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Terça-feira, 31/5/2016
Blog de Marco Garcia
Marco Garcia
 
E na periferia...

A estrada? Longa
A vida? Dura
O sentimento? Difuso
A consciência? Pesada
A pele? Escura
A oportunidade? Escassa
O preconceito? Latente
O desejo? Pulsante
A coragem? Enorme
O incentivo? Ausente
A amizade? Condicionada
A liberdade? Tirada
A idade? Avançada
O objetivo? Distante
O fracasso? Permanente
A desilusão? Amiga
O trabalho? Buscando
A fome? Fantasma
A casa? Madeira
A roupa? Doada
O lazer? Emprestado
A cultura? Sonho
A família? Destruída
O amor? Falido
O sucesso? What?

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
31/5/2016 às 11h26

 
No bar do Ivo, abraço é moeda

O bar do Ivo fica numa privilegiada rua de Fortaleza. Entre as avenidas Beira-Mar e Abolição. De suas mesas é possível ver a igreja e o cemitério do Mucuripe.

E não é apenas a localização, a clientela também reúne bons predicados.

Empresários, advogados, políticos, militares, escritores, músicos, atores, jornalistas, professores, universitários, reis de camarotes, dentre outras personalidades da sociedade abastada, aliviam os fardos diários no tradicional estabelecimento.

Trata-se de um ambiente simples, mas considerado um achado, mesmo estando 26 anos à margem do eixo preferido da crítica da noite fortalezense.

Ele não figura em guias turísticos, mas abastece o esquenta da galera.

"Graças ao meu bom Deus", diz Ivo, sempre que um frequentador descobre o lugar e comenta sobre o nível intelectual e social de quem bebe por lá.

Mas, como um bom boteco que se preze, o local é também parada obrigatória de transeuntes de ocasião.

Os, digamos, menos afortunados, sem os 15 diplomas por parede, patentes e avantajadas contas bancárias.

São cozinheiros, garçons, manobristas e seguranças do restaurante de bacana que fica duas quadras dali; funcionários dos inúmeros hotéis da orla - que param para uma branquinha ou uma gelada pós-expediente.

Flanelinhas; carroceiros; pipoqueiros; vendedores de milho; engraxates (isso mesmo, engraxates), e muitos personagens anônimos que chegam e, "dá licença aqui, patrão", escoram-se no balcão e sorvem, talvez, a única companhia do estômago do dia.

Sábado à tarde, um desses invisíveis ébrios, vestindo bermuda e camiseta surradas, descalço, cabelo com uma mistura de óleo e água, com feridas em dos joelhos, já sem dentes, sentado, pernas cruzadas, rabiscava numa folha e olhava para o senhor da cadeira a sua frente.

O caricaturava.

Dez minutos depois, obra pronta, o rosto do moço, que afirmara ser natural de Tatuí, interior de São Paulo, estampava, desenhado em traços firmes, a folha branca.

"São dez reais", cobrou o profissional do pincel.

"Mas eu não pedi pra você me desenhar", retrucou um já alterado etílico senhor, para espanto dos presentes, que acompanharam a negociação prévia entre ambos.

"Olha, não quero ser injusto, tenho apenas quatro reais".

"São dez reais", recusou-se a receber quantia inferior.

"Toma de volta o desenho e usa o verso em nova caricatura".

"Não. O desenho é seu, apenas me dê o combinado".

"Rapaz, pague o homem. Serviço desse não é menos de 30 reais na Beira-Mar", gritou o cliente da mesa ao fundo.

"Mas eu não pedi o retrato. Pago uma dose".

"Em cachaça não recebo, tenho dois filhos e uma mulher brava. Quero os dez reais".

"Deixa que eu pago. Você não vai ficar no prejuízo", prometeu o bigodudo que estava escorado na mureta, querendo amenizar os ânimos exaltados.

Abriu a carteira, tirou a nota e pagou o surpreendente artista anônimo.

"Ei, já que tudo se resolveu, me dê um abraço e considere o afago como parte do pagamento", disse o autor do calote.

O desenhista recebeu o abraço, não o retribuiu, e saiu de lá com semblante resignado.

Quem sabe lamentando sua condição de excluído, que até então não tivera uma oportunidade sequer para demonstrar suas habilidades artísticas.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
12/5/2016 às 12h04

 
Improvável amor de São João

Ela suspirou e pensou. Quentão, milho cozido, amendoim, mugunzá, canjica e forró. Eita, que a melhor época do ano está chegando.
Ele a olhou e sussurrou.
Eu gosto de você com força, por isso eu grito “I love you com toda gota”.
Gaiato que só, ela respondeu.
Ele, sem cerimônia, replicou: peguei no seu cabelo, você disse “fiquei louca”, falei no ouvidinho “tem cuscuz com leite”.
Ela, sem poder se conter, gritou: pela antecipação e extensão do São João eu voto siiiiiim!
Marminino, ele ponderou.
Ela, braba que só a peste, devolveu: quem é você para derramar meu mugunzá?
Ele, para amenizar as coisas, disparou: tu é o meu aperreio mais gostoso.
Desconfiada, ela contemporizou. “Deixe de enxerimento”.
Ele não se conteve: se avexe não, é com você que eu quero dividir o meu cuscuz.
Se fazendo de desentendida, ela cobrou: deixe de arrudeio.
Querendo ir ao ponto, ele alega: calor do estopô. Bora pra rua da cachaça.
Ela, irônica, desdenha: É mermo é?
Ele, mais incisivo, dispara: tome mel, tome cachaça, tome amor e tome xote.
Para cortar o assunto, ela salienta: você até que é legal, mas eu prefiro paçoca.
Ele, para se fazer de importante, cola comigo que é sucesso garantido.
Gaiatin, meu fii, né?
É o mundo pra mangar de mim e eu só para mangar do mundo, filosofou ele.
Se rendendo às cantadas sertanejas do sujeito, ela ameniza: bora, amo cheiro no cangote.
Pois cuida, a gente se ajeita numa cama pequena, te faço um poema e te cubro de amor.
De longe, ela ouve: menina, vem timbora esquentar o almoço.
Mamãe.
A bixinha, rapaz, ele choramingou.
Sozinho, à noite, suspirou: a pior parte do dia é quando a danada da saudade vem.
Tivesse ela aqui, a gente ia dançar ‘rala ralando o tchan’ a noite toda.
Ô saudade lascada.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
5/5/2016 às 12h26

 
O comércio

Vendo medo
Compro esperança
Vendo insatisfação
Compro coerência
Vendo ódio
Compro tolerância
Vendo vingança
Compro compaixão
Vendo intelectualidade
Compro inocência
Vendo conhecidos
Compro amigos
Vendo religião
Compro liberdade de credo
Vendo fuzis
Compro aperto de mão
Vendo discursos
Compro poemas
Vendo guerra
Compro diálogo
Vendo certeza
Compro talvez
Vendo sanidade
Compro loucura
Vendo rancor
Compro sorriso
Vendo opinião formada
Compro dúvidas
Vendo bocas
Compro ouvidos
Vendo prisão
Compro liberdade
Vendo jornais
Compro livros
Vendo escritório
Compro cadeira de praia
Vendo tv
Compro rádio
Vendo sapato
Compro chinelo
Vendo shopping
Compro litoral
Vendo agenda
Compro bilhetes
Vendo ensaio
Compro improviso
Vendo Paulo Coelho
Compro Patativa do Assaré
Vendo sabedoria
Compro curiosidade
Vendo igreja
Compro fé
Vendo barulho
Compro silêncio
Vendo caneta
Compro lápis
Vendo liso
Compro cacheado
Vendo singular
Compro plural
Vendo vogal
Compro consoante
Vendo ditadura
Compro democracia

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
1/4/2016 às 10h51

 
A praia, o dindin e o desapego

Em São Paulo é chamado de geladinho. No interior de Alagoas, Flau. Em Fortaleza o descobri como dindin. Iguaria gelada e deliciosa que alivia o calor à base de sabores infinitos. Parente do sorvete. Nice to meet you.

Cartão de visita entregue linhas acima, visualize o cenário. Praia de Iracema, orla de Fortaleza, domingo à noite. Em meio a um ‘mar de gente’, um casal de vendedores destoa da multidão pela originalidade.

Aqui, uma pausa. Volto já à Beira Mar.

Lorena e Erich.

Ele é pedagogo e poeta. Ela, publicitária e, em pouco tempo, esteticista. Se conheceram há três anos. Antes disso, Lorena morou nos Estados Unidos e Nova Zelândia. Erich publicou um livro de poesias e trabalhou como editor, na capital do Ceará.

Em 11 de dezembro de 2015, num desses instantes inexplicáveis da vida, ele – desiludido com os pedregosos caminhos das artes – a confidenciou que estava largando tudo, compraria um isopor e, a partir dali, seria um vendedor de dindin na Praça do Ferreira, centro de Fortaleza.

Lorena topou a ideia.

Iniciava ali uma grata costura no projeto de vida a dois. Da produção própria e venda, nascia a Dindinharia Artezanale, uma espécie de fábrica goumert do delicioso produto apreciado por pessoas de todas as idades – em várias gerações.

O início foi doloroso, com mais erros que acertos na composição dos sabores. Sendo quase um fracasso o primeiro lote. Vale lembrar a desconfiança de familiares e amigos.

Mas as coisas se ajeitaram. Vieram o ajuste produtivo e as receitas customizadas, que deram água na boca e aguçaram paladares requintados.

Para chegar ao nível de receptividade do público atual, o processo passou de copiar receitas da internet para algo bem particular, original.

Como cientistas, gastaram dinheiro, horas e suor em testes madrugadas a dentro.

Misturaram ingredientes, buscaram a fruta diferenciada (a maioria colhida no sítio da família), juntaram itens. Isso com isso dá um gosto bom àquilo?

Por fim, a minuciosa arquitetura das embalagens, com riqueza de detalhes (enfeitadas com fitas coloridas e cores neutras). Sem esquecer outros adereços.

A indumentária final para ganhar o calçadão, sempre aos fins de semana – do final da tarde até o movimento cair –, além da simpatia envolvente, é composta por vestes escolhidas a dedo.

Menu de cantina italiana, guarda-sol e carrinho com identidade visual retrô. Transeuntes desavisados pensam estar em meio à uma peça de teatro – eu avisei que voltaria à Beira Mar.

E lá se vão pouco mais de dois meses de um sonho em andamento. Por enquanto, ambos dão conta do mister.

But, os objetivos cresceram. Querem mais sabores. Querem funcionários. Querem ponto físico de venda. Os amantes de dindins agradecem.

Viva a criatividade.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
8/3/2016 às 13h26

 
Noites perfeitas, elas existem

No meio da tarde se falaram
Como tem acontecido nos últimos dias
Foi por meio de um desses aplicativos de conversas
Ele a convidou para jantar
Passo às 7, tudo bem?
Sim, foi a resposta
E a noite que se seguiu foi perfeita
Mágica
A melhor em anos
Quando ela entrou no carro, seu perfume o desconcentrou
O primeiro olhar causou impacto
Cabelos deslumbrantes
Vestia blusa verde e saia preta
A combinação ideal
Estava produzida
Maquiagem apaixonante
E um discreto salto alto
Partiram
Chegaram
Sentaram
Brindaram
Trocaram olhares, carinho
O toque dela em sua pele era de arrepiar
Riram
Compartilharam assuntos sérios e amenidades
O ambiente estava leve e intenso
Apreciaram a culinária do local
Saíram
E o restante da noite seguiu a perfeição à risca
Beijos
Abraços
Colo
Carinho
Mais perfume
Mais carinho
Até agora, meio dia, ele ainda está com todos aqueles espetaculares momentos vivos na memória
Agradeceu a Deus

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
3/3/2016 às 14h31

 
Entre barbaridades e clichês

A humanidade já vivenciou dias piores. (clichê) Desgraça, barbárie, corrupção, injustiça e desigualdade não são privilégios contemporâneos. (clichê) Mas ainda me espanto com alguns episódios hoje em dia. (clichê ao quadrado, quase um bordão).

Como não ficar estarrecido com o massacre dos cinco jovens no RJ? (clichê) Como não se incomodar com a ação de um grupo que invadiu um velório e ateou fogo no morto? Como ficar alheio a este estado de coisas? (clichê)

Isso para não ir além no assunto, pois casos incríveis ocorrem a todo instante, e apenas os mais graves são noticiados (clichê), caso das chacinas de Osasco e Curió, massacre na França, ataques aéreos na Síria e tantos mais. (clichê)

Então, me digam, como desligar dessas notícias mórbidas e meter uma final de Copa do Brasil no meio? (clichê) Como comemorar um título no esporte, se o mundo nos brinda com uma desgraça por minuto? (clichê)

Ah, mas aí é querer além da conta... a vida segue, querido (clichê). Ok, a vida - como sempre - seguirá. Ela, a vida, graças a Deus, é implacável. (clichê)

Mas como se preparar para festas de fim de ano e planejar viagens sem "pisar" numa poça de sangue ou ser arrastado pela lama política e de Mariana? - o apelo sensacionalista é proposital. (clichê)

Sei, via de escape, é normal tentar apagar o trágico com a borracha do cômico (clichê), mas como o assunto "bola de ouro" do Neymar pode ser a base das conversas, quando a Microcefalia se alastra, a seca no Nordeste encerra sonhos e estudantes levam porrada da polícia? (clichê)

O assunto é muito clichê, sei. Nada de novidade, sei. Saia desse lugar-comum, rapaz. (clichê) Até tento, mas é difícil. (clichê)

Clichê: Frase repetitiva e sem originalidade; expressão que peca pela repetição, pelo lugar-comum; banalidade repetida com frequência.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
1/3/2016 às 09h14

 
Alguém notou a diferença?

Chico Buarque diria que “todo dia ele faz tudo sempre igual”. E não faz mesmo? Graças a Deus por isso, afirma quem o conhece.

Pode passar por lá. Esquina da Abolição com a Frei Mansueto, ali, no Meireles.

Não falha. De segunda à sexta, cedinho, estaciona sua bicicleta (bikefood) no pátio do posto de combustível e vende seus quitutes a transeuntes, motoristas durante o abastecimento e taxistas.

Têm também os frentistas, funcionários do hotel, farmácia, banca de revistas, lava-jato, chaveiro, cabelereiro e loja de materiais de construção, que circundam a lanchonete itinerante.

Unânimes, dão de ombros para a loja de conveniência do posto e, mais fiéis que militantes de PT e PSDB, fazem o desjejum com as provisões daquele jovem microempresário do ramo da alimentação.

É comum vê-lo rodeado pela turba faminta, já com o dinheiro à mão.

O compartimento térmico azul (fixado na garupa do combalido veículo de duas rodas) guarda desde pão, passando por tapioca, cuscuz, bolos, sanduiches e salgados, além de sucos, refrigerantes, café e leite. Sem esquecer os ‘bombons’ que facilitam o troco.

Um inigualável banquete para quem – por conta da pressa ou apenas para dormir dez minutos mais – abdica de ‘merendar’ em casa.

Hoje, entretanto, ele não fez tudo igual. Pelo menos para quem o visita. Havia algo diferente. Todos notaram.

Até a gerente da loja de conveniência ao cutucar a menina do caixa, que fez cara de espanto. “Valha, é ele mesmo?” De fato, era.

O cardápio não mudara. Muito menos seu preço. A vestimenta era a mesma: boné, camiseta, bermuda, tênis e meia. Ah, o avental também era o de sempre, bem como a fita do Senhor do Bonfim, vermelha, no punho direito.

Mas, ali, à vista de todos, com orgulho, ele ostentava seu mais novo mimo e parceiro de trabalho.

No lugar da bicicleta {sua companheira infalível desde os tempos do antigo ponto em frente ao posto de Saúde no Mucuripe}, estava uma motocicleta linda, do ano, com um vermelho brilhante, que denunciava o cuidado prévio do dono com seu aspecto antes de apresentá-la aos clientes-amigos.

Houve uma mudança significativa, os mais chegados perceberam. De autoestima, de ânimo.

Agradeceu à ‘magrela’ pelos ótimos serviços prestados anos a fio, aposentou as pedaladas, e, agora, vencerá os quilômetros que separam o Meireles da Barra do Ceará acelerando. Realizou um sonho de adolescente.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
22/2/2016 às 12h02

 
Para que serve um violino?

Um artigo pela manhã me incomodou. Ousado, o texto me chicoteou com "jogue fora uma coisa por dia e sinta-se melhor”.

Percorrendo os parágrafos, as frases estavam lá com o intuito de modificar a realidade de 9 em cada 10 pessoas atualmente: o acúmulo de itens supérfluos.

Lendo, veio a negação (no filme ‘Antes de partir’, Jack Nicholson afirma que a negação é o primeiro sintoma de um potencial suicida. Negar apenas mascara o ato já decidido).

O que este autor matinal sabe da minha vida? Nunca acumulei nada (frustrações não contam), nem espaço para tal desfrute tenho, reclamei.

Outro dia ouvi o diretor da ONG Akatu, instituição que combate – dentre tantas coisas – o consumo desenfreado, dizer que iniciou no ativismo minimalista ao se deparar com um violino em cima do armário. Instrumento clássico adquirido não sabe onde, por quê e por quanto.

“O dom de tocar não tenho”, dizia ele, “desconheço quem o faça, então qual a razão para ocupar um minúsculo cômodo com algo tão irrelevante? Apenas para fim decorativo?”.

Se desfazer dos eteceteras da vida requer habilidade. Difícil fugir do exercício ‘bem me quer, mal me quer’. O que acaba por priorizar coisas com base no sentimentalismo e recordações.

O ideal é fechar os olhos e apontar. Ou então repetir o gesto circular do capitão Nascimento antes de subir o morro. Corre-se risco menor.

Feito o solilóquio, relato que fechei os olhos e apontei para os ‘meus violinos’. Acertei em coisas do arco da velha.

Numa tacada só saíram a coleção de copos da Coca-Cola, álbum de figurinhas da Copa de 98 (incompleto, faltaram Zidane, Taffarel e Barthez); carregadores de celulares que nem existem mais e canetas que não funcionam.

Usando uma expressão cearense, "rebolei" ainda controles remotos sem TV; capas de CD’s vazias e a edição da Folha de S.Paulo de 12 de setembro de 2001, já com o Bin Laden como autor do ataque às Torres Gêmeas.

Pulei os livros, ainda não mergulhei na insanidade, mas não pude deixar de chutar dois:

'Manifesto do nada na terra do nunca' de, pasmem, Lobão, sim, o cantor (queria saber quando esse entorpecente entrou em casa e pelas mãos de quem), e ‘Alimentação de A a Z', um tijolo de quase 600 páginas que prometia salvar a minha vida com folhas, frutas e sucos, um engodo só. Vá de retro.

Prometo retomar essa terapia.

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
11/2/2016 às 09h48

 
Quimeras

Dormiu por horas, dias e anos... Um dia acordou. Ainda sonolento e muito confuso...

Deu bom dia. Andou nas ruas. Pegou um táxi. Comeu pastel na feira. Soltou pipa. Ouviu blues. Leu Mário Bortolotto. Assoviou Filosofia de Noel Rosa. Gargalhou com Tiririca. Leu Patativa do Assaré. Celebrou Zé Ramalho e seu Avôhai. Tentou tocar sanfona. Chorou com o rap de Sabotage.

Deu milho aos pombos. Atravessou rio de balsa. Chamou Roberto Carlos de rei. Conspirou com Planet Hemp. Visitou a Taubaté de Mazzaropi. Perdeu dinheiro no bicho. Estourou plástico bolha. Leu o mineirinho de Lispector. Se desculpou com um indígena.

Comprou doces no Largo do Arouche. Cantarolou Halo de Beyonce. Votou em branco. Citou versos de Edi Rock. Criticou o pai de Kafka. Visitou a feira de Caruaru. Procurou Padre Cícero em Juazeiro. Estendeu roupa no varal. Pegou carona para o interior.

Foi na padaria. Assistiu Miguel Falabella. Sentiu o som do baixo de Champignon. Tentou outra religião. Trabalhou no buffet de Criolo. Experimentou siriguela. Dormiu em rede. Botou o CD do Jorge Ben. Baixou aquela do Seu Jorge. Cantou Que Beleza de Tim Maia.

Descobriu a literatura marginal de Ferréz. Borbulhou de amor com Fagner. Fez seu próprio café. Reviu fotografias. Escreveu e enviou cartas. Leu escritores russos. Lutou pela Palestina. Foi ao cinema. Fez tatuagem. Dançou ritmos desconhecidos.

Acenou para porteiros. Ouviu rádio AM. Se embriagou. Fritou ovos. Visitou cemitérios. Contou segredo. Acampou. Comeu pão com carne moída. Assistiu Tarantino. Jogou pedra na Geni. Deu esmolas. Visitou o açude do Cedro. Cruzou a Ipiranga com a São João. Levou drible do Messi.

Tocou tamborim. Leu Machado de Assis misturado com Jack Kerouac. Pegou filas. Comprou temperos. Bebeu destilados. Admirou a chuva. Torceu para o paraquedas abrir. Debateu a camada de ozônio. Jogou bola na rua.

Cansado, deitou e dormiu novamente...

*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.

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Postado por Marco Garcia
4/2/2016 às 13h44

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