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Terça-feira, 1/11/2005
Ato falho
Julio Daio Borges

"Aqui em casa não tem barata", disse a mulher, num tom de desafio.

Os que estavam na sala se entreolharam, com exceção do marido da desafiante, que não era capaz de ousar nem mesmo olhares.

"Nem uma para remédio", concluiu ela, depois de chicotear os olhos em torno, caçando alguma aceitação do desafio. Não encontrou nenhuma e gritou para o interior, voltando a cabeça na direção da cozinha e fazendo estufar as veias do pescoço:

"Jova, traz as bolachas".

Jova, que era Juventina, trouxe as bolachas num prato, cobertas com uma toalhinha azul, e pôs o prato no centro geográfico da mesa. Todos se inclinaram, na expectativa da iminente quebra do jejum forçado, e o dono da casa descobriu as bolachas, puxando a toalhinha azul para um lado. Quinhentos pares de olhos pousaram então, ao mesmo tempo, sobre uma bolacha diferente na forma e na cor, que encimava a pilha de bolachas.

O dono da casa, concluindo um instantâneo levantamento da situação, pinçou-a com dois dedos, mastigou-a e engoliu-a - antes que ela escapasse.

Ildeu Brandão, também no Supl. Lit. de MG (porque me lembrou a Ana E e a Ivana...).

Julio Daio Borges
1/11/2005 às 17h04

 

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