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Quinta-feira, 8/6/2006
Osesp, 01/06 - Bruckner
Fabio Silvestre Cardoso

Na noite de primeiro de junho, última quinta-feira, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo apresentou a Sinfonia nš 8, de Josef Anton Bruckner (1824-1896), para uma platéia que estava um tanto incomodada com o frio da capital paulistana naquele dia. Tal sensação, entretanto, ficou em segundo plano. Naquele horário, mais precisamente naquela sala de concerto, todos os sentidos foram absorvidos pela música. Veja como nos próximos parágrafos.

Uma rápida consulta nas enciclopédias e obras de referência diz a este resenhista que Bruckner, o compositor, não hipnotiza. Pelo menos a ele, segundo consta, não foram atribuídos dons de qualquer espécie, tampouco qualquer benevolência de uma entidade superior. De qualquer maneira, cabe dizer que sua Sinfonia nš 8, tal qual executada pela Osesp, causou tamanho embevecimento junto ao público que não é absurdo garantir que houve, ali, uma hipnose desencadeada pela música.

Nesse sentido, é interessante observar que o primeiro destaque dessa apresentação fica por conta da performance do maestro suíço Roman Brogli-Sacher. Em verdade, o romantismo da sinfonia parecia emanar de seus gestos, e a orquestra reagia com vigor à sua intempestiva interpretação. Ainda assim, houve espaço para o encantamento sonoro. E aqui ocorreu um movimento que seria comum no decorrer da apresentação, o retorno a um tema central, que, não por acaso, era grandioso, com a execução frenética dos violinos. Essa característica tampouco era aleatória. Consta que esta peça foi elaborada sob forte influência de um importante acontecimento político. O encontro dos líderes do império Austro-Húngaro, Alemão e Russo em 1884.

E foi sob essa mesma influência que o segundo movimento começou, com as cordas dos violoncelos a incendiar toda a orquestra. Os violinos acompanhavam, sempre pontuados pela percussão e pelos metais. Mas a segunda parte não acabaria assim, mas durante todo este movimento os presentes tinham a sensação de que aquela frase imponente retornaria, visto que os violinos soavam como o rufar dos tambores e até mesmo as harpas se fizeram ouvir com arpejos me-ti-cu-lo-sa-men-te executados.

Os arpejos, a propósito, estariam de volta no início do terceiro movimento. E desta vez a Orquestra variou do virtuosismo para um andamento mais moderado. Suave, o trecho abriu espaço para as flautas e mesmo quando foi a vez do toque severo dos violinos, o ritmo era mais moroso e carregado.

A força da Sinfonia nš 8 reapareceu com tudo no quarto e último movimento. Já nesse ponto, os ouvintes tinham certeza de que Bruckner havia composto uma peça para toda a Orquestra, num espetáculo total, bem à moda wagneriana. Sobre Bruckner, aliás, afirma-se que numa época em que as paixões musicais estavam divididas entre Brahms e Wagner, o compositor austríaco havia escolhido o último. De qualquer modo, no que se refere ao finale desta sinfonia, a contundência sonora proporcionou a sensação de anúncio, e os movimentos do maestro suíço voltaram a refletir (ou projetar?) o ataque dos músicos com seus instrumentos. Um final retumbante, para toda a Orquestra.

Fabio Silvestre Cardoso
8/6/2006 às 11h20

 

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