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Quinta-feira,
29/12/2016
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We are the crowd
Skull, Andy Warhol
"A única coisa que não respeita a regra da maioria é a consciência de cada um."
Harper Lee
"Sentado na poltrona, com a boca cheia de dentes, esperando a morte chegar."
Raul Seixas
Numa das principais marginais da cidade, o tráfego fora interrompido. Em instantes uma aglomeração de veículos e pessoas se formou dificultando o acesso da equipe de resgate ao local do acidente. A poucos metros da vítima um guarda vasculhava sua mochila.
- Não há um documento sequer em sua bolsa, nem ao menos um celular ou um eventual telefone de contato. Apenas alguns romances e um guia rodoviário. Por que isso não aconteceu a um desses homens e mulheres que circulam por toda a parte com crachás pendurados ao pescoço? Seria tão fácil identificá-lo. Quem é esse homem? Monologava contrariado com o insólito ocorrido ao fim de seu expediente.
- Não vi nada! Não sei de coisa alguma! – repetia desviando o olhar da vítima, um transeunte apressado, receando que o guarda o interpelasse.
- Santo Deus! Um menino ainda! Exclamou horrorizada uma senhora antes de desmaiar e ser amparada pela multidão.
- O que ele tinha em mente vindo, ao que tudo indica, na contramão? Nunca o vi por aqui. Quem afinal era ele? – o guarda ainda monologava, mas sua atenção ia se desviando para a multidão que encorpava em torno de si.
- Isso foi um suicídio! sentenciou um sujeito alto e espadaúdo ao apontar o indicador em direção à vitima.
- O motorista não teve culpa! ajuntou uma jovem universitária, e todos à sua volta aquiesceram num movimento silencioso e harmônico de cabeças.
...Nem ele...nem ele... Eu o conheço. É meu amigo! Fez-se ouvir um homem ainda jovem que envergava um elegante terno. Curiosos, todos se viraram. A sobriedade de seu tom de voz e gestos o distinguia. Ele dirigiu-se, primeiramente, ao sujeito alto e espadaúdo como se a defender o amigo: - Ele não tinha a intenção de se matar! Foi uma fatalidade...Só então continuou a abrir caminho em direção ao corpo. Ao vê-lo, manteve-se ao seu lado, agachado e em silêncio por alguns segundos. Vendo os assim tão próximos, ninguém os tomaria por amigos tamanho o contraste entre suas aparências. O próprio guarda, incrédulo, hesitou em abordá-lo:
- Se o senhor o conhece talvez possa me ser útil. Preciso do nome, endereço e telefone de contato da família.
- Apenas posso ajudá-lo com o nome, respondeu, mas sem tirar os olhos do amigo. Há alguns minutos estávamos conversando no Apero. Ao nos despedirmos, me disse que passaria na biblioteca. Talvez lá possamos obter um endereço ou telefone de contato. Estes devem ser os que tomou emprestado – e, ao reconhecer um dos livros, esticou o braço em sua direção. Era O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse.
- De onde o conhece? Trabalhava com o senhor? Disparava o guarda, ansioso por maiores esclarecimentos.
- Estudamos juntos na universidade, prosseguiu, mas ele a abandonou e, desde então, o contato que mantínhamos era breve e esporádico. Hoje, ao acaso, nos reencontramos e fomos tomar um café. Ele não trabalhava por aqui, mas comentou que nos últimos dias caminhava a esmo pelo centro da cidade enquanto planejava uma viagem.
- Acaso é domingo? Ninguém perambula por aqui nos dias de semana. Decerto era um vagabundo, concluiu o guarda, acrescentando: - Isso explica o fato de não haver consigo nada que me permita identificá-lo.
Ao ouvir isso o homem se ergueu e, pela primeira vez, olhou o guarda nos olhos.
- Ele não era como nós, mas não era um vagabundo, pelo menos não um vagabundo comum - respondeu enfatizando cada negação enquanto rememorava algumas das atitudes e palavras do amigo. - Embora, às vezes, se referisse a si mesmo nesses termos, se era vagabundo, certamente, não era do tipo ordinário.
- Está fazendo caso de mim? Se ele próprio o dizia, então não há o que discutir. Era um vagabundo, ora bolas, e olhe o transtorno que causou a toda essa gente! - replicou o guarda como se a culpa que atribuía à vítima o justificasse diante da multidão que dava notórios sinais de estar a se impacientar. Sentia que lhe cobravam um desfecho rápido àquele caos ao mesmo tempo em que se ressentia de não conseguir reaver as rédeas da situação. Sua irritação e ressentimento tornavam-se maiores à medida que se via arrastado para aquela discussão inútil, e da qual não conseguia se esquivar. Quanto mais resistia, mas se afundava. Em troca de dados objetivos, nome e endereço, recebia detalhes demasiado subjetivos. O conhecimento da realidade pessoal da vitima, exposto por um homem que despertava uma atenção e respeito que cria serem devidos somente à sua autoridade policial, começava a contrariá-lo mais do que as circunstancias do óbito. Diante de tal estado de coisas sua autoridade fraquejava, e seu regulamento que, até então nunca lhe faltara como um sólido amparo, afigurava-se-lhe, agora, não apenas frágil, mas absolutamente irreal. Simplesmente não abarcava aquela realidade na qual fora atirado. Sentindo-se intimamente inferiorizado e desprotegido, começava a externar prepotência. O medo de mostrar-se fragilizado e impotente perante toda aquela gente, de não corresponder às expectativas, o perturbava profundamente. Despertava e inflamava em seu íntimo o impulso de aniquilar aquele cadáver como se assim pudesse dar um fim ao seu mal-estar. Mais do que alguém se defendendo diante de um inimigo a ameaçar-lhe a vida, transbordava de ódio, descarregaria seu revolver naquele corpo se estivessem a sós. Matá-lo-ia não uma, mas tantas vezes quanto sua munição lhe permitisse.
- Não, de modo algum estou a fazer caso do senhor – tornou a objetar. Eu realmente não o tinha na conta de vagabundo.
- Então quem era esse desocupado? Preciso identificá-lo. Não é todo dia que alguém se mete a fazer o que ele fez. Hoje em dia as pessoas estão bem esclarecidas quanto à direção correta. Ademais, há sinalização e fiscalização por toda a parte. Mesmo os vagabundos quando se embriagam não ignoram em que sentido encaminhar seus passos.
- Compreendo, perfeitamente, seu guarda. Direi o nome de meu amigo. Entretanto, gostaria de pedir que se refira a ele de modo mais respeitoso. Como acabou de afirmar, aqui todos sabem a direção correta, e nisto há um evidente motivo para não tomá-lo por vagabundo. Ainda segundo o senhor, mesmo este tipo de gente está em condições de distinguir o direito do esquerdo, o que evidentemente não parece ter sido o caso de meu amigo. Ele não era um vadio. Simplesmente era o que era. Como ele próprio dizia, era alguém, e queria descobrir o que isso significa. Essa questão o atormentava. Sentia uma sincera e impetuosa necessidade de buscar sua própria resposta de modo que nem sempre lhe era possível caminhar na mesma direção que nós. Sucedia-lhe, então, de em algumas ocasiões sua vida enveredar por caminhos...
- Proibidos é o que o senhor quer dizer. - completou o guarda esboçando um malicioso sorriso nos lábios que conferia um ar estúpido à sua figura.
Nesse momento, um menino de oito anos se interpôs entre eles espichando o pescoço, curioso em ver o cadáver. Sua mãe vinha em seu encalço tentando detê-lo, mas ao perceber que era tarde, repreendeu-o horrorizada:
- Está vendo, meu filho, por que digo que deve fazer o que sua mãe diz. Não quero que tenha o mesmo fim desse moço. Tenho pena da mãe dele. Pobre mulher! e, num gesto decidido, tomou a mão do menino: - Vamos sair daqui!
Ao ouvir as palavras da mãe ao filho, o guarda reanimou-se. Voltou-se ao amigo da vítima, mas como quem se dirige, acima de tudo, à multidão, disse:
- O cidadão que me desculpe, mas ele estaria vivo se compreendesse e aceitasse que há coisas que não se discutem. Foi o que aprendi no batalhão, e bem antes disso com meus pais. Na sociedade há regras e é preciso obedecê-las. Se seu amigo tivesse tido o bom senso de respeitá-las por certo que estaria vivo.
- E viver é isso? Murmurou o amigo, inconscientemente, uma pergunta que a vítima constantemente se fazia enquanto observava o ir e vir das pessoas no centro da cidade. Não mais dava atenção ao que se passava à sua volta. Apenas perscrutava detidamente o semblante do amigo. Reconhecia nele algo de provocativamente sereno.
Como o buzinaço se intensificava, o guarda finalmente pediu que o ajudassem a erguer o cadáver da pista e o depusessem na calçada à espera de um resgate que jamais chegaria. Mostrou-se aliviado ao ver que não tinha mais a vida daquele homem diante de si. Sentia estar em condições de retomar o pleno exercício de suas funções. Pouco a pouco recuperava o domínio da situação. Recomeçava a mostrar-se seguro; tornava a recrudescer em seu intimo a fé na autoridade de seu uniforme e de seu regulamento conforme observava o tráfego escoar segundo o silvo de seu apito. A multidão ia se dispersando, mas jamais se afastaria completamente. Mais do que uma aglomeração física que se formara em torno de sua pessoa, era a manifestação de uma poderosa força em sua vida, expressão de uma identidade e consciência.
Contato: [email protected]
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Postado por O Equilibrista
29/12/2016 às 13h46
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Caixa preta à pátina perdida
Imagem: La Bioguia
Você perdeu a caixa preta Com dourado, à pátina Lá deixei a voz com o pijama usado Dormido com perfume, Você perdeu o livro novo, Perdeu o vermelho que amo Como prova de descontrole Perdeu meus palpites em tudo que me meto
Afundei num oceano
Morta, procurei seu inimigo Soube histórias de vocês Dessas de perder encanto. Sobrou escombros, buracos, um velho abandonado Não sabia que morrer era tão simples. Agora é lavar tudo, Fazer um porta-nada Lacrar a caixa Com um aviso enviado De ler na missa de sétimo dia
Sou um futuro buraco negro
Expelindo o contrário
Você perdeu. Restou um corpo numa caixa à pátina Ex-seu Deus seja louvado Você não viria mesmo viver
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Postado por Blog de Aden Leonardo Camargos
28/12/2016 às 22h08
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O único erro é superestimar o adversário
Sou grande fã dos Tartakowerismos. O maior frasista da história dos esportes, e um dos maiores do xadrez - peço desculpas aos fãs de Nenem Prancha e de Yogi Berra, afirmava que todo o resto é incompetência.
Lembrei disso ao ler uns papers que demonstram que o problema da estimação de modelos chaveados é NP-hard. Se fosse, minha solução em tempo logarítmico ganhava 1 conto de réis americanos do Clay Institute. (Moeda talvez apropriada, sei lá quanto dura ainda a república. Mas divago.)
O que acontece é que gente com muito conhecimento matemático pela metade, e pouco conhecimento de engenharia também pela metade, formulou o problema como uma otimização geral em todos os parâmetros espaciais e temporais do sistema chaveado. Resulta em otimização mista linear-inteira com objetivos não-convexos, um problema intratável. Não é a estimação de modelos híbridos que é difícil, mas sim o método de solução escolhido que complica desnecessariamente. Faltaram as aulas do grande Amadeu Matsumura: desenhos não provam nada! Mas ajudam a visualizar. Não fizeram os desenhos, não visualizaram a simplicidade do problema, e aceitaram uma simulação como prova.
Toda decisão de engenharia pode ser formulada como um problema de otimização que leva a vida toda + 6 meses para resolver. Eis mais um Tartakowerismo instantâneo de minha autoria! Isso não quer dizer que os problemas são impossíveis, apenas que os erros estão todos na pedra e no tabuleiro, esperando para serem cometidos. (Quem adivinhar o autor da última frase ganha um vale-expresso do Café de la Régence.)
Para celebrar pedi ao Sr P Noel uma coleção de frases do Tartakower publicada na finada Alemanha Oriental em tradução do original do grande mestre russo Suetin. Um vintém bem empregado. Não vai chegar a tempo de trazer pela chaminé de barro, nem com grito aflito da buzina do meu carro, mas lembra que o beatificado Bispo de Mira, Nicolau, dito Taumaturgo, era lício, natural de Pátara, fundada pelo filho de Apollo, a Arsínoe dos Ptolomeus. A Constituição da Liga Lícia era conhecida de Hamilton e Madison, tendo sido mencionada por ambos nos papéis federalistas. Pode-se concluir que o entregador do livro de aforismos enxadrísticos teve um papel importante na República Americana, 1776-2016, 240 anos bem vividos, sabe-se lá o que o futuro lhe guarda.
Engenheiro não acredita em milagres, confia neles. Nunca ninguém venceu uma luta desistindo.
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Postado por O Blog do Pait
24/12/2016 às 17h58
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Noite feliz
Quando cheguei, mamãe falava pra vizinha dos tempos difíceis após a mudança pra capital.
— Aconteceu numa noite de Natal, igual à de hoje, chuvosa também.
Me passou a garrafa de refrigerante.
— Foi duro criar os filhos. Com a morte do pai deles, tudo mudou. Nunca pensei que ia passar tanta penúria. Mal acabava de tirar a mesa, vinha o sofrimento por não saber o que tinha pra comer no dia seguinte. Numa manhã, a hora do almoço chegando, nem um fubá prum caldo, um tempero, nada. Saí pra não ver ninguém. Puxei a porta e joguei o xale no ombro. Fiquei dando volta no bairro esperando o tempo passar. Quando perdi as forças, entrei na igreja e fiquei até criar coragem pra voltar pra casa.
As moças arranjavam cada emprego, nem gosto de pensar. O mais velho era o mais preocupado por se sentir no lugar do pai. Mexia daqui e dali, chegava em casa com as mãos vazias. Os pequenos, o coração cortava. Traziam dinheiro da rua engraxando sapato, entregando marmita. Este aqui — apontou pra mim — um dia chegou da aula e pela cara perguntei o que tinha aprontado. Por sorte o chinelo que atirei nele foi bater na janela do vizinho. Amuado, disse que a professora não ia deixar ele assistir aula sem o livro de leitura.
Ela virou pra uma das meninas e pediu pra fechar a janela.
— Aí veio a enchente. Não deu pra salvar quase nada. Com a água no peito, saímos do beco segurando a corda que o vizinho atirou. Quando baixou era tudo barro. No fim da tarde, um dos meninos com a cara mais alegre do mundo apontou no outro lado da rua com um rolo de pano debaixo do braço. Não gostei e passei um pito. Não queria ninguém tirando proveito da situação. Não era o que eu estava pensando. Com o temporal, as faixas de propaganda tinham sido arrancadas dos postes. Uma das meninas pegou, abriu, embolou, entrou em casa, afastou a tampa do alçapão da sala com a vassoura e jogou pra dentro do forro.
Mamãe prendia a atenção de todos.
— Um pouco antes da meia noite, reuni todo mundo e levei pra Missa do Galo. A Igreja de São Sebastião estava cheia. Sentamos perto do altar lateral de Santa Edwiges, protetora das causas perdidas.
Eu não tirava os olhos da minha família. Era uma filharada bonita. Baixei a cabeça tentando segurar as lágrimas. Pedi a Deus que fossem felizes. Os mais velhos me olhavam com compaixão. Os pequenos, entre uma cochilada e outra, boquiabertos, observavam: a abóboda enorme, os anjinhos louros, os olhos esbugalhados das imagens.
— Mãe — interrompi —, eu era coroinha e devia estar no altar ajudando o padre Américo.
Ela sorriu e continuou.
— Antes da missa acabar, minha filha do meio cochichou no ouvido do irmão mais velho e veio até mim. Deu uma desculpa e disse que ia embora. O namorado estava esperando do lado de fora da igreja, eu tinha certeza. Os dois em casa sozinhos, a outra filha entendeu minha aflição, segurou meu braço pedindo calma.
— Quando a missa acabou, o coro cantou Adeste Fideles, os meninos saíram correndo na frente, eu lembro com se fosse hoje — acrescentou minha irmã.
— Na mesa da sala — mamãe contava detalhes — a travessa de arroz de forno avermelhado, e na bandeja um frango assado. Forrando a mesa, uma toalha improvisada: a cortina que separava a sala da cozinha, que na correria da enchente alguém arrancou e guardou. Antes de servir, pedi uma prece pro pai deles.
Acabei de comer, as três me chamaram. Entrei no quarto e vi as roupas de cama, tudo branquinha, cada uma mais bonita, nada daquela molambeira que eu não aguentava mais ver. Das faixas de propaganda guardadas no forro da sala no dia da enchente, as meninas fizeram o meu presente de Natal.
Demorei a pegar no sono. Só dormi quando virei pro canto e percebi na fronha, perto do meu rosto, uma mancha azul do tamanho dum bago de feijão, resto duma letra que fiquei raspando com a unha até fechar os olhos.
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Postado por Blog de Anchieta Rocha
24/12/2016 às 17h53
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Joguei esse dia triturado na pocinha azul, um céu
Imagem: Google + bagunçada por mim.
Hoje enquanto eu falava mentalmente pelas ruas orações afirmativas sem a palavra “não” – porque dizem uns loucos que nada no Universo saca o que seja “não” – você passou. Não sei o que acontece. Posso variar os horários, você passa. Talvez tenha sido implantado um chip de não em mim. E o Universo entende pataca. Eu também confundo.
O som da sua voz perguntando “quer que desliga de novo?” (na minha cara e foi você quem ligou), soa feito um pilão de milho, do sítio que a Dona Vitalina batia. A gente nunca sabe quando fica pronto. Quando é o fim. Acho que já é hora de recolher as coisas moídas. Sou um fubá saído da sua maldade.
Depois que te vi, ainda fervorosamente (e mais que antes) pensava em caixa alta...Tudo que eu quero transformar em fim. Uma moça com o rosto rosa de espinhas descia a Silva Jardim e me chamou de outro nome. Senti que sou uma ótima bruxa. Às vezes a mágica funciona. Não existe mais passado, nem futuro do pretérito.
Abri meu tarô hoje à tarde. Tudo que vi é que tudo é uma grande bobagem... A gente morre devagar.
Hoje depois de mover o destino pelas ruas, sentei de frente para o que falta. Imprimi o mapa de onde quero te esquecer. É um lugar de ficar perdido. Pega até trem para a saída certa. Lá o pilão de milho e sua voz "querquedesligadenovo” vão ficar desajustados com o ambiente.
Desenhei uma boneca de varetas. Umas lágrimas azuis formaram uma poça no pé. Um gatinho (que ninguém numa hora dessas pode ficar sem afeto) e uma música do Renato Russo, no absurdo que canto.
Hoje foi um dia muito difícil, pelas coisas que você não sabe... Amassei feito pão com muito fermento errado ou como presente de buscar. É difícil controlar o fermento sobrando. É difícil buscar o que é de ganhar. Joguei esse dia triturado na pocinha azul. Você vai pensar que é céu. E o céu é isso, uma mistura de Universos... Onde cresce a massa do impossível.
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Postado por Blog de Aden Leonardo Camargos
24/12/2016 às 17h31
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Volta d'África (série: sonetos)
Ao que se esperou d’ Alcácer-Quibir,
fez-se noturno sol que em nada estranho,
seguindo luas que se unem em rebanho
nas terras de quem o queira seguir.
Àquele que ao chão ninguém viu cair,
deu-lhe então o mito poder tamanho
e desde o Tejo aos passos que acompanho
dom bem maior estaria por vir.
Fez-se da volta um sino a ressoar
a esperança que lhe incutiu a fome
de retorno ao grande berço sem par.
Vindouro ele elegeu por codinome;
no eterno ungiu-se o tempo de voltar,
pois a esperança nunca se consome.
(poema até então inédito)
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Postado por Blog da Mirian
24/12/2016 às 16h12
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Meus caminhos no Centro do Rio
Prezados leitores,
No dia 12 de dezembro deste ano de 2016, fui agraciada (1º lugar) com o Prêmio João do Rio – Poesia 2016 da Academia Carioca de Letras.
A ACL me concedeu também a Medalha José de Anchieta. Por isso, interrompendo hoje a série “Sonetos”, escolhi para publicação o poema Meus caminhos no Centro do Rio que foi apresentado naquele concurso literário.
Ruas de ontem e de hoje seguem meus passos.
Nalgumas, danço samba. Noutras, declamo rap.
Indo ao passado, meu corpo a girar no lundu:
“A lua vai saí e eu vô girá.”
E Chiquinha Gonzaga ao piano.
Na Sete de Setembro, reencontro meu pai
comprando verniz pra algum quadro que pintou.
E pra outros jamais realizados. A papelaria:
caixa de luzes que ora me colorem o tempo.
E o Rio nas telas de Heitor dos Prazeres.
Pelos jardins sagrados, Dom João Evangelista
cantando poemas de Cecília Meireles. Ah! Cecília
e o mar! De então, rumo à Praça Mauá, desço
o morro de São Bento, como quem desce
a ladeira do mundo para ganhar o porto aberto
a todos os versos que vão dar nas águas.
E Bentinho a passeio no Largo da Prainha.
Pavões. Cotias: ─ Parece cachorrinho!
Foi no parque junto à rua de Santana.
Lenço no cabelo, minha madrinha e mamãe.
Até hoje na fotografia o sol nos ilumina o rosto.
E os roteiros de Tiradentes e João Cândido.
Das vielas às avenidas, meus devaneios.
Na Almirante Barroso, ainda ergo palanque
no saguão do prédio que não mais existe.
E em meus lábios flui a palavra “utopia”.
Trilhas da cidade, destino que me chama.
Pés amorosos aos caminhos que escolhi.
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Postado por Blog da Mirian
17/12/2016 às 17h13
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Ponto de fuga
Através do Outro é que pensamos
Por intermédio das personagens escrevemos um livro
Por trás das fantasias nos relacionamos
O que era sério se torna um alívio
Tão suave como após um susto
e o palpitar que me cabe é justo
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Postado por Metáforas do Zé
17/12/2016 às 09h27
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Redenção
Não te fies na perfeição
pois, ao mínimo defeito
teu paraíso tornar-se-á um inferno.
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Postado por Metáforas do Zé
16/12/2016 às 22h39
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Respiração
A semente sem casca
contida e desarvorada
Novelo de emoções
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Postado por Metáforas do Zé
16/12/2016 às 10h24
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Julio Daio Borges
Editor
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