A Lanterna Mágica

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Segunda-feira, 7/1/2019
A Lanterna Mágica
Tadeu Elias Conrado
 
O Cinema onde os fracos não tem vez


Existe um cinema que, embora tenha atingido seu ápice nos anos 1930, começou ainda nos anos 1900. Foi com O Grande Roubo do Trem (The Great Train Robbery, 1907) que o western chegou às telas. Criado por Edwin S. Porter, que operou câmeras para Thomas Edson, o filme com pouco mais de 11 minutos deu origem às histórias que se tornariam grandes obras. Ver um western é ver a história dos Estados Unidos sendo contada.

Aliás, foram filmes de Ethan e Joel Coen que me inspiraram a escrever essa matéria. Os irmãos são responsáveis por dois filmes que levam o western ao seu auge. O primeiro é Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country for Old Man, 2007), um suspense que além de um bela fotografia, conta com excelentes atuações de Javier Barden e Josh Brolin. Outro filme é o recente A Balada de Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs, 2018), longa que reúne seis histórias que resgatam as características desse gênero clássico e o homenageia de forma célebre.

ONDE NASCERAM OS FORTES

John Wayne é referência quando se fala de western, mas ainda era desconhecido quando entrou em cena em No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939), uma das grandes obras primas dirigidas por John Ford. Esse foi só o primeiro trabalho que uniu os dois artistas. Depois do estrelato mundial de Wayne, os dois tiveram uma parceria que durou meio século. Mencionando rapidamente outras obras que uniram a dupla, estão Rastros de Ódio (The Searchers, 1956) e Rio Grande (1950), esse segundo no Brasil recebeu o título Rio Bravo, sabe-se lá porquê.

Os filmes de John Wayne e John Ford era o que chamamos hoje de Cinemão, feito para entreter o público. Mas havia um sujeito austríaco que fazia seus filmes mais políticos e por isso ganhou destaque na época. Seu nome era Fred Zinnemann (mesmo diretor de O Dia do Chacal) e o filme em questão é Matar ou Morrer (High Noon, 1952), clássico que rendeu o Oscar de Melhor Ator para Gary Cooper. O xerife William Kane (interpretado por Cooper) é o herói incorruptível que todos almejam ser. No filme um perigoso fora da lei deve chegar na cidade no trem do meio dia, o sujeito acaba de ser liberado da prisão que Kane o mandou. Então o recém casado xerife deixa sua lua de mel para depois e fica na cidade, adverso ao conselho dos cidadãos, para enfrentar seu rival.

A figura de William Kane é o que o EUA define como a imagem do homem norte americano, tanto que uma versão do filme foi guardada em uma cápsula que deve ser aberta em 2213. Matar ou Morrer é tenso a todo momento, deixando o bang-bang de lado e investindo em uma dramaticidade incomum para o gênero. Mas ainda assim, mesmo com trocas de tiro só na última cena, é um dos melhores westerns já feito e que possui enorme significância para o cinema e sociedade americana.

Outro diretor importante nos westerns dos dias de hoje é Quentin Taratino. Famoso pela quantidade de sangue unidos a sua técnica singular, o diretor entrou no jogo com Django Livre (2012), filme que busca muitas referências para montar uma verdadeira jornada do herói, repleta de plot twists. Outro ótimo filme do diretor, que levou o prêmio de Melhor Trilha Sonora em diversos festivais que participou, é Os Oito Odiados (Hateful Eight, 2015). Assim como Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992), temos uma trama montada dentro de um único cenário, com pouquíssimas cenas externas, onde o verdadeiro vilão é o suspense psicológico.

O VELHO OESTE MACARRÔNICO

Com tudo, a Era de Ouro dos westerns não se limitou aos EUA. Alguns países da Europa aproveitaram o embalo e lançaram suas versões e a mais conhecida é o Spaghetti Western, o velho oeste italiano. Com o fim do western americano, que durou até os anos 1950, o faroeste macarrônico ganhou destaque e também revelou grandes atores e diretores. Um dos grandes nomes foi o diretor Sergio Leone, que traz em sua filmografia filmes como Por Um Punhado de Dólares (Per un Pugno di Dollari, 1964), Por Uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollare in Più, 1965) e Era Uma Vez no Oeste (C’era Una Volta in West, 1969).

O movimento na Itália (e uma parte na Espanha) durou quase duas décadas e levou grande nomes em seus filmes. Entre eles está um ator que parece ser um dos maiores adoradores do gênero, Clint Eastwood. O ator e diretor participou de muitos filmes na época, tendo como principal personagem o Pistoleiro Sem Nome na trilogia do dólar, que além dos filmes já mencionados, fecha a série com Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo, 1966).

O VELHO SERTÃO

O que muitos não sabem é o que o Brasil também teve lá seus westerns. Na verdade, está mais para “nordesterns”, já que o cenário principal é o cangaço. Isso ficou claro em um dos primeiros filmes, O Cangaceiro (1953). O filme dirigido por Lima Barreto ganhou Cannes e a partir dele um ator chamado Maurício Morey viu potencial para o Brasil entrar no bang-bang. No ano seguinte, 1954, o ator estrelou Da Terra Nasce o Ódio, dirigido por Antoninho Hossri, seu irmão, que na época trabalhava como médico. A produção já ganhou destaque ao estrear no imponente Art Palácio, algo que era difícil de acontecer com produções pequenas. Seu sucesso foi tamanho que em 1958 o filme The Big Country, do diretor William Wyler, estreou no Brasil com o nome Da Terra Nascem os Homens, fazendo referência ao filme de Morey.

O nosso nordestern durou um bom tempo, passando pelo Cinema Novo bahiano, as pornô chanchadas paulista e as comédias de Mazzaropi. Mas um outro título que recebeu destaque foi o filme do diretor Osvaldo de Oliveira, Rogo a Deus e Mando Bala (1972). O filme mostra a batalha entre uma quadrilha de foras da lei e um grupo de justiceiros. O filme se inspira no oeste macarrônico da Itália, mas seus elementos e canções mostram que é um autêntico western tupiniquim.

WESTERN PARA REUNIR A FAMÍLIA

Nos EUA a TV também teve seu momento western. Os seriados era o que reunia a família na sala de estar durante alguns minutos do dia. Duas séries adaptadas são Os Pioneiros e Bonanza.

Os Pioneiros trazia uma família que migraram até Minnesota em busca de uma vida melhor, no ano de 1800. O seriado é uma adaptação dos livros de Laura Ingalls Wilder e ficou no ar entre 1974 e 1983. Outro seriado importante para o gênero é Bonanza. Com 14 temporadas transmitidas entre 1959 e 1973, a série seguia o dia a dia do viúvo Ben Cartwright, interpretado por Lorne Greene, um rancheiro que vive em defesa e cultivo de sua propriedade, em Nevada.

Mas para quem procura por séries mais atuais, temos duas boas opções, uma mais engajada na comédia e outra digna de uma jornada western. O primeiro é O Rancho, série de comédia protagonizada por Ashton Kutcher, mas embora seja o mais famoso, ver Sam Elliott como um velho ranzinza que implica e reclama de tudo já vale a pena. A outra opção é Godless, uma série clichê onde a mocinha em busca de justiça e vingança encontra um heróis desgarrado. Embora caia na mesmice, é uma ótima produção.

Em sua Era de Ouro só nos EUA foram produzidos quase 700 filmes do gênero, se juntarmos isso aos filmes lançados na Europa e no Brasil teremos milhares de westerns, são muitos filmes para assistir. Além dessa quantidade de obras, o western foi essencial para que o cinema mundial crescesse. O Grande Roubo do Trem mudou a maneira de como contar histórias e filmes como Matar ou Morrer são referências até hoje. Com isso, quem sabe num futuro não tão distante vemos mais filmes do gênero ganhando a tela grande, já que a pouco tempo atrás eles eram referência e enchiam salas de cinema.

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Postado por Tadeu Elias Conrado
7/1/2019 à 00h05

 
A Guerra Fria entre o Cinema e o streaming

Estamos na era on demand. O streaming está cada vez mais presente no nosso dia a dia. Hoje vemos pessoas assistindo filmes e séries enquanto estão a caminho do trabalho, escola, passeio. O avanço da tecnologia proporciona essa facilidade e cada vez mais surgem plataformas que oferecem o streaming, variando seus produtos e preços, tornando o serviço cada vez mais atrativo e acessível. Uma pesquisa feita pela Alexandria Big Data, para a Exame em abril, mostra que das 1596 pessoas entrevistadas, 64,7% das deixaram de ir aos cinemas para assistir filmes em casa. Algumas delas destacam a “liberdade de escolha”, já que as plataformas possuem um catálogo considerável, enquanto outras alegam que sua escolha é devido ao valor que se paga para ir ao cinema.

O tema ganhou destaque em grandes festivais de cinema. No dia 8 de setembro Roma, dirigido por Alfonso Cuarón e produzido pela Netflix, recebeu o Leão de Ouro, a maior honraria do Festival de Veneza. No dia seguinte o Festival foi criticado por membros do cenário cinematográfico italiano. A Associação Nacional de Autores Cinematográficos (Anac), a Federação Italiana de Cinema de Ensaio (FICE) e a Associação Católica de Cinema (Acec) protestaram contra a escolha alegando que a premiação de um filme que estivesse disponível para exibição online ao mesmo tempo em que chegasse aos cinemas italianos, seria prejudicial ao mercado. O longa On My skin, dirigido por Alessio Cremonini, que fala sobre os últimos dias de vida de Stefano Cucchi, também foi exibido durante o Festival, na seção “Horizons”, e chegou a plataforma no dia 12 de setembro, enquanto entrou em cartaz em poucos cinemas da Itália, o que reforça os protestos.

Mas o diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, defende a exibição e premiação de filmes independente de seus formatos de exibição. Na coletiva de imprensa em que apresentou o Festival, Barbera disse que não via razão para excluir um filme como o de Cuarón da competição só porque é produzido pela Netflix. Depois das críticas feitas pelas associações cinematográficas, Barbera reforçou sua ideia dizendo: "Todas essas controvérsias sobre as transformações que o cinema está passando são apenas o resultado da nostalgia, mas é importante olhar para frente".

O mesmo assunto foi discutido em Cannes, festival realizado de 8 a 19 de maio. Os filmes produzidos pela Netflix foram proibidos de participar da competição do Festival. Com isso, a empresa recusou-se a participar fora da competição, dando início a uma “Guerra Fria” entre a plataforma e os festivais. Diferente da Itália, na França existe uma lei que exige um intervalo de três anos entre o lançamento no cinema e a exibição em plataformas streaming, o que impediria a Netflix de reproduzir seu material assim que saísse do evento. Essa e outras decisões – relativas a selfies e uso das redes sociais – causaram alarde e fez com que muitos especialistas questionaram se o Festival de Cannes não está atrasado no tempo.

Está claro que o streaming está mudando o mercado fílmico. Embora não afete as produções, seu impacto nos cinemas é evidente. Talvez Barbera tenha razão em dizer que o cinema é mais uma questão nostálgica. Embora a experiência que temos ao ver um filme na Tela Grande não pode ser comparada a ver um filme na TV ou no celular. Mas é tudo uma questão de adaptação, como foi com o VHS, DVD e agora o streaming, até uma nova tecnologia tomar seu lugar. Podemos fazer uma comparação com o mercado musical e literário, onde produtos online tomaram conta das vendas, porém ainda existem aqueles saudosistas que preferem possuir o produto físico e, em relação ao cinema, não será muito diferente.

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Postado por Tadeu Elias Conrado
27/10/2018 às 17h20

 
Die Welle: As influências do sistema ditatorial

“Autocracia, o que é isso?” é a questão fundamental para entender ‘A Onda’ (Die Welle), filme do diretor alemão Dennis Gansel, lançado em 2008. Embora não me lembre bem o motivo, o filme me foi apresentado por um professor na época da faculdade. Acredito que tenha sido mais por termos técnicos do que a história em si. Mas quando o assisti fiquei impressionado, em certos momentos me lembrou de ‘O Triunfo da Vontade’ (Triumph des Willens, 1935) e, pensando bem, deve ter sido por isso que ele me foi indicado.



Deixando os devaneios de lado, voltemos ao filme. Um professor anarquista (interpretado por Jürgen Vogel) é escalado para ensinar autocracia a um grupo de alunos. O curso deve durar uma semana e sem saber o que fazer, ele decide ensinar na prática como funciona esse sistema ditatorial, que garante poder ilimitado e absoluto a um grupo de pessoas. Encarado como uma brincadeira, o sistema é aceito e tão logo vemos os alunos se transformarem em pessoas totalmente diferentes.

Uma das questões levantadas pelo professor é se existe a possibilidade de uma ditadura nos moldes do nazismo nos dias de hoje. Podemos fazer um paralelo com muitos países da América Latina e Central, isso levando em consideração que nem toda ditadura é militar. Outro destaque é o quão sedutor é ser chamado para fazer parte de um grupo, mesmo quando isso reduz seu potencial pessoal. Embora caminhe contra as vontades dos adolescentes, a disciplina, igualdade e união é atraente e o sistema ditatorial transpassa as paredes da sala de aula e atinge até mesmo a cidade onde a narrativa se passa.

Vemos os alunos aderindo a “causa” ali, no calor do momento, sem ao menos levar em consideração quais são as consequências. Em mais um paralelo com nossa situação atual, estamos caminhando para um momento importante, que fará diferença nas nossas vidas. E como dizem: a arte imita a vida, e vice e versa. E o cinema tem muito a nos ensinar. Entre debate televisionados, troca de farpas em redes sociais e movimentos protestantes (contra ou a favor desse ou daquele), assumimos uma posição eufórica, sentimentalista, deixando de lado a razão. Essa emoção de criar o novo (ou ir contra algo existente) levou os alunos a criarem A Onda, que mesmo provocando mudanças positivas na vida de cada indivíduo, não de um sistema ditatorial, que ameaça e reprime aqueles que não fazem parte. E se não atentarmos a isso, chegaremos ao mesmo ponto que eles.



É enxergando somente os pontos positivos que eles aderem o fascismo/nazismo sem se darem conta. O interessante é que quando a ideia de praticar o sistema autocrático é proposta pelo professor, os alunos questionam e desprezam sua relação com o nazismo, mas aos poucos vão sendo absorvidos pelo sistema ditatorial. O que muitas vezes causa esse convencimento é a crença de que terceiros (no caso do filme, o professor) são donos da verdade absoluta e se deixam levar pelas palavras de líderes, muitas vezes autoproclamados, deixando de lado suas ideias e ideais.

No fim, ao enxergar as proporções negativas que seu projeto alcançou, o professor decide trazer seus alunos de volta a realidade. Não é uma tarefa fácil, para convencer pessoas a deixar seu fanatismo de lado e esquecer os moldes de um sistema imperfeito por natureza é necessário um choque realmente grande. E é o que acontece, quando a disposição de todos é colocado à prova, quando a teoria bate de frente com a prática, chega o momento em que o ser-humano define até onde chegaria por um ideal que não é realmente seu.

Deixando a ideia de lado e se auto redimindo, os sobreviventes são inocentados, mas essa garantia de inocência não é o suficiente para que esqueçam o que viveram. As cicatrizes de uma ditadura, seja militar ou não, são mais fundas do que imaginamos e duram por gerações. A nossa ainda está marcada na pele daqueles que a viveram, e na cabeça dos que apenas leram (e essa leitura foi o suficiente) a respeito. Vez ou outra ela abre, mostrando que é algo que não se cura e nos lembrando sempre de não procurar por mais feridas.

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Postado por Tadeu Elias Conrado
5/10/2018 às 22h22

 
A melhor versão shakespeariana de Kurosawa

Não fui ao cinema no último final de semana. Embora queira assistir muito do que está em cartaz, não havia tempo. Mas fui ao teatro. Assistir Hamlet, drama de Shakespeare montado pela Armazém Companhia de Teatro. Até então, só havia visto algumas das inúmeras adaptações para o cinema e não fazia ideia que eram versões de obras de Shakespeare, com exceção das que recebiam o nome. Dirigida por Paulo de Moraes e com Patrícia Selonk, Ricardo Martins, Marcos Martins, Lisa Eiras, Jopa Moraes, Isabel Pacheco e Luiz Felipe Leprevost no elenco, o público presente foi apresentado a umas das tramas mais famosas do dramaturgo inglês. Contando com algumas atualizações, muitas vezes cômicas, deixando o espetáculo mais próximo dos dias de hoje.



Há 4 anos, quando Shakespeare completaria 450 anos, surgiram muitas listas de filmes baseados em sua obra. Revi alguns dos filmes com outros olhos, levando em consideração a história original. Em relação a Hamlet, o que mais me chamou atenção foi 'Homem Mau Dorme Bem’ (1960), de Akira Kurosawa. Uma mostra em homenagem ao diretor, que aconteceu no ano seguinte, descobri que a importância do filme vai muito além de uma nova visão da obra de Shakespeare. Acontece que em 1959, com maior visibilidade, Kurosawa fundou sua própria produtora, a Companhia de Produção Kurosawa. ‘Homem Mau Dorme Bem’ foi uma escolha arriscada como primeira produção. Baseado no roteiro de seu sobrinho, Mike Inoue, o filme trazia aspectos políticos e sociais que não faziam parte de seu repertório em longas anteriores.

Relacionar o filme de Kurosawa a Hamlet não é uma tarefa muito difícil. O Príncipe Hamlet busca vingar a morte de seu pai, o Rei Hamlet. Muitas vezes o personagem parece estar dominado pela loucura, mas tudo parece ações falsas, parte de seu plano para investigar e descobrir quem foi o assassino de seu pai. Já em Homem Mau, Koichi Nishi desconfia da versão contada sobre a morte de seu pai, onde dizem que ele se atirou pela janela há cinco anos. Para investigar o caso, ele acaba por se casar com a filha de um grande empresário do Japão, que era dirigente da empresa onde seu pai trabalhava. ficando próximo de seus suspeitos.

Os primeiros 20 minutos do filme é tido como um dos melhores trabalhos de Kurosawa. O casamento de Koichi nos dá pequenas amostras do que vai acontecer durante o filme, mas nada que deixe a história previsível. Embora o restante não acompanhe a maestria do começo, é interessante ver como o diretor trata temas tão censurados no Japão, como a corrupção e assassinato político. Levando em conta a época, enquanto o filme era produzido muitos japoneses, em sua maioria jovens, se rebelavam contra o Tratado de Segurança EUA-Japão, que ameaçaria a democracia e daria mais poder a políticos e corporações. Quando estreou, embora tenha tido uma bilheteria modesta, ‘Homem Mau Dorme Bem’ foi um sucesso da crítica. Sendo uma das melhores versões shakespeariana do diretor, que levou outras obras ao cinema.

É impossível não fazer paralelos com a situação do Brasil, já nos dias de hoje. Se analisarmos com atenção, temos uma democracia ameaçada e o poder está nas mãos de políticos e corporações e aqueles que deveriam trabalhar a favor do povo, fazem o que bem entendem, silenciando quem os contraria. Essa situação virou algo tão comum que nem é preciso citar nomes para que todos saibam sobre o que/quem estou falando. E existem hoje muitos Hamlets e Nishis em busca de vingança. Mas a tragédia real não consegue ser tão romantizada quanto os que vimos na TV ou no palco. É sempre mais cru, obscuro.

No fim de tudo, Hamlet consegue uma falsa vitória. Descobre que seu tio, Claudius, é o assassino de seu pai. Mata ele e todos os personagens, no fim acaba morrendo junto com eles. Já Koichi Nishi, morre em um acidente de carro, mas deixa a dúvida: foi mesmo um acidente, ou alguém o provocou? Enquanto isso, os assassinos de seu pai saem ilesos. As duas histórias chegam ao fim de maneira fria, impiedosa. Isso deixa o espectador desamparado, depois de um convite para entrar em narrativas tão intensas, um final tão desconcertante chega a ser desapontador. Mas nem sempre um príncipe ou um herói encontram o mistificado final feliz. Mas talvez as duas obras tenham como objetivo mostrar a ganância e impunidade que assolava a Dinamarca em 1600, o Japão em 1960 e o mundo inteiro em 2018. E só nos resta indagar: quanto tempo mais levaremos para aprender?

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Postado por Tadeu Elias Conrado
1/10/2018 às 21h50

 
Ingmar Bergman, cada um tem o seu

100 anos de Ingmar Bergman! Demorei um pouco para conhecê-lo, mas logo o tomei como meu diretor favorito. Por ser um diretor tão diversificado, sempre dizem que cada um tem um Bergman e como todo bom bergmaniano, também tenho o meu. Escolhi filmes que me trazem lembranças e experiências, já que escolher analisando a genialidade do diretor seria uma tarefa muito difícil. Selecionei dois filmes: A Hora do Lobo (1968) e Noites de Circo (1953), senão acabaria falando de todos os filmes.

Comecemos então com A Hora do Lobo, o primeiro que assisti. Diz-se que as horas que ficam entre a meia noite e a aurora são as horas do lobo. É nesse momento em que um casal, formado por Erland Josephson (Johan) e Liv Ullmann (Alma), entra em conflito. Depois de mudar para uma ilha habitada por pessoas misteriosas, o casal entra em um estado crítico e as madrugadas são tomadas pelas histórias de Johan, carregadas de dores e aflições. Inicialmente o filme deveria se chamar Os Antropófagos, o que deixaria claro o mistério em torno do estranhos habitantes da ilha. Mas no final, A Hora do Lobo acabou por ser um bom nome.

Outro filme que gosto muito é Noites de Circo (1953). Não é só o expressionismo destacado em uma época em que era requerido, ou as atuações formidáveis que me atraem para Noites de Circo. Existe algo que me faz assistí-lo sempre que quero ver um Bergman. No filme o diretor coloca uma disputa entre o circo e o teatro. Um amante das duas artes, Bergman nos leva aos bastidores mostrando as dificuldades em viver num circo intinerante e as disputas de egos dos artistas de teatro. Mas no filme eles nos mostra o quão comum os dois podem ser.

Com esses 100 anos, vão exibir muitos Bergmans nos cinemas, uma ótima oportunidade para assistir seus filmes na tela grande. Se me permitem uma dica, o documentário 'Bergman - 100 Anos' é uma ótima escolha para quem não conhece o diretor. Mesmo sendo um doc, algumas histórias são tão mirabolantes que até parece ficção.

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Postado por Tadeu Elias Conrado
11/9/2018 às 08h14

 
Uma jornada Musical

Eu tinha 16 anos quando tive minha primeira experiência com musical em uma sala de cinema. Naquela época, dez anos atrás, o gênero já havia deixado de ser moda há tempos, enquanto eu estava na onda dos filmes de ação que saiam aos montes. Porém, não poderia negar um filme com Johnny Depp, fosse ele qual fosse. Sweeney Todd (2008) não foi o primeiro musical que assisti, mas o mais marcante (por ter sido o primeiro no cinema) e, por isso, nunca me atrevi a assisti-lo novamente.

Em 1927 o cinema recebeu uma surpresa, em busca de inovação a Warner Brothers lançou The Jazz Singer (O Cantor de Jazz, dirigido por Alan Crosland). Embora as canções não parecessem muito com o jazz como conhecemos, o filme foi um marco por trazer, pela primeira vez, um disco de acetato onde as falas e a música eram sincronizadas. Até então o cinema mudo contava com trilhas sonoras emprestadas de Tchaikovsky, Wagner, Chopin e muitos outros compositores clássicos, mas essa nova empreitada pedia mais, então os grandes estúdios começaram a contratar compositores ainda vivos, que podiam criar canções originais para seus filmes.

Outro musical que me lembro, embora vagamente, é O Mágico de Oz, versão de 1939, não recordo qual o motivo, mas o exibiram na escola onde eu estudava o primário. Partindo para os filmes que marcaram época e, vez ou outra, os encontramos em algum artigo quando o assunto é cinema, ou até mesmo história, todos devem se lembrar de Cantando na Chuva (1952) onde os diretores Stanley Donen e Gene Kelly apresentam não só um musical, mas também um sapateado que se tornou uma referência ao filme – uma das danças do filme foi usada em O Lado Bom da Vida (2012, dirigido por David O. Russell) e ficou formidável.

Depois disso tivesse diversas produção, tendo seu auge entre os anos 1950 e 1980, e muitos viraram grandes espetáculos, o vieram deles, como A Noviça Rebelde (1965, dirigido por Robert Wise) que ganhou a crítica e o público nas telas e na Broadway. Hoje vemos que assim como o cinema em si, o musical foi tomando novos rumos, por vezes parece que hoje não temos mais nenhum filme que se encaixe no gênero, mas se olharmos com atenção vemos que eles apenas se modernizaram e trouxeram a moda para si. Vemos esse novo musical em filmes como Apenas Uma Vez (2006), Mesmo Se Nada Der Certo (2013), a franquia Ela Dança, Eu Danço e Música, Amigos e Festa (2015).

Musicais é um assunto que tem muita lenha para queimar, se formos mencionar cada ator que merece (e os que não merecem, também) destaque, teríamos um texto para ser lido por horas a fio. Como meu tempo não permite e também, por ter vivido em épocas totalmente distantes, não poderia trazer nada que muitos dos leitores já não saibam. Mas fica aqui o início, lembrando que essa semana chega aos cinemas mais um musical oriundo dos palcos da Broadway, Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo, que dá sequência ao filme lançado em 2008, onde vimos uma imponente e divertida Meryl Streep.

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Postado por Tadeu Elias Conrado
30/7/2018 às 08h32

 
Jeferson De, Spike Lee e o novo Cinema Negro

Essa semana começa duas mostras interessantes em São Paulo, uma delas é “Spike Lee e o Novo Cinema Negro”, que estreia amanhã (24) no Centro Cultural São Paulo, onde serão apresentados nove filmes do ator. A outra reúne uma maior quantidade de filmes e uma pluralidade de gêneros, embora mantenha seu foco, o 13º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que tem seu início marcado para o dia 25 (quarta).

O que esses dois eventos têm em comum? A mostra do diretor Spike Lee já mostra em seu título, já o Festival Latino-Americano traz como homenageado o realizador Jeferson De, que começou suas manifestações em prol do cinema negro muito antes de entrar em pauta o sistema de cotas raciais (iniciada em 2003) com a criação do Dogma Feijoada, no ano 2000. O manifesto estabelecia que: 1) o filme tem de ser dirigido por realizador negro brasileiro; 2) o protagonista deve ser negro; 3) a temática do filme tem de estar relacionada com a cultura negra brasileira; 4) o filme tem de ter um cronograma exequível; 5) personagens estereotipados negros (ou não) estão proibidos; 6) o roteiro deve privilegiar o negro comum brasileiro. Seu filme de estreia foi Bróder (2009), recebeu prêmios em Gramado e Paulínia, além de ser selecionado no 60º Festival de Berlim.

Em 2016 Spike Lee divulgou em seu Instagram um comunicado falando sobre a ausência de negros nas categorias Melhor Ator/Atriz e Melhor Ator/Atriz Coadjuvante. Embora naquele ano não houvessem atrizes ou atores negros que pudessem concorrer ao prêmio, sua publicação foi importante para que a indústria cinematográfica abrisse os olhos para a questão. No ano seguinte o diretor Barry Jenkins recebeu o prêmio de Melhor Filme com Moonlight e tivemos nomes como Denzel Washington, Naomi Haris, Viola Davis e Mahershala Ali, sendo que esses últimos dois receberam os prêmios em suas categorias. O comunicado de Spike Lee não foi o responsável por essas conquistas, foi só um mediador disso, ele deu a oportunidade para que mais negros chegassem ao cinema e mostrassem seu trabalho e recebessem reconhecimento por isso.

As coisas estão mudando no cinema, não só no Brasil, no mundo inteiro. Isso não se refere apenas ao Cinema Negro, mas também nas questões de gêneros. Podemos ver em festivais como esses, que buscam dar oportunidades aqueles que outrora não encontravam seu espaço, ou uma forma de falar e ser escutado. E tudo isso não é algo que favorece somente esse pessoal que está encontrando seu espaço, mas o público em geral que recebe através não só do cinema, mas de diversos meios, novas histórias, culturas e conhecimento. Por isso vemos a necessidade que Spike Lee viu em 2016, que Jeferson De viu em 2000 e tantas outras pessoas viram muito antes deles, a necessidade de falar sobre o assunto, quebrar o tabu e colocar as cartas na mesa, para que todos joguem o mesmo jogo e assim, todos saem ganhando.

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Postado por Tadeu Elias Conrado
23/7/2018 às 19h00

 
Shomin-Geki, vidas comuns no cinema japonês

Tendo como grandes nomes os diretores Mikio Naruse e Yasujiro Ozu o Shomin-Geki surgiu a partir do estilo Gendai-Geki, que trazia uma visão moderna da civilização e da cultura japonesa. Já partindo para o Shomin-Geki, os diretores trouxeram enredos mais próximos da população japonesa, explorando histórias vividas pela classe baixa. Porém, tanta simplicidade impedia que filmes nesse estilo chegassem a grandes públicos, embora fossem muito populares no Japão durante os anos 30, sua simplicidade, muitas vezes, poderia ser monótona, com cenas longas ou lentas, muitas vezes focando edifícios para que o espectador possa apreciar o lugar.

Nos últimos dias o Centro Cultural São Paulo tem exibido filmes na mostra “Shomin-Geki Cinema, a família segundo Ozu, Naruse e Kore-eda”, que reúne filmes de diretores consagrados, como os mencionados, e novos diretores, como Miwa Nishikawa. Confesso que não conhecia esse movimento do cinema japonês, já tinha assistindo alguns filmes mais recentes do Kore-eda, devido ao meu interesse na cultura japonesa em geral, mas nem imaginei que havia algum segmento. Fui assistir ‘O Que Eu Mais Desejo’ (Kiseki, 2012), de Hirokazu Kore-eda, onde o diretor nos apresenta dois lados da vida, através de dois irmãos que vivem distantes depois da separação dos pais. O mais velho vive com a mãe em um lado da ilha Khyusu, enquanto o mais novo, do outro lado da ilha, mora com o pai. Enquanto o mais novo vive de uma maneira quase independente, o mais velho anseia em unir sua família novamente, embora esse desejo pareça improvável, sua esperança aumenta ao ouvir, na escola, que um desejo formulado no cruzamento de dois trens em alta velocidade se realiza. Então sua jornada começa e toma a atenção do espectador, com uma busca tão sincera no desejo de uma criança, sendo descrita com a simplicidade e sutileza que só poderia ser atingida por Kore-eda.

A mostra “Shomin-Geki Cinema, a família segundo Ozu, Naruse e Kore-eda” vai até o dia 14 de julho e terá mais uma sessão de “O Que Eu Mais Desejo”, além de “Pais e Filhos” (2013), “Era uma Vez em Tóquio” (1953) e alguns outros, e a entrada é gratuita.

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Postado por Tadeu Elias Conrado
11/7/2018 às 21h00

 
Lars Von Trier não foi feito para Cannes

O cinema sempre passou por mudanças no decorrer dos anos, muitas delas revolucionárias, que levavam uma nova visão de mundo a quem estivesse disposto a ver. Não era aquele mundo de mocinhos e bandidos, da típica jornada do herói. Era um mundo cru, livre de efeitos especiais e com clichês tão comuns que pareceria a história de qualquer um que estivesse assistindo. Foi assim na França, quando Claude Chabrol, François Truffaut e outros tantos cineastas franceses começaram a tomar a cena cinematográfica do país, após as manifestações estudantis de 68, iniciando o que a jornalista Françoise Giroud chamaria de Nouvelle Vague. Em uma Itália pós-guerra, Roberto Rosselini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti fizeram o mesmo, com o que é conhecido como Neorrealismo. E o Brasil não ficou para trás, quando em época de ditadura, Glauber Rocha e Carlos Diegues se uniram a outros cineastas nordestinos e deram origem ao Cinema Novo. Todas essas manifestações tiveram algo em comum, o realismo, a necessidade de trazer o cinema para mais perto do cotidiano comum e mostrar para o mundo as injustiças, crenças e superações do povo.

Com o dinamarquês Lars Von Trier não foi diferente, em 1995, ao lado do também diretor Thomas Vinterberg, iniciou o movimento Dogma 95, que propunha um cinema mais real e menos comercial. Os filmes que estrearam o movimento nos cinemas foi Festa de Família (1998) de Vinterberg e, alguns meses depois, Os Idiotas de Lars Von Trier. Mas a visão de Lars sobre a realidade era um pouco mais peculiar em relação a ideia dos movimentos nos outros países e o que esses denominavam como cinema cru, algumas vezes nas mãos do dinamarquês ganhava outras letras e se tornava "cruel", o que lhe rendeu muitas polemicas e intrigas no decorrer da carreira.

Realidade de uma persona non grata, retorno e debandada em Cannes

Em 1994 Lars recebeu os prêmios do júri em Cannes, com o filme 'Ondas do Destino', e a Palma de Ouro com 'Dançando no Escuro' em 2000. Mas foi em 2011 que as coisas mudaram para o diretor, no lançamento de 'Melancolia' quando Lars disse que "entendia Hitler', logo a organização do Festival de Cannes lhe deu o "prêmio" de persona non grata e o baniu do evento. O exilio durou 7 anos e, depois do que foi apresentado no último dia 14, há quem diga que tal afastamento poderia ter durado mais tempo.

Lars Von Trier sempre foi um diretor polemico, certo que as vezes ele exagera na realidade que busca trazer para os seus filmes. Dessa vez não foi diferente, com 'The house that Jack built' (que deve chegar ao Brasil ainda este ano) Lars trouxe um lado mais violento da sua realidade. Jack é um serial killer e essa foi a maneira que ele achou de mostra-lo, nada acontece por traz das cortinas, o que ele entrega não é os gritos de horror atrás de uma porta fechada, está tudo ali, tudo cru, para quem tiver estômago para ver.

Embora alguns atores tenham concordado com a existência de cenas pesadas demais, partiram em defesa do diretor, ressaltando a arte que Lars apresenta no filme, "Não houve hesitação da minha parte quando Lars me convidou para fazer 'The House That Jack Built'. Ele é um artista", disse Bruno Ganz disse em entrevista ao portal O Globo. Já a atriz Siobhan Fallon Hogan – que já havia trabalhado com o diretor em Ondas do Destino (1994) – partiu em defesa do filme, afirmando que "Estamos falando de um serial killer, não há outra maneira de descrevê-lo".

The House That Jack Built deve estrear no Brasil ainda esse ano, para nós só resta esperar para ver se esse Lars Von Trier que fez tantos especialistas desertarem em um festival como é Cannes, vai aproveitar-se de toda essa polêmica e lotar as salas do circuito cult de cinemas do país.

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Postado por Tadeu Elias Conrado
27/5/2018 às 11h52

 
Que comece o espetáculo!

Eu tinha 6 anos quando os meus pais me levaram ao cinema pela primeira vez. O ano era 1997 e o filme era Titanic, não era um filme muito atraente para uma criança, mas ver as coisas acontecendo, ali na tela grande, me garantiram duas coisas: eu não viveria sem cinema e o Leonardo DiCaprio é um ator sensacional! Depois disso foram vários filmes, entre live action e animações, que foram formando minha bagagem cultural, que é bem eclética. O colegial foi uma época importante, estudava perto do cinema e uma vez ou outra eu conseguia ver os lançamentos da semana, além de pagar meia, conseguia aproveitar as promoções.

Já era agosto de 2011, quando em meio a uma daquelas minhas aventuras de ir ao cinema sozinho, para a primeira sessão do dia, onde encontrava uma sala com poucas pessoas, me surgiu a ideia de escrever sobre o que assistia naqueles dias. O filme era Planeta dos Macacos – A Origem, no já extinto portal Frequência Global, depois disso sempre tentei passar as minhas experiências de cada sessão, foram inúmeros filmes, sempre aprendendo como escrever e atrair o público para aquele universo que tanto me chamava. Depois disso vieram alguns outros portais e blogs, nos quais aprendi ainda mais, por meio de cabines de imprensa e coletivas.

Certa vez li em ‘Cinema ou sardinha’, de Guillermo Cabrera Infante, um texto que traz como título “Por quem os filmes dobram”, onde ele conta como o cinema se modifica em prol de seus espectadores, com legendas e dublagem fazendo cada película ultrapassar fronteiras políticas e culturais. Ele termina o texto dizendo que é por esses espectadores que os filmes dobram, vez ou outra me pego pensando nisso e percebo mais uma vez como o cinema pode ser grandioso, então esqueço o cansado causado pela correria do dia a dia e parte em busca de mais uma aventura na tela mágica.

Então começo mais um projeto, em busca de compartilhar minhas experiências e inspirar as pessoas a fazerem o mesmo, como acontece comigo quando leio análises de críticos que admiro. Espero que todos tenham uma boa leitura e em seguida uma extraordinárias sessões!

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Postado por Tadeu Elias Conrado
14/5/2018 às 14h51

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