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Sexta-feira, 7/7/2006
Futebol e política
Edward Bloom

Mais chato que gente que gosta de futebol, só gente que não gosta de futebol. Enquanto todos estão comovidos pela eliminação do Brasil da copa (ou, pelo menos, fingindo um pouquinho, só por educação), os que não gostam de futebol levantam de suas cadeiras e falam tiranicamente que foi melhor assim, pois, agora, podemos nos preocupar com a política do país. Só um palerma pensaria em política nessas horas. Política é essencialmente enfadonha, é a ciência desenhada na forma de gente feia discutindo sobre laranjas. Sinceramente, prefiro duas horas de algum jogo do Mogi-mirim do que treze segundos diante de gente do PCdoB. E quatro segundos com gente que não gosta de futebol seriam o suficiente.

Me parece grosseiro achar que a nossa falta de interesse por política seja culpa do futebol. Ou do carnaval. Ou de qualquer outra coisa que não a própria política. Aliás, o que mais considero positivo no povo brasileiro é justamente seu menosprezo por política. E digo mais: é perfeitamente saudável suspeitar de quem se interessa por deputados discutindo os resultados das safras de cana-de-açúcar.

Para mim, é meio esquisito esse papo de que devemos nos preocupar com política. Afinal, da mesma forma que um mecânico é pago para não nos preocuparmos com motores, os políticos são pagos para não nos preocuparmos com a taxa de crescimento do Acre. Simples assim.

Agora, quase consigo ouvir alguém me dizendo que o papel cívico de toda pessoa é acompanhar o trabalho de quem recebe nosso dinheiro, principalmente daquele vereador esquisito e bigodudo que o porteiro do seu prédio pediu para você votar. É como se você fosse obrigado a questionar cada etapa do trabalho do padeiro, ou do músico, ou do enfermeiro, sei lá. Por que tudo isso de farinha? E essas notas aí? Vejo um mundo cheio de gente com pranchetas e óculos na ponta do nariz fazendo xizinhos e caretas de desaprovação. E este mundo seria inviável.

Claro, existem os maus profissionais. Por isso Deus inventou a demissão. E os conselhos.

Sim, sim, mas como se demite um político, sendo que ele é protegido pela democracia? Por mim, demitiria todos. Mas veja lá, o bigodudo dizendo que ele foi eleito pela vontade do povo. Viu o poder que o seu porteiro tem? E essa questão é tão chata que eu deixo para os chatos responderem. Esses aí, que não gostam de futebol.

* * *

Sobre a derrota do Brasil, eu estou inclinado a acreditar no técnico da seleção brasileira. Ele tem razão mesmo, ele é ruim, mas questiono suas desculpas. Uma a uma.

A primeira é a de que o Brasil jogou mal. Esta, em particular, me intrigou porque a seleção norte-americana jogou mal, muito mal, e mesmo assim deu o maior trabalho para a Itália. Eu gostei tanto do jogo que passei a ter simpatia pela equipe dos EUA e até a torcer por ela. Cheguei, inclusive, a decorar algumas estrofes do "Star-Spangled Banner" e me emocionar silenciosamente durante os começos de seus jogos - com a mão sobre o peito e tudo mais. Não deu muito certo, concordo, mas eles atrapalharam todos os jogos de seus rivais, oras. O Brasil não. Portanto, jogar mal não é uma desculpa. De modo algum.

O técnico brasileiro disse que não teve tempo para treinar os jogadores: o francês também não, ué. E ele disse que teve muita pressão: o francês, assim como o time inteiro, foi atacado por toda a imprensa francesa. Uma considerável pressão, portanto. Ao contrário da imprensa brasileira, que eu jamais qualificaria como agressiva sobre os assuntos da seleção.

Ele disse também que é sempre o Brasil que perde, nunca os outros ganham: exatamente, a França jogou sozinha, sozinha, e mal; se não fosse aquele lateral francês (acho que o nome dele é Roberto Carlos - fale assim, fazendo biquinho), o jogo iria para as prorrogações. Vejam vocês, como é possível jogar sozinho e ainda empatar? Foi o Brasil que perdeu.

Finalmente, disse que, quando se ganha, o mérito é dos jogadores, e, quando se perde, a culpa é do técnico. Neste caso em especial, forço a boca para baixo e digo concordando (e até com um pouco de escárnio) que sim, sem dúvida. Não sei se o Brasil ganharia o jogo, mas se algumas substituições tivessem sido feitas antes, criariam (me perdoem, me perdoem) mais chances de gol.

Quem conhece um pouco de futebol percebeu o quanto eu sou ruim nessa coisa. E não sei se o que eu disse fez algum sentido. Fazia há alguns minutos atrás, eu acho, mas, em todos os casos, eu ainda sustento a teoria de que a seleção brasileira teria se saído muito melhor se contasse com a seguinte escalação:

Ronaldo (o roqueiro)
Júnior Baiano (para bater no Zidane)
Tupanzinho
Marlene Matos
Rincón (eu sei, eu sei, só de brincadeira)
Miller
Mirandinha
Evair
Neto (gordo por gordo...)
Viola
Paulo Nunes
Edmundo (para arranjar confusões; confusões sempre são legais)

Ah, meu time ideal conta com doze jogadores. E só não coloquei mais porque não consegui me lembrar de outros nomes. Ou porque eu não sei outros nomes. Isto é, sem dúvida, tudo que sei sobre futebol. E, bom, com esta seleção, no mínimo, seria mais divertido de se assistir a copa do mundo. Com certeza, seria melhor que ver gente feia discutindo sobre bananas.

Edward Bloom
7/7/2006 às 09h34

 

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