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Terça-feira, 19/4/2016
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Depois do cinza

Ali estava uma tela impossível, mas alguém conseguia desenhar na superfície irregular, eram traços, cores, efeitos, técnicas que venciam chapiscos e infiltrações. Isabela, garota sempre ocupada com fones minúsculos que lhe invadiam os ouvidos, era a única a se impressionar com aqueles desenhos, afinal um muro de cemitério não é dado a receber olhares que demorem tanto. Na verdade, nem era a única. Todas as vezes antes de fazer subir e descer o rolo ensopado de tinta cinzenta, o zelador da prefeitura se demorava em contemplar o desenho, reparava cada detalhe como se se despedisse. Isabela não se importava quando dava de cara com o muro pintado de cinza, sabia que em breve haveria de se encantar com um novo desenho. Até gostava que fosse assim, a espera tinha sabor que alegrava parte do dia. Depois, Isabela sentiu crescer uma força que lhe exigia invadir aquele mistério. Arriscando-se entre as artimanhas da madrugada, passou a fazer vigília em frente ao cemitério e eis que o flagrante se deu na terceira vez. Lá estava ele a tratar o muro como relíquia. Isabela reconheceu as galochas, os cabelos cheios, a postura torta. E o jeito de contemplar o desenho. Um artista que vivia de renovar sua obra. O zelador da prefeitura era assim.



Texto originalmente publicado no site flaviosanso.com
[email protected]

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Postado por Flávio Sanso
19/4/2016 às 22h35

 
OBSESSÕES DU BEM

Hoje sou o puro
e simples movimento,
sem olhos, ouvidos
e demais sentidos

Tudo pelas torcidas desorganizadas

Tudo pelas massas dissolvidas

Como as chuvas ou tempestades...
trovoadas, fazendo cócegas
nos oceanos

As águas pelas águas corridas.
Sem acidentes ou desenganos.

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Postado por Metáforas do Zé
18/4/2016 às 09h46

 
As últimas de hércules - Veja a tira cômica!

Os doze trabalhos de hércules, o pesquisador

Hércules é um dos habitantes da cidade Universitária de Atenas. Ele é metade mortal e metade-aspirante à PH-Deus . Vive rodeado por PH-Deuses e imerso em problemas, de pesquisa. Ele é orientado por Zeus, o Deus dos Deuses, mas quem o orienta mesmo é Quíron, seu co-orientador, uma vez que Zeus vive em seus congressos no olimpo e (para sorte de Hércules) nunca aparece. Quíron é um centauro, mas para Hércules ele é um centauro. Junto com Jazão, Narciso, Aquiles e Orfeu, Hércules vive inúmeras aventuras em direção ao título de PH-Deus. Há quem diga que só Hércules tem condições de chegar à PH-Deus, isso, é claro, se ele sobreviver aos seus 12 trabalhos como doutorando.



Acompanhe a tira cômica do herói toda semana!



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Postado por Blog de Alex Caldas
17/4/2016 às 13h31

 
Relógios

Sentindo a quietude das horas, antigos
relógios transformavam o passado.
Na filigrana do remoto, a mutação
das horas ao alcance das mãos.

Grãos de tempo
vazavam desertos de areia.
O jorro das fontes alimentando
relógios d’água.
Ao amparo das sombras, as viagens
ao sol cadenciando as estações.

Meus pensamentos agora perseguem
ponteiros que se perdem no ponto de partida.
O passar se recolhe em seu casulo
de metal.

Diante de mim, o instante
dizima invisível corpo.
Diante de mim, o tempo
debate-se em clausura.

Da monotonia à dor do cárcere,
esqueço-lhe a existência, na impermeável
passagem de mim aos enigmas
do outro.

À urdidura do remoto,
creio nas metamorfoses.

Também habito
o casulo do tempo.

Em busca das crisálidas,
não me faço resistência.

(Do livro 50 poemas escolhidos pelo autor)

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Postado por Blog da Mirian
17/4/2016 às 09h12

 
O impeachment veio rápido.

O curso normal dos eventos seria a presidente renunciar antes do processo de afastamento terminar. O motivo seria o desastre nas eleições municipais e o abandono da defesa do governo pelo PT.

O impeachment correu mais rápido do que eu esperava. O motivo é que o governo forçou a barra, com o Delcídio e a nomeação do Lula. A interferência escrachada nos poderes da república forçou as ações do congresso, que de outra forma teria sido mais lento, prudente, e conservador. A coisa toda se tornou inevitável - um pouco porque o PT está deteriorando a situação econômica do país mais rápido do que previsto; um pouco pelo afinco do judiciário em revelar amplitude insuspeitável da corrupção; mas principalmente porque o governo está agindo anticonstitucionalìssimamente para evitar o afastamento.

Isso vai se provar ruim para o país. A eleição municipal teria servido psicològicamente como um referendo. O governo por enquanto ainda tem uma massa de apoio - seja ideológico, seja comprado com mortandela ou mala preta milionária, seja por afinidade de incompetência - que vai tentar criar confusões, ao contrário de quando Itamar e Sarney assumiram. Esse governo do vice peemedebista vai ter uma dificuldade adicional.

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Postado por O Blog do Pait
17/4/2016 às 08h57

 
Por Que Impeachment?

Porque o impeachment não é um golpe como alardeia o governo, mas um antídoto constitucional, decerto extremo, só aplicado aos que insistem em tolher a ordem vigente em nome de interesses particularistas. Para o governo, o impeachment era um recurso destinado a outrem, e não a si próprio. A razão para isso está no fato de o partido se conceber como a verdadeira encarnação da vontade do povo. Sob tal pretensão, repousa a idéia de democracia popular, ou seja, de que ao governo bastaria o apoio dos que lhe concederam o voto. Porém, esta é uma condição necessária, não suficiente; pois nas modernas democracias governa-se para todos e não para um grupo seleto, o que pressupõe uma boa dose de observância às regras do estado de direito. Daí as democracias populares serem uma miragem do ideal democrático que, invariavelmente, se degeneram sob o ímpeto voluntarista da liderança popular. Por isso, vale recordar a sagaz lição de J. G. Merquior, em A "Natureza do Processo" (1983), de que a verdadeira democracia é a liberal, pois só nesta reside à oportunidade de se vivenciar o poder como autoridade, jamais como força ou violência.

Impeachment, porque, além de ser um instrumento legal, o crime de responsabilidade que lhe dá vida, se faz presente. As ditas “pedaladas fiscais”, em que pese o nome simpático, são a marca de um retrocesso. Pois, nelas se esconde o desejo de voltarmos a um estado de desmazelo a respeito das contas públicas, com a finalidade de satisfazer o saudosismo por um nacional-desenvolvimentismo. Trata-se da velha estória de que, para vencermos o subdesenvolvimento, um pouco de inflação não faz mal a ninguém; decorrendo assim a expansão dos gastos públicos, a generosa, mas nem sempre realista desoneração de impostos, o aumento de salários acima das taxas de produtividade e, "last but not least", o controle de preços.

O resultado é que só uns poucos se beneficiam dessa trágica conduta emanada do filantropismo populista, cabendo aos demais pagar a conta, via inflação e/ou aumento de impostos. Eis aí, diria Roberto Campos, a receita para se empobrecer mais rápido. Nisso, reside a mais notável ignorância acerca da interdependência das variáveis, um dos fatores decisivos de nossa complexa vida contemporânea, cuja lição é que não se pode agir arbitrariamente sobre uma variável sem que as demais sejam afetadas. Assim, temos adiado o inadiável, isto é, o encontro com as boas maneiras da lógica, que nos ensina que o desenvolvimento econômico se faz com robustos sacrifícios de poupança, constante aprimoramento do capital humano e uma indefectível dose de bom senso.

Por isso que dissemos sim ao impeachment. Não se tem, somente, o crime de responsabilidade. Mas todo um conjunto de circunstâncias que nos leva à outra metade da acusação, os chamados aspectos políticos. Pois, como tem sido averiguado na recente história dos países que dão lume ao que Samuel Huntington chamou de "third wave democratic", presidentes se tornam vulneráveis a processos de impeachment a partir da convergência de três fatores principais: escândalos de corrupção, envolvendo o núcleo central do poder; perda da maioria da câmara; recessão econômica, do tipo em que a causa está nas decisões tomadas pelo governo, e não em eventos exógenos, além dos protestos massivos que eclodiram em 2013. Dificilmente um presidente verá seu mandato ameaçado por um ou outro fator. Porém, o governo Dilma Rousseff, devido à vasta capacidade de prodigalizar erros, conseguiu dar ensejo aquilo que muitos analistas chamam de "a tempestade perfeita".

Consequentemente, a corrupção não é apenas mais um escândalo, mas uma atividade sistêmica. Como se das urnas se tivesse lavrado o monopólio de uso da corrupção, canhestramente justificado pelos petistas como um instrumento legítimo de dominação. A Providência, segundo a metafísica social petista, teria lhes conferido um papel especial no que tange à corrupção, permitindo-lhe usá-la contra aqueles que tradicionalmente a tinham como um prêmio por vencer o embate eleitoral. O saldo dessa utopia às avessas foi o agravamento de vários aspectos do sistema político, que o faz voltar-se para si mesmo, como se pode corroborar com o exponencial crescimento no número de partidos.

Já a recessão, que desponta como a mais severa desde a última, nos distantes anos 30, teve como antecipamos acima, as digitais do governo. Adicionalmente, refletem um estatismo vulgar de antes da queda do muro de Berlim, amplamente desacreditado pela fartura de evidências contrárias em razão da importância, ainda não completamente entendida por certas seitas políticas, da natureza complementar entre democracia e mercado. Nesse sentido, deveríamos está debatendo como ajustar o tamanho do estado ao do PIB, sabendo que não há estado para todos, tal como vislumbrado pelo modelo cesáreo-papista-populista ainda em voga.

E a perda da maioria no parlamento? Esta se deu, ao menos, por três razões. Primeiro porque a maioria era artificial, ou seja, a aglutinação se devia menos às ideias políticas e mais ao fisiologismo reinante. Segundo, o projeto político petista é muito recalcitrante em não compartilhar os despojos. Assim, lideranças partidárias que se atribuíam alguma importância foram relegadas a papéis secundários junto às esferas de decisão, incluído aí o vice-presidente. Terceiro: em algum momento, o governo nutriu a vil ambição de reduzir o poder de aliados importantes como o PMDB. Um erro que deflagrou uma corrida armamentista tácita nos bastidores, pois na política, assim como no mundo natural, impera o espectro da Rainha Vermelha, em que todos precisam correr continuamente para permanecer nos mesmos lugares. Destarte, ante a menor suspeição monopolista, o que fora uma vasta maioria se transforma numa oposição renhida.

Por último, temos as manifestações, cujo choque fora acachapante para o governo, visto que nasceram de forma espontânea e emergente, isto é, fora dos círculos políticos tradicionais. Na raiz dos protestos, está uma profunda insatisfação não só com o projeto petista, mas também com o sistema político como um todo, devido à sua incapacidade de responder satisfatoriamente aos anseios da população. Finalmente, a sabedoria das multidões tinha emergido; e ao emergir, se deparou com um limite bem claro: o sistema é frágil não só porque é inábil em não suprir aquilo que promete, mas, sobretudo, por permitir que determinados grupos políticos acalentem pretensões autocráticas.

No âmago lulopetista, existe uma séria propensão que faz com que o partido se veja como o portador da verdade final. Nas origens dessa maneira de ver, está a junção de marxismo e populismo. Cada qual oferecendo o que o outro não tem, a saber, a liderança carismática de cá e o conteúdo revolucionário de lá. Sendo que ambas estão definitivamente irmanadas quanto ao alto pendor messiânico, ao ponto do filósofo francês Raymond Aron denominá-las de "religiões seculares". Da crença populista, resultam governos que debilitam propositalmente as instituições de modo, que estas se transformem em apêndices da vontade da liderança carismática e do partido-estado. Opiniões contrárias não são permitidas, quando não são encaradas como inimigas da causa. Uma rápida vista de olhos no panorama de nossa Latino-América nos dá uma ideia dos resultados catastróficos. A única tendência real no populismo é o ímpeto rumo a maiores apelos irracionais.

É por isso que, tal como muitas Molly Bloom , dizemos sim ao Impeachment, porque o governo que ora desvanece só tem uma vocação, a do poder perpétuo, que gira em torno de um único pensamento: a busca irrefreável da sacralização de todas as coisas, detendo-se nas mais altas pretensões e esquecendo-se do essencial profano de nossas vidas que não pode ser redimido porque, como nos lembra a célebre frase de Immanuel Kant, tão ao gosto de outro iminente liberal, Sir Isaiah Berlin,"do madeiro tão torto de que é feito o homem, nada perfeitamente retilíneo pode ser talhado".

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Postado por Blog de Fabiano Leal
16/4/2016 às 20h34

 
Rabiscando a saída da sinuca

Escrevi isso ano passado, nunca postei. Vou postar sem reler. Está todo mundo tuitando demais e vou dar meu pitaco também. Sei que tem imprecisões mas não vou corrigir. Tem mais acertos do que a maioria das propostas que você lê por aí.

A situação econômica na qual o PT botou o Brasil só tem um aspecto inusitado: todas as outras crises das quais nos lembramos tinham causas variadas, internas e externas, problemas econômicos ou divergências sociais. Essa é a única na minha memória que foi engendrada pelo governo sozinho, rapidamente, a partir de uma conjuntura internacional amplamente favorável e de relativa concórdia interna. Nem por isso é menos real ou mais fácil resolver.

http://www.digestivoblogs.com.br/post.asp?codigo=5100&titulo=Nunca_antes_na_historia_desse_pais...

A crise exige medidas aparentemente contraditórias: diminuição de gastos e aumento de impostos para garantir a solvência do Tesouro a longo prazo; e estímulo às atividades econômicas para evitar contração desastrosa agora. Uma dificuldade é a falta de credibilidade de uma administração comprovadamente corrupta. Qualquer aumento do déficit no momento sinaliza a explosão dos desequilíbrios no futuro, e até para a possibilidade de calote; mas qualquer diminuição agrava a recessão em curso. A outra dificuldade é ideológica: a assim-chamada "esquerda", que de keynesiana não tem nada, exige cumprimento fiel dos ensinamentos que recebeu de seus professores - o gasto público sempre tem que crescer. Já a assim-chamada "direita", que de ortodoxa na economia também não tem nada, se põe a gritar que o remédio para todos os problemas é a redução das atividades do estado. Direita e esquerda trocaram de atitude desde o tempo do Millôr Fernandes; seja como for, já investiram demais nas posições pró e contra gastos para mudar de opinião em prol do País.

http://www.digestivoblogs.com.br/post.asp?codigo=4879&titulo=Acreditam_no_que_ensinam

1 - Mas existe uma saída canônica, de manual. Do lado da arrecadação, as despesas crescentes da União exigem aumento de impostos. É importante conter o crescimento dos gastos, mas não é realista imaginar que no total parem de crescer, uma vez que resultam de decisões com amplo apoio entre políticos e eleitores. Sem aumento dos impostos as contas públicas não fecham, mas o inevitável aumento precisa ser postergado. A forma de fazer isso é a introdução do imposto sobre movimentações financeiras com validade a partir de 2018. Trata-se do imposto que menos distorce a atividade de produtores e consumidores, e que tem menor custo de arrecadação. A alíquota deveria ser suficientemente alta para permitir cortes imediatos nos impostos mais daninhos, como os que incidem sobre o faturamento e folha de pagamento das empresas, especialmente da indústrias. O imposto do cheque incide sobre atividades do setor financeiro, menos produtivo e já excessivamente favorecido.

Aumento imediato aprofundaria a recessão e teria efeito negativo sobre a própria arrecadação, piorando o déficit e a situação das contas públicas. Austeridade já na hora errada é o que o governo está tentando fazer, com resultados ruins, conforme por todos previsto - em simetria aos maus resultados dos gastos excessivos dos 4 anos anteriores. O problema é que ninguém acreditaria numa lei que pudesse ser revertida por um governo mendaz ou um congresso imediatista. O aumento futuro, com validade apenas na próxima administração, teria que ser respaldado por um dispositivo constitucional, de difícil reversão - o Legislativo tem que amarrar suas próprias mãos.

2 - Não é fácil cortar os gastos da União. É fato que a máquina do estado é dispendiosa e ineficaz, e existem benefícios injustificáveis, especialmente nas aposentadorias para juízes, políticos, e apaniguados. Os cortes dos maiores exageros, incluindo o infame subsídio à bastardia dos netos dos militares, não teriam efeito grande nem imediato sobre as contas públicas. E a maior fração dos gastos ditos sociais são benefícios a pessoas realmente necessitadas, cujo corte além de ser politicamente infactível não é nem moralmente justificável nem de forma alguma vantajoso para a nação. É errado e ineficaz tentar resolver os problemas econômicos com o corte da assistência aos mais pobres, como está tentando fazer o atual governo. Os cortes devem ser feitos com critério de justiça e bom funcionamento do estado, não para resolver problemas de caixa.

Mais significativas são as transferências constitucionais a estados e municípios. Não é possível cortar essas transferências. Uma emenda à Constituição deveria exigir que a totalidade dessas transferências fosse aplicada diretamente em educação e saúde. Esses recursos - essencialmente retirados do estado subrepresentado eleitoralmente e levados para os 17 estados com populações mais pobres e com políticos mais vorazes - ao menos teriam que ser empregados com finalidades nobres. Nenhuma fração poderia ser usada para pagar salários administrativos ou fazer obras cujo controle é sabidamente duvidoso. Caso não fossem gastos em educação e saúde, exigida complementação pelos governos locais, os fundos ficariam retidos pela União, amenizando o déficit.

http://fmpait.blogspot.com.br/2014/10/para-entender-impostos-federais.html

3 - O maior gasto controlável do governo federal é com as empresas públicas. Elas rendem lucros contábeis regularmente, e prejuízos astronômicos nas horas mais difíceis. O BNDEs perde milhares de contos de réis todo mês com o subsídio implícito nos empréstimos a juros baixos - um valor maior que a assistência social aos mais pobres! Caso a taxa de juros dos empréstimos fosse equalizada ao custo que o governo e os cidadãos têm para obter os recursos, haveria uma quebradeira - a inadimplência hoje só é pequena porque o governo dá $ de graça. O valor presente dos subsídios futuros talvez chegue a casa do trilhão. A única saída é liquidar o banco, vendendo os ativos na medida que for possível, e assumindo o prejuízo na forma de um aumento da dívida pública líquida, que se tornaria igual à dívida bruta, conforme todos já contabilizaram em suas estimativas da capacidade do país saldar seus compromissos.

Similarmente, a Petrobrás hoje tem valor contábil negativo. As ações só continuam tendo valor na bolsa porque os acionistas imaginam que o governo vai salvar a empresa, seja diretamente com $ do sofrido contribuinte, seja achacando o consumidor de combustíveis pela força dos monopólios. Manter a empresa nas mãos do estado, confiando na capacidade e honestidade desse governo e de todos os futuros, ou pior, torcendo para que uma alta futura nos preços do petróleo compense a falta delas, não é um investimento - é especulação frívola. Não há alternativa racional a fatiar e privatizar a empresa, eliminando seus privilégios, após aprovar todos os dispositivos legais para tal necessários.

A situação do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Eletrobrás, e dos Correios, não está ainda tão clara. Por via das dúvidas, devem ser privatizadas, mesmo que concebivelmente a administração de algumas dessas instituições possa ter escapado à gestão temerária. A vantagem seria descolar o governo dos fundos de pensão das estatais, esses certamente transformados em braços armados da Orcrim. Diversos dos fundos foram materialmente liquidados por suas administrações recentes, e seria imoral fazer o contribuinte pobre pagar pelos erros dos administradores escolhidos pelos sindicatos dos funcionários. Sem a privatização das empresas, é quase certo que em breve os fundos vão começar a chantagear a sociedade para que cubra os roubos cometidos. No caso da holding de eletricidade, o país não pode continuar arcando com os custos de obras vagalume. Além de arriscar o abastecimento de energia, o pisca-pisca das obras dependendo de conveniências dos governantes cria despesas inaceitáveis.

Seria excessivamente otimista imaginar que as privatizações possam trazer recursos importantes para o Tesouro, uma vez que certas empresas estatais estão tecnicamente quebradas. O objetivo da privatização é limitar os inevitáveis prejuízos futuros, dando credibilidade ao compromisso de austeridade a longo prazo. Enquanto um futuro governo corrupto ou incompetente possa conseguir o controle dessas empresas, o risco de empréstimos ao Brasil se mantém alto mesmo nas conjunturas mais favoráveis.

4 - Só que tudo isso diminui o déficit futuro, mas não serve de estímulo para sair do buraco presente. O saber acumulado dos economistas nos ensina que o estímulo é indispensável para evitar o aprofundamento da recessão. São necessários investimentos nos setores mais retraídos, e cortes nos impostos mais deletérios. Além dos impostos que desestimulam a produção e o emprego, têm que ser cortados os impostos sobre importação, que dificultam a integração das indústrias do país às cadeias produtivas internacionais. Para compensar o atraso resultante dessas barreiras, os governos mais protecionistas, como o atual e os da ditadura, frequentemente desviam recursos dos grupos mais necessitados, com o objetivo de subsidiar empresas pouco competitivas porém muito influentes, notadamente fábricas de carros particulares e emissores de poluentes. O resultado dessa malversação de recursos é a deterioração da qualidade de vida, a perda de horas de trabalho e lazer, e a deterioração das contas públicas.

5 - Para combater os efeitos dessas políticas em vigor desde longa data, mas pioradas nos últimos anos, é necessário retomar as obras de infra-estrutura, em particular de mobilidade urbana, que foram inteiramente abandonadas desde a publicação dos tais PAC. Os investimentos em áreas primordiais, como o abastecimento de água no Sudeste, também têm que ser retomados, com recursos da União uma vez que os governos locais têm restrições orçamentárias legais, e aparentemente também de competência.

A capacidade técnica de realizar tais obras existe, e está crescentemente ociosa, devido aos problemas de caixa e de ética dos governos, o que causa desemprego e, por um mecanismo de realimentação, piora ainda mais as contas públicas. O problema é que a administração das construtoras está profundamente envolvida com a corrupção e não merece confiança. As concorrências para as obras teriam que ser transparentes e internacionais. O resultado provável é que empresas estrangeiras com alguma reputação de idoneidade ganhariam os projetos, e subcontratariam empresas e trabalhadores nacionais para a execução dos trabalhos. Com um mecanismo de controle independente das Orcrim que se instalaram nas empreiteiras, não há dúvida que os investimentos poderiam não apenas gerar empregos mas também resultar em obras prontas para quando a volta do crescimento econômico do país as exigir.

(Outras ações importantes para a prosperidade do país são bem conhecidas e devem ser lembradas em todas as oportunidades, embora não tenham relação direta com a crise atual: voto distrital para deputados e vereadores, com representação igual para eleitores de todos os estados; fim dos subsídios hediondos a partidos políticos e a meios de comunicação e quangos pró-partidos; fechamento dos cartórios; liberdade de organização dos trabalhadores e a despeleguização sindical; desconfisco do fundo de garantia dos trabalhadores; extinção dos subsídios à imprensa governista; e desprivatização das universidades e dos currículos do MEC, com o ensino deixando de servir primordialmente a interesses ideológico-corporativos. Não é o caso de detalhar essa lista num argumento a respeito das respostas para a crise imediata.)

São 5 ações principais: aumento futuro de impostos; cortes de gastos; privatização das empresas capazes de causar maiores danos; corte imediato de impostos regressivos; e investimentos em infra-estrutura.

Com o aumento futuro da arrecadação garantido, o aumento temporário do déficit e a contabilização de despesas inevitáveis não ameaça a viabilidade das contas públicas. A estabilidade de tudo isso se assenta na credibilidade do governo. O atual a perdeu. Acredito que a solução natural seria a renúncia da presidente, que no mais tardar aconteceria quando o Partido eleger zero vereadores em 2016. Como aconteceu em 1992, o vice-presidente assumiria um governo quase que de salvação nacional, com apoio de todos os partidos exceto os que levaram o país à bancarrota. O impeachment antes de que a extensão do desastre fique absolutamente clara para a totalidade do eleitorado, a menos que forçado pelo resultado das investigações policiais, dificultaria esse caminho - idealmente a troca de governo ocorreria após a figura do ex-presidente Lula ficar inexoravelmente suja, para que ele tenha menas possibilidades de seguir o plano de acusar todo o desastre da administração que comandou como erro de uma indivídua e se apresentar como salvador da pátria. O novo governo procederia às medidas de saneamento tecnicamente necessárias, mais ou menos como em 1992. Várias pessoas entendem que a sequência aqui apresentada é a correta, apesar de não ter sido publicada na grande imprensa até onde posso afirmar, e teriam competência para negociar os detalhes espinhosos com o Congresso nacional na situação de emergência à qual a atual administração está nos conduzindo. É só trocar a politicagem pelo patriotismo e fazer.

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Postado por O Blog do Pait
16/4/2016 às 19h53

 
Emoção

Ah, emoção...

Sentimento solerte, covarde, frio e enganador...

Em dado momento sentimos emoções maravilhosas, fortes, luminosas, coloridas, ternas ou apaixonadas, violentas ou gentis.

Em dado momento sucumbimos prostrados a emoções não desejadas, soturnas, sombrias, sinistras, ate fúnebres.

A qualquer momento levantamos as mãos em regozijo, aplaudindo algo que nos trouxe a mais recente das melhores emoções ainda ou sempre sentidas.

Emoções.

Emoções esperadas, experimentadas, saboreadas, vividas.

Emoções indesejadas, impostas pelo destino, fatalidade ou mesmo erro de escolha.

Emoções enormes, emoções soberbas, emoções alucinantes.

Apenas emoções.

Desequilíbrio entre a razão e lógica, entre o racional e o absurdo.

Sempre desproporcional, sempre surreal, tirando o fôlego, aumentando a pressão, trazendo lagrimas de festa ou de dor, de alegria ou tristeza, de vergonha ou orgulho, de vitória ou de perda.

Passar de ano, conquistar um primeiro ou único amor, A faculdade! O primeiro emprego. Os amigos.

Perder um amigo ou amiga. Um prognostico ou uma aposta, Uma certeza..

Acreditar e enganar-se. Acreditar e conseguir realizar.

Nada comparável a ser pai, ter filhos.

A emoção de ver a vida seguir, boa ou ma, vencedora ou menor.

Filhos.

A maior e mais bonita, maravilhosa, inesquecível e definitiva emoção.

A única que não mente, finge, trai ou engana.

A emoção de ser pai.



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Postado por Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida
16/4/2016 às 16h11

 
Morro de medo de morrer

A moça à minha frente na fila do cinema carrega nas costas uma enorme tatuagem de águia.

Coisa bonita de se ver, as asas abertas num tom que escapa do branco até o negro, adornada por ligeiros realces cinza, os olhos vermelhos, o enorme bico dourado, resultando num excelente trabalho artístico.

De repente, um estranho vento frio soprou no meu rosto, como se fosse um aviso, uma espécie de lembrete, que aquela imagem tentava me lembrar alguma coisa, mas que na hora não consegui identificar.

Eu já quis fazer tatuagem, mas foi maior o medo da dor, o risco de ficar feio e não poder apagar.

Detesto sentir medo, mas sinto.

Tenho medo de dentista, de cachorro brabo, da solidão, de ratos, de raios, da enxurrada da chuva que pode me arrastar, medos pequenos se comparados ao medo de morrer, que é o maior de todos os medos.

Minha mãe tinha um sono letárgico, o mesmo que eu tenho agora, ligeiro, mas pesado.

Quando criança, eu passava longos minutos observando ela dormir, com medo que parasse de respirar.

Dizem que choramos ao nascer porque naquele exato instante nos damos conta da existência, e sentimos pela primeira vez o gosto do ar, que provoca dor nos pulmões.

Então, apavorados, percebemos o mundo vivo em volta e o primeiro pensamento que nos ocorre é que um dia aquele suspiro terá fim.

Num dia de frio tardio de setembro, um senhor, sempre muito calado e inacessível, que vivia perambulando pelas ruas do Guanandi, apareceu morto, deitado na calçada, ao lado de uma garrafa de cachaça; os olhos abertos, mas sem vida, um sorriso estranho no rosto, como se no último instante, quando a vida lhe escapava, os raros bons momentos pelas quais passou durante a vida errante, desfilassem diante dele.

Foi o primeiro morto que vi.

Meu cachorro Ringo morreu logo depois.

Jogamos seu corpo sem vida num trilheiro de mata perto de casa e eu ia lá todos os dias para ver se algum milagre acontecia, na esperança de criança que ele de repente voltasse a viver, vez que dentro da minha cabeça, permanecia vivo o eco dos seus latidos, já me acostumando com o cheiro da carniça e nem ligando para a decomposição do corpo magro, que antes era cheio de vida e que todos os dias latia de felicidades só de me ver.

E ao lembrar disso, recordei que a imagem que me lembrava a tatuagem nas costas da garota na fila do cinema, vinha de um pássaro que devorava a carcaça do meu cachorro.

Não era uma águia como na tatuagem da moça, talvez um carcará ou algo assim, mas a sua figura majestosa, das garras afiadas que escorregavam na carne podre do meu cachorro morto e o som que escapava de seu bico afiado, ficaram guardadas num canto da minha memória para nunca mais sair, tal e qual a Beatriz de Dante, linda e majestosa, mas apavorantemente medonha.

Mais de quarenta anos tem essa imagem.

A moça da tatuagem sumiu pela larga porta de entrada do cinema, levando consigo aquela imagem que deixou em mim um cheiro de fim, de morte, de coisas ruins, que logo tratei de abortar, permitindo em troca me deixar invadir por um avassalador sentimento de morrer de vontade de viver.

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Postado por Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
16/4/2016 às 13h14

 
O Vendedor de Livros


Icaro, Henri Matisse

"Todo mundo tem um talento. O que é raro é a coragem de seguir o talento para o lugar escuro onde ele leva." Erica Jong


Quando a campainha tocou, eu estava apoiado sobre a escrivaninha tentando escrever. Confesso que me senti aliviado ao ouvi-la. Não conseguia trabalhar e, como não conseguia, começava a me preocupar com as contas a pagar. Além disso, tornava a me questionar sobre o que as pessoas enaltecem como talento ou vocação sem que tenham experimentado o real significado dessas palavras em suas próprias vidas. É comum esse tipo de pensamento ocupar minha cabeça quando estou sentado à escrivaninha e me deparo com a dificuldade de escrever.

Ao abrir a porta, foi como se o meu passado estivesse diante de mim. Há alguns anos fazia o que aquele homem estava fazendo. Um dia resolvi não vender mais porra nenhuma do que me empurravam os livreiros. Por quê? Dizia que vendia porque precisava de dinheiro. Era mentira. É certo que eu não tinha um centavo para o almoço do dia seguinte, mas não estava mais tão convicto de que pela mera necessidade de dinheiro valia a pena bater à porta dos outros, tentando convencê-los da importância de ter em casa livros que nem ao menos considerava dignos de serem lidos.

“Por que o senhor está vendendo seus livros?” - perguntou-me certa vez um menino que abriu a porta para mim, com a maior inocência. Respondi-lhe o que qualquer um diria em meu lugar: “Preciso ganhar a vida.”. Ele, então, encarou-me como se o que eu lhe tivesse dito não fizesse sentido. A seguir, disparou “Quanto custa cada livro?” A partir daquele instante, de um modo que não sei explicar, comecei a sentir-me encurralado, feito gado metido num curral à espera do momento do abate.

“Quanto custa cada livro? Quantos preciso vender para ganhar a vida?”, questionei-me pela primeira vez, pouco depois de o menino fechar a porta, enquanto aguardava o elevador. Todo aquele processo automatizado em que até então consistia a minha vida começou a ser desfeito com estas perguntas. Habituei-me a tal ponto a repetir aos outros as meias-verdades que me foram ensinadas, enquanto ocupava-me com o cumprimento de minha meta de venda, que irrefletidamente comecei eu próprio a acreditar nelas. Nas semanas seguintes, não pensava noutra coisa, e fui tornando-me incapaz de vender tais livros. Sentia imenso desconforto a cada venda concluída. Não entendia o que estava acontecendo comigo. Questionava tudo à minha volta, revoltava-me contra o mundo, sentia raiva de tudo e de todos. Meus dias iam se tornando cada vez mais difíceis. Todas as manhãs, ao acordar, me faltava ânimo para sair da cama. O que antes era absolutamente natural, agora exigia de mim um esforço sobre-humano para ser executado. Tudo parecia ter-se tornado estúpido, oneroso e sem sentido. A realidade é que precisava de dinheiro, mas eu não queria, não podia mais viver daquele modo. “Quanto ainda terei de vender para ganhar a vida?”, repetia constantemente. Não mais me sentia capaz de seguir em frente com as vendas e, mesmo quando conseguia reunir forças para encarar um dia de trabalho, era impossível sair de casa sem lastimar-me: “Não estou ganhando a vida; estou vendendo-a por uma ninharia”.

Começou a parecer-me mais razoável dar um fim àquela situação do que seguir esperando a morte de uma maneira tão deplorável e covarde. Foi o que fiz. Decidi não me sujeitar mais a uma rotina tão maquinal, de respostas impensadas. Talvez tenha sido esta minha recusa em continuar a fazer parte desse automatismo teatral a que todos se habituaram a chamar de “vida” que tenha feito de mim o que sou hoje. Se tornasse a vender livros novamente, que fossem os livros que eu viesse a escrever. Pouco depois, de fato, pus-me a escrever. Não apenas por dinheiro, mas, sobretudo, para viver a minha vida de um modo que fizesse sentido para mim.

Assim que me despedi do vendedor, sentei-me novamente à escrivaninha. Sua visita reafirmou minha convicção de que, a despeito das dificuldades que enfrento, não posso voltar atrás. Se quiser ganhar a vida, tenho que escrever. Agora, quando me perguntam se ter me tornado escritor é consequência de uma vocação ou talento, ainda hoje não me sinto capaz de assegurar coisa alguma. O que tenho para mim é que quando alguém toma uma decisão como a minha, não se pode justificá-la simplesmente evocando essas palavras. Acho que há algo mais.

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Postado por O Equilibrista
16/4/2016 às 10h50

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