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Segunda-feira, 14/11/2005
Fidelio, primeira parte
Fabio Silvestre Cardoso

Ao longo de 2005, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo deu seqüência ao projeto de registro de alguns de seus concertos, mais precisamente da obra de Ludwig van Beethoveen, de quem gravou, em setembro, A Sinfonia Pastoral, como já foi comentado aqui. A apresentação desta última semana, Fidelio, não estava entre as peças de Beethoven previstas para gravação. Uma pena. Pois só quem foi aos concertos da última semana (e quem for à récita extra de hoje, às 21h) poderá dizer que assistiu a um espetáculo de alta qualidade em sua totalidade. Este resenhista vai comenta os highlights nos próximos parágrafos. Acompanhe.

Inicialmente, cabe fazer aqui o destaque de que, para estas apresentações, nota-se um caráter diferente para a Osesp. Isso porque para a ópera a Orquestra dividiu seu espaço com o coro e também com os solistas. Nesse ponto, o palco, em certa medida, era uma fidedigna representação não apenas da obra de Beethoven, mas também da platéia, que estava tomada. Pela primeira vez, em muitas idas à Sala São Paulo, conferi a presença de muitos jovens. É um alento. Os que pregam o ecletismo, muitas vezes, se esquecem de falar que a Orquestra é dos jovens também. E talvez como corolário de tudo isso é preciso dizer a respeito da personagem que fica à direita do maestro John Neschiling: Antônio Abujamra, o provocador da TV Cultura, faz às vezes do narrador em Fidelio.

E é a partir de suas palavras que o espetáculo é apresentado. Precedido apenas por uma breve introdução instrumental por parte da orquestra, Abujamra, sempre com a anuência de Neschiling, narra o plot do espetáculo, a saber: durante o século XVIII, o nobre Florestan, um alto funcionário público, descobriu provas irrefutáveis de corrupção contra Don Pizarro, o governador da prisão. Ao saber que seria denunciado, Pizarro aprisiona Florestan ilegalmente, num lugar obscuro onde a luz inexiste. Todos dão Florestan como morto, exceto sua esposa, Leonora, que, dois anos depois, decide empreender uma investigação por conta própria. Para tanto, utiliza um disfarce e passa a se chamar Fidelio, e logo cai nas graças de Rocco, chefe dos carcereiros, conseguindo, assim, um emprego na prisão. Ao longo da apresentação, ela fará de tudo para comprovar que seu marido está vivo.

Primeiro ato
A despeito da ação dramática das personagens, o que chama a atenção, não há dúvida, é a interpretação dos solistas. Aliás, a própria ação dramática é muito influenciada pelo canto. Nesse sentido, destaca-se, no princípio, a participação do baixo Stephen Bronk (Rocco). Em certa medida, ele consegue ofuscar até mesmo a presença volumosa do barítono Oleg Bryjak (Pizarro) que, embora tenha feito uma apresentação correta, não se sobressaiu tanto quanto a personagem de Rocco. A esses dois nomes, surge também a soprano Amanda Mace (Leonora, disfarçada como Fidelio) cujos agudos criam um contraponto notável para a apreciação do público. A platéia, aliás, soube reconhecer, tendo em vista que ao fim de cada trecho deste primeiro ato aplaudia com veemência a sua atuação.

Durante todo o primeiro ato, o foco fica centrado nesse trio, com o adicional da narração de Abujamra que tem o papel essencial de amarrar as partes, não deixando que o ouvinte/telespectador se perca nos acontecimentos dos 130 minutos de música. E ainda tem o segundo ato, que você lê no próximo post.

Fabio Silvestre Cardoso
14/11/2005 às 11h00

 

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