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Quinta-feira, 6/4/2006
Gilberto Gil: Cultura Viva
Fabio Silvestre Cardoso

Enquanto na Bienal do Ibirapuera a programação do Cultura Viva se apresenta com a produção efetiva dos Pontos de Cultura (entidades que desenvolvem as manifestações culturais), não muito longe dali, no SESC Vila Mariana, ocorrem os debates que visam proporcionar uma explicação teórica e conceitual desse arrojado projeto do Ministério da Cultura, em parceria com as ONGs e o setor privado (esse em menor escala, nesse momento).

Para tanto, nesta quinta-feira, 6/4, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, falou amplamente acerca dessa iniciativa que, segundo ele, é uma das marcas de sua gestão. Mas o ministro não tratou somente de Cultura. Quem ouviu bem, notou que ele não fugiu às perguntas, especialmente quando era instigado a fazer uma análise de sua gestão como defesa da Política Cultural do governo Lula.

Este repórter viu e ouviu atentamente as falas do ministro em duas oportunidades nesta quinta-feira. A primeira ocasião foi uma coletiva de imprensa com Gilberto Gil; a segunda, na palestra de Gil, cujo título, muito sugestivo, era "Argamassa que une a Sociedade". Cada fala tem suas peculiaridades, então, este relato vai privilegiar os principais detalhes de cada um desses encontros.

Coletiva de Imprensa

Para os leitores que supõem uma coletiva de imprensa semelhante à dos filmes, cabe ressaltar que a realidade pode ser bem mais ficcional do que o cinema. Assim, a espera é sempre maior, e os jornalistas e assessores de imprensa circulam com seus comentários técnicos e olhares impacientes, ora manuseando o celular, ora buscando o ângulo mais exclusivo para as imagens. Nessa hora, ninguém parece prestar atenção em nada a não ser no seu próprio trabalho que, teoricamente, tem tudo a ver com o ambiente que eles desprezam. E foi nesse instante que Gilberto Gil apareceu; nem a assessoria parecia estar preparada, posto que o ministro chegou na sala de imprensa improvisada com a maleta na mão, sem auxiliares mais próximos (a periferia do astro, como disse certa vez o colega Marlúcio Luna), dando um bom dia caloroso aos poucos jornalistas presentes.

Eram 10h10, quando o repórter de um jornal do Nordeste perguntou acerca do futuro do projeto Cultura Viva. E Gil respondeu que, para ele, os objetivos não são tão importantes nesse momento. Agora, a preocupação é justamente dar condições para que os empreendedores culturais possam consolidar seus respectivos trabalhos e, assim, atingir o nível esperado da auto-gestão, ou seja, sem a participação tão direta do Estado nessas manifestações culturais. Um pouco adiante, a pergunta desse repórter seria de certa maneira retomada quando outro jornalista questionou a respeito dos Pontos de Cultura já em pleno funcionamento. E o exemplo que o ministro deu foi de uma Comunidade de Catadores de Lixo em Brasília. A iniciativa desse grupo existe há dez anos, e agora a Comunidade já é capaz de gerir seu próprio negócio, comercializando a produção realizada a partir de material reciclado.

É nesse ponto, aliás, que o debate começou a tomar outra forma, uma vez que Gil passou a teorizar a respeito não só de Políticas Culturais, mas também de mercado, capitalismo e, como era esperado, da política. Sempre que possível tudo isso ao mesmo tempo. Foi politicamente, aliás, que o titular da pasta da Cultura respondeu a propósito das querelas da TV Digital (para quem não está acompanhando o debate, a tensão chegou a tal temperatura que Hélio Costa, ministro da Comunicação, foi vilipendiado num cordel lido por Gilberto Gil. Fogo amigo). Desse modo, Gil baixou o tom nacionalista no que se refere à escolha de qual modelo será implementado no país. O ideal, sugeriu o ministro, é que os sistemas possam ser equivalentes e não absolutos e exclusivistas.

- Senhor Ministro, o país vive agora num período de crise política....
- A crise é permanente no mundo moderno.

A reação veio seca, sem maiores alterações na voz, embora fosse visível certo desconforto entre os presentes. E esse nível de desconforto bateu nas alturas quando uma repórter da Rede Record, cansada de tentar chamar a atenção circulando de um lado para outro, quis tomar conta da coletiva, fazendo intervenções a cada resposta dada. Coincidência ou não, foi nesse momento que a assessoria quis dar a entrevista por encerrada, mas a repórter, fiel a seu trabalho, insistia:

- Ministro, o senhor vai continuar na pasta na próxima gestão? O que o senhor vai dizer para o próximo ministro da Cultura? Você acha que vai existir uma continuidade no projeto?

Respostas? Objetivas, nenhuma. O ministro apenas sorriu e deixou os jornalistas para ir ao auditório. Nesse meio tempo, o diretor do SESC tentou mostrar seu contentamento com a insistência da jornalista. E após cumprimentá-lo, ela disse:

- Não precisa apertar minha mão!

E depois:

- Gil, eu te adoro!

Melhor falar do discurso feito no Teatro do SESC Vila Mariana.

Fabio Silvestre Cardoso
6/4/2006 às 18h00

 

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