embora.

Fabio Silvestre Cardoso
24/10/2005 às 10h10

 

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