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Sexta-feira, 1/4/2016
Blog de Marco Garcia
Marco Garcia
 
O comércio

Vendo medo
Compro esperança
Vendo insatisfação
Compro coerência
Vendo ódio
Compro tolerância
Vendo vingança
Compro compaixão
Vendo intelectualidade
Compro inocência
Vendo conhecidos
Compro amigos
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Compro aperto de mão
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Vendo Paulo Coelho
Compro Patativa do Assaré
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Compro curiosidade
Vendo igreja
Compro fé
Vendo barulho
Compro silêncio
Vendo caneta
Compro lápis
Vendo liso
Compro cacheado
Vendo singular
Compro plural
Vendo vogal
Compro consoante
Vendo ditadura
Compro democracia

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
1/4/2016 às 10h51

 
A praia, o dindin e o desapego

Em São Paulo é chamado de geladinho. No interior de Alagoas, Flau. Em Fortaleza o descobri como dindin. Iguaria gelada e deliciosa que alivia o calor à base de sabores infinitos. Parente do sorvete. Nice to meet you.

Cartão de visita entregue linhas acima, visualize o cenário. Praia de Iracema, orla de Fortaleza, domingo à noite. Em meio a um ‘mar de gente’, um casal de vendedores destoa da multidão pela originalidade.

Aqui, uma pausa. Volto já à Beira Mar.

Lorena e Erich.

Ele é pedagogo e poeta. Ela, publicitária e, em pouco tempo, esteticista. Se conheceram há três anos. Antes disso, Lorena morou nos Estados Unidos e Nova Zelândia. Erich publicou um livro de poesias e trabalhou como editor, na capital do Ceará.

Em 11 de dezembro de 2015, num desses instantes inexplicáveis da vida, ele – desiludido com os pedregosos caminhos das artes – a confidenciou que estava largando tudo, compraria um isopor e, a partir dali, seria um vendedor de dindin na Praça do Ferreira, centro de Fortaleza.

Lorena topou a ideia.

Iniciava ali uma grata costura no projeto de vida a dois. Da produção própria e venda, nascia a Dindinharia Artezanale, uma espécie de fábrica goumert do delicioso produto apreciado por pessoas de todas as idades – em várias gerações.

O início foi doloroso, com mais erros que acertos na composição dos sabores. Sendo quase um fracasso o primeiro lote. Vale lembrar a desconfiança de familiares e amigos.

Mas as coisas se ajeitaram. Vieram o ajuste produtivo e as receitas customizadas, que deram água na boca e aguçaram paladares requintados.

Para chegar ao nível de receptividade do público atual, o processo passou de copiar receitas da internet para algo bem particular, original.

Como cientistas, gastaram dinheiro, horas e suor em testes madrugadas a dentro.

Misturaram ingredientes, buscaram a fruta diferenciada (a maioria colhida no sítio da família), juntaram itens. Isso com isso dá um gosto bom àquilo?

Por fim, a minuciosa arquitetura das embalagens, com riqueza de detalhes (enfeitadas com fitas coloridas e cores neutras). Sem esquecer outros adereços.

A indumentária final para ganhar o calçadão, sempre aos fins de semana – do final da tarde até o movimento cair –, além da simpatia envolvente, é composta por vestes escolhidas a dedo.

Menu de cantina italiana, guarda-sol e carrinho com identidade visual retrô. Transeuntes desavisados pensam estar em meio à uma peça de teatro – eu avisei que voltaria à Beira Mar.

E lá se vão pouco mais de dois meses de um sonho em andamento. Por enquanto, ambos dão conta do mister.

But, os objetivos cresceram. Querem mais sabores. Querem funcionários. Querem ponto físico de venda. Os amantes de dindins agradecem.

Viva a criatividade.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
8/3/2016 às 13h26

 
Noites perfeitas, elas existem

No meio da tarde se falaram
Como tem acontecido nos últimos dias
Foi por meio de um desses aplicativos de conversas
Ele a convidou para jantar
Passo às 7, tudo bem?
Sim, foi a resposta
E a noite que se seguiu foi perfeita
Mágica
A melhor em anos
Quando ela entrou no carro, seu perfume o desconcentrou
O primeiro olhar causou impacto
Cabelos deslumbrantes
Vestia blusa verde e saia preta
A combinação ideal
Estava produzida
Maquiagem apaixonante
E um discreto salto alto
Partiram
Chegaram
Sentaram
Brindaram
Trocaram olhares, carinho
O toque dela em sua pele era de arrepiar
Riram
Compartilharam assuntos sérios e amenidades
O ambiente estava leve e intenso
Apreciaram a culinária do local
Saíram
E o restante da noite seguiu a perfeição à risca
Beijos
Abraços
Colo
Carinho
Mais perfume
Mais carinho
Até agora, meio dia, ele ainda está com todos aqueles espetaculares momentos vivos na memória
Agradeceu a Deus

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
3/3/2016 às 14h31

 
Entre barbaridades e clichês

A humanidade já vivenciou dias piores. (clichê) Desgraça, barbárie, corrupção, injustiça e desigualdade não são privilégios contemporâneos. (clichê) Mas ainda me espanto com alguns episódios hoje em dia. (clichê ao quadrado, quase um bordão).

Como não ficar estarrecido com o massacre dos cinco jovens no RJ? (clichê) Como não se incomodar com a ação de um grupo que invadiu um velório e ateou fogo no morto? Como ficar alheio a este estado de coisas? (clichê)

Isso para não ir além no assunto, pois casos incríveis ocorrem a todo instante, e apenas os mais graves são noticiados (clichê), caso das chacinas de Osasco e Curió, massacre na França, ataques aéreos na Síria e tantos mais. (clichê)

Então, me digam, como desligar dessas notícias mórbidas e meter uma final de Copa do Brasil no meio? (clichê) Como comemorar um título no esporte, se o mundo nos brinda com uma desgraça por minuto? (clichê)

Ah, mas aí é querer além da conta... a vida segue, querido (clichê). Ok, a vida - como sempre - seguirá. Ela, a vida, graças a Deus, é implacável. (clichê)

Mas como se preparar para festas de fim de ano e planejar viagens sem "pisar" numa poça de sangue ou ser arrastado pela lama política e de Mariana? - o apelo sensacionalista é proposital. (clichê)

Sei, via de escape, é normal tentar apagar o trágico com a borracha do cômico (clichê), mas como o assunto "bola de ouro" do Neymar pode ser a base das conversas, quando a Microcefalia se alastra, a seca no Nordeste encerra sonhos e estudantes levam porrada da polícia? (clichê)

O assunto é muito clichê, sei. Nada de novidade, sei. Saia desse lugar-comum, rapaz. (clichê) Até tento, mas é difícil. (clichê)

Clichê: Frase repetitiva e sem originalidade; expressão que peca pela repetição, pelo lugar-comum; banalidade repetida com frequência.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
1/3/2016 às 09h14

 
Alguém notou a diferença?

Chico Buarque diria que “todo dia ele faz tudo sempre igual”. E não faz mesmo? Graças a Deus por isso, afirma quem o conhece.

Pode passar por lá. Esquina da Abolição com a Frei Mansueto, ali, no Meireles.

Não falha. De segunda à sexta, cedinho, estaciona sua bicicleta (bikefood) no pátio do posto de combustível e vende seus quitutes a transeuntes, motoristas durante o abastecimento e taxistas.

Têm também os frentistas, funcionários do hotel, farmácia, banca de revistas, lava-jato, chaveiro, cabelereiro e loja de materiais de construção, que circundam a lanchonete itinerante.

Unânimes, dão de ombros para a loja de conveniência do posto e, mais fiéis que militantes de PT e PSDB, fazem o desjejum com as provisões daquele jovem microempresário do ramo da alimentação.

É comum vê-lo rodeado pela turba faminta, já com o dinheiro à mão.

O compartimento térmico azul (fixado na garupa do combalido veículo de duas rodas) guarda desde pão, passando por tapioca, cuscuz, bolos, sanduiches e salgados, além de sucos, refrigerantes, café e leite. Sem esquecer os ‘bombons’ que facilitam o troco.

Um inigualável banquete para quem – por conta da pressa ou apenas para dormir dez minutos mais – abdica de ‘merendar’ em casa.

Hoje, entretanto, ele não fez tudo igual. Pelo menos para quem o visita. Havia algo diferente. Todos notaram.

Até a gerente da loja de conveniência ao cutucar a menina do caixa, que fez cara de espanto. “Valha, é ele mesmo?” De fato, era.

O cardápio não mudara. Muito menos seu preço. A vestimenta era a mesma: boné, camiseta, bermuda, tênis e meia. Ah, o avental também era o de sempre, bem como a fita do Senhor do Bonfim, vermelha, no punho direito.

Mas, ali, à vista de todos, com orgulho, ele ostentava seu mais novo mimo e parceiro de trabalho.

No lugar da bicicleta {sua companheira infalível desde os tempos do antigo ponto em frente ao posto de Saúde no Mucuripe}, estava uma motocicleta linda, do ano, com um vermelho brilhante, que denunciava o cuidado prévio do dono com seu aspecto antes de apresentá-la aos clientes-amigos.

Houve uma mudança significativa, os mais chegados perceberam. De autoestima, de ânimo.

Agradeceu à ‘magrela’ pelos ótimos serviços prestados anos a fio, aposentou as pedaladas, e, agora, vencerá os quilômetros que separam o Meireles da Barra do Ceará acelerando. Realizou um sonho de adolescente.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
22/2/2016 às 12h02

 
Para que serve um violino?

Um artigo pela manhã me incomodou. Ousado, o texto me chicoteou com "jogue fora uma coisa por dia e sinta-se melhor”.

Percorrendo os parágrafos, as frases estavam lá com o intuito de modificar a realidade de 9 em cada 10 pessoas atualmente: o acúmulo de itens supérfluos.

Lendo, veio a negação (no filme ‘Antes de partir’, Jack Nicholson afirma que a negação é o primeiro sintoma de um potencial suicida. Negar apenas mascara o ato já decidido).

O que este autor matinal sabe da minha vida? Nunca acumulei nada (frustrações não contam), nem espaço para tal desfrute tenho, reclamei.

Outro dia ouvi o diretor da ONG Akatu, instituição que combate – dentre tantas coisas – o consumo desenfreado, dizer que iniciou no ativismo minimalista ao se deparar com um violino em cima do armário. Instrumento clássico adquirido não sabe onde, por quê e por quanto.

“O dom de tocar não tenho”, dizia ele, “desconheço quem o faça, então qual a razão para ocupar um minúsculo cômodo com algo tão irrelevante? Apenas para fim decorativo?”.

Se desfazer dos eteceteras da vida requer habilidade. Difícil fugir do exercício ‘bem me quer, mal me quer’. O que acaba por priorizar coisas com base no sentimentalismo e recordações.

O ideal é fechar os olhos e apontar. Ou então repetir o gesto circular do capitão Nascimento antes de subir o morro. Corre-se risco menor.

Feito o solilóquio, relato que fechei os olhos e apontei para os ‘meus violinos’. Acertei em coisas do arco da velha.

Numa tacada só saíram a coleção de copos da Coca-Cola, álbum de figurinhas da Copa de 98 (incompleto, faltaram Zidane, Taffarel e Barthez); carregadores de celulares que nem existem mais e canetas que não funcionam.

Usando uma expressão cearense, "rebolei" ainda controles remotos sem TV; capas de CD’s vazias e a edição da Folha de S.Paulo de 12 de setembro de 2001, já com o Bin Laden como autor do ataque às Torres Gêmeas.

Pulei os livros, ainda não mergulhei na insanidade, mas não pude deixar de chutar dois:

'Manifesto do nada na terra do nunca' de, pasmem, Lobão, sim, o cantor (queria saber quando esse entorpecente entrou em casa e pelas mãos de quem), e ‘Alimentação de A a Z', um tijolo de quase 600 páginas que prometia salvar a minha vida com folhas, frutas e sucos, um engodo só. Vá de retro.

Prometo retomar essa terapia.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
11/2/2016 às 09h48

 
Quimeras

Dormiu por horas, dias e anos... Um dia acordou. Ainda sonolento e muito confuso...

Deu bom dia. Andou nas ruas. Pegou um táxi. Comeu pastel na feira. Soltou pipa. Ouviu blues. Leu Mário Bortolotto. Assoviou Filosofia de Noel Rosa. Gargalhou com Tiririca. Leu Patativa do Assaré. Celebrou Zé Ramalho e seu Avôhai. Tentou tocar sanfona. Chorou com o rap de Sabotage.

Deu milho aos pombos. Atravessou rio de balsa. Chamou Roberto Carlos de rei. Conspirou com Planet Hemp. Visitou a Taubaté de Mazzaropi. Perdeu dinheiro no bicho. Estourou plástico bolha. Leu o mineirinho de Lispector. Se desculpou com um indígena.

Comprou doces no Largo do Arouche. Cantarolou Halo de Beyonce. Votou em branco. Citou versos de Edi Rock. Criticou o pai de Kafka. Visitou a feira de Caruaru. Procurou Padre Cícero em Juazeiro. Estendeu roupa no varal. Pegou carona para o interior.

Foi na padaria. Assistiu Miguel Falabella. Sentiu o som do baixo de Champignon. Tentou outra religião. Trabalhou no buffet de Criolo. Experimentou siriguela. Dormiu em rede. Botou o CD do Jorge Ben. Baixou aquela do Seu Jorge. Cantou Que Beleza de Tim Maia.

Descobriu a literatura marginal de Ferréz. Borbulhou de amor com Fagner. Fez seu próprio café. Reviu fotografias. Escreveu e enviou cartas. Leu escritores russos. Lutou pela Palestina. Foi ao cinema. Fez tatuagem. Dançou ritmos desconhecidos.

Acenou para porteiros. Ouviu rádio AM. Se embriagou. Fritou ovos. Visitou cemitérios. Contou segredo. Acampou. Comeu pão com carne moída. Assistiu Tarantino. Jogou pedra na Geni. Deu esmolas. Visitou o açude do Cedro. Cruzou a Ipiranga com a São João. Levou drible do Messi.

Tocou tamborim. Leu Machado de Assis misturado com Jack Kerouac. Pegou filas. Comprou temperos. Bebeu destilados. Admirou a chuva. Torceu para o paraquedas abrir. Debateu a camada de ozônio. Jogou bola na rua.

Cansado, deitou e dormiu novamente...

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
4/2/2016 às 13h44

 
Cegueira

por Angela Veloso*

Recentemente o cenário musical perdeu mais um dos seus grandes ícones. A morte do cantor inglês, David Bowie, abalou os fãs e até mesmo aqueles que mal conheciam sua trajetória musical.

Confesso que não era sua fã e muitas vezes não associei sua música ao seu nome, mas conhecia e até cantarolava algumas delas, por total influência de uma amiga que é sua profunda admiradora.

Fato é que a morte de Bowie e as inúmeras notícias publicadas sobre o assunto, em todos os veículos de comunicação, me levaram a conhecer sua última canção, apresentada em um videoclipe semanas antes de sua morte, o que muitos apontaram como uma despedida em vida.

A canção que encerra sua carreira chama-se Lazarus, uma menção ao personagem bíblico Lázaro, segundo a Bíblia, um homem que estava morto e foi ressuscitado por Jesus depois de quatro dias de sua morte.

O clipe é angustiante, o músico está em um quarto sombrio, preso numa cama. Seus olhos estão vendados com uma faixa de curativos e demarcados por círculos negros. A cena é de um sofrimento que nos prende a respiração e me fez pensar durante dias a respeito da dor que cada um de nós esconde sob nossas frágeis ataduras e sobre a cegueira que nos abate e imobiliza.

Sentimento igual tive apenas em outras duas oportunidades. Há algum tempo li um livro de José Saramago “Ensaio sobre a cegueira”, que relata a história de uma cidade tomada por uma doença que contamina todos os moradores levando-os à cegueira total, porém, apenas um deles continua a enxergar.

Sofreram muito os que estavam cegos, porém sofria mais ainda aquele que continuou ver o que acontecia ao seu redor: a miséria humana que impregnou aquele lugar, levando as pessoas a um comportamento quase que animal. O ver quando ninguém mais o podia fazer era o tormento diário do personagem de Saramago.

Tão sombria e assustadora quanto a cegueira descrita por Saramago era também a da personagem do filme de Lars Von Trier “Dançando no Escuro”. Selma, interpretada por Bjork, sofria de uma doença hereditária que a fez perder a visão, mesmo destino que teria seu filho caso não fosse submetido à uma cirurgia.

A busca da personagem pela cura para o filho e os desdobramentos dessa história denunciaram uma cegueira, não a da personagem, mas uma cegueira social, daqueles que a julgaram e a condenaram levando-a à morte.

E é aí que Saramago, Bowie e Von Trier se entrelaçam e me faz pensar na cegueira de cada um de nós. Quando não estamos enxergando além das nossas próprias feridas, quando deixamos de enxergar pelos olhos do outro, quando perdemos a visão de nós mesmos.

Quando não agimos diante do que acreditamos tornamo-nos Bowie na cama de um hospital, provavelmente instalado na cidade descrita por Saramago e nos deixamos julgar pelo mesmo júri que sentenciou a morte de Selma.

Em dado momento de sua música David Bowie desabafa: “Tenho cicatrizes que não podem ser vistas” e José Saramago nos arrebata: “Só num mundo de cegos as coisas serão o que verdadeiramente são”, porém é e a personagem de Lars Von Trier que no auge de seu sofrimento nos comove de maneira esperançosa: "They say it's the last song; They don't know us, you see; It's only the last song; If we let it be" (em português, Eles dizem que essa é a última canção, eles não nos conhecem, sabe. É apenas a última canção, se deixarmos que seja”.

O desejo de hoje é que a cegueira não nos contamine e que tenhamos tempo para mais uma canção.

*Texto gentilmente cedido pela autora. Angela Veloso é jornalista, mora em São Paulo.

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Postado por Marco Garcia
27/1/2016 às 22h27

 
Fortaleza e suas pedras no caminho

Falar sobre o crack. Estar disposto a abrir o leque de dependências, abstinências, neuroses, perdas, doenças e outro punhado de nuances que conferem uma espinha dorsal a uma das drogas mais letais que existem.

Descrever sua trágica história pelo viés de quem padece com tamanha agressividade física e mental: os usuários. Traçar diretrizes do caminho até a pedra. O que permeou o conjunto de coisas para atingir esse cenário do caos.

Desvendar o nefasto enredo – sem equivalência moral – ao qual submetem o cotidiano. Visitar as paranoias, fissuras e impactos. A dor brutal da família. A luta sem fim para sair desse corredor da morte invisível, obstáculo quase sempre inescapável.

Isso tudo sem apontar os culpados e nem querer ser o solucionador de problemas. Mas, também, longe de entregar a alma à teoria, trazendo ao debate doses reais desse submundo, as fraturas raciais e sociais de uma cidade como Fortaleza, que todos sabem que existem, mas se esquivam de ultrapassar tal fronteira.

Essa é a proposta do livro ‘Selva de Pedra – a Fortaleza Noiada’, de José Pereira Lima, o Preto Zezé, presidente da Cufa Global, lançado em 2013.

Inspirada no livro ‘Cabeça de Porco’, escrito por Celso Athayde e MV Bill (recorte do documentário ‘Falcão Meninos do Tráfico’) e sobreposta ao discurso político rasteiro, a obra estapeia a face da sociedade e do poder público com depoimentos chocantes de pessoas que chegaram ao fundo do poço por meio do perpétuo movimento entre a lata, o cachimbo e muitas “pauladas”.

Suicídio

Sob uma narrativa sucinta, de fácil leitura, o autor dá voz aos que sofrem, ou sofreram, com o terrível vício da pedra. Expõe o estado de desumanização dos personagens que, diante de uma situação extrema, o suicídio surge como a única saída que encontram para dar cabo ao sofrimento de anos, delineado pelo crack.

‘Selva de Pedra’ apresenta a democracia do vício. A pedra não faz distinção, não escolhe seus adoradores. Eles saem do asfalto de bairros chiques e das ruas de terras de comunidades fora do alcance da vista do Estado. Este é um assunto sem rivalidade.

São jovens, adultos, homens, mulheres, casados, solteiros, com filhos, sem filhos, empresários, sem teto, católicos, evangélicos, umbandistas, ateus, budistas – todos envoltos numa sistêmica redoma da seita chamada crack.

Chegar à última página deixa a sensação de proximidade com os envolvidos. Tanto com quem passou dias sem dormir e arriscou a vida para se embrenhar em ambientes nervosos e alucinantes, em que o grito “a casa caiu” era a senha para correr, fugir sem olhar para trás – quanto dos dependentes e suas inaudíveis angústias.

Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
21/1/2016 às 22h41

 
Benção, mãe

Numa sonolência profunda ouço vozes
Muito longe, desconexas
Identifico uma fala
É a minha mãe
Que sono, me deixa dormir
Estou com dificuldade para respirar
Minha camisa tá me sufocando
Tem uma mão forte me puxando
Que sono, me deixa dormir
Estou sendo arrastado
Daqui, consigo ver uma mão e uma arma
O que está acontecendo?
Meus calcanhares já se esfolaram no chão duro do corredor
Cuidado, minha cabeça vai bater no portão
Ouço vozes
Agora, mais desesperadas
É minha mãe
Sinto um puxão no braço esquerdo
Vejo ela cair com um empurrão
Estou na rua
Conheço as casas
Vejo o tuti, cachorro do dono do bar
Veio até mim
Latiu, latiu
Foi enxotado
Já estamos no meio da rua
Olho pra cima, tento me soltar
Estou com sono, me deixa dormir
Vejo a figura do homem que me arrasta, encapuzado
Reparo no buraco do revólver
Está mais perto do meu rosto
Ai, que dor no olho
Tô sangrando
Por quê?
Sinto agora um desconforto no pescoço
Meu peito arde
Sinto o sangue escorrer
A mão que me segurava me soltou
Bati minha cabeça no chão
De rosto no cascalho
Consigo sentir um afago na nuca
Mãe?
Pega minha coberta, tô com frio
Minha sonolência aumentou
É como se eu tivesse tomado remédio
Desses que relaxam os músculos
Sinto meu corpo inteiro ficando inerte
Tento falar, não consigo
Meus olhos querem fechar
Vejo a luz do poste perdendo o brilho
O rosto da minha mãe é apenas um borrão agora
A sensação de dormência é até confortável
Tá ficando escuro
Minha respiração tá difícil
Não tem jeito
Vou dormir de novo
Mas por que eu tô sangrando?
Quem é esse homem que me arrastou?
Mãe, não briga comigo
Mas quero dormir aqui
Essa poça de sangue tá tão quentinha
A luz se apagou
Mãe, a senhora me acorda às sete?
Benção, mãe

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Postado por Marco Garcia
9/12/2015 às 10h33

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