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Segunda-feira, 24/7/2006
Menos dois no palco
Vitor Nuzzi

Entre os meus amigos de infância, na Vila Mariana, em São Paulo, havia dois irmãos, chamados Flávio e Paulo. Moravam em uma rua próxima, em um sobrado. Gostava de brincar com eles. Flávio era um pouco mais quieto, Paulo mais extrovertido, brincalhão. Não tenho lembranças dos pais dele, acho que moravam apenas com a mãe. Apenas muitos anos depois, já adolescente, fui saber quem era o pai daqueles meus colegas. Chamava-se Gianfrancesco Guarnieri.

Muitos vão falar de sua importância. Prefiro lembrar dos meninos, meus amigos, que também viraram atores. Flávio participou, inclusive, do memorável filme Eles não usam black-tie, que reuniu no elenco Guarnieri, Fernanda Montenegro, Francisco Milani (que partiu ano passado), Milton Gonçalves, Bete Mendes, Carlos Alberto Ricelli e até Fernando Ramos, o Pixote. Lembro sempre da cena em que Fernanda Montenegro e Guarnieri estão juntos na cozinha, em silêncio, ela escolhendo os feijões para cozinhar, e os olhares e mãos vão se encontrando. Atores de primeira linha, dignos, linha de frente da dramaturgia nacional, que naquele momento estava se reencontrando, assim como o país. O nome completo de Gianfrancesco era imenso, tão grande quanto a sua envergadura profissional.

E, para completar, na mesma semana o palco perdeu Raul Cortez.

"O que realmente não admito é deixar a bola cair", disse Guarnieri.

Vitor Nuzzi
24/7/2006 às 10h01

 

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