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Quarta-feira, 2/5/2018
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Wild Wild Country

Conheci o Osho há pouco mais de 20 anos. Estava me formando na Poli, manifestava um interesse por Filosofia, e o tio de uma namorada, muito atencioso, me presenteou com um livro do Osho.

Meu interesse, na época, era por Filosofia Ocidental, e meu livro de cabeceira era “Uma História da Filosofia Ocidental”, do Bertrand Russell, que eu cotejava com as aulas de Filosofia Antiga, do professor Roberto Bolzani Filho, na USP.

Sem espaço para o Osho, portanto. Aquele livro, do tio da minha ex-namorada, eu só fui ler quase 20 anos depois, em outra situação. E o livro falou mais comigo pela lembrança e pelo carinho, do tio postiço, do que pela filosofia em si.

Fui assistir “Wild Wild Country” por curiosidade. Tinham falado muito, num dos grupos de WhatsApp de que participo. E havia lido um texto sobre a tal Sheela, em que a pessoa se dizia muito impressionada pela figura dela, apesar de todo o mal perpetrado etc.

O que me impressionou, nos primeiros capítulos, foi o sonho, recorrente, de fundar uma cidade, e de refundar a humanidade, no processo. Me ocorreram desde a República, de Platão, até a Utopia, de Thomas Morus, passando pela experiência de Robert Owen, que um professor de História nos contava na escola, até Brasília.

Como brasileiro conhecedor do experimento de Juscelino, eu sabia que Rajneeshpuram - literalmente a cidade do Osho (Rajneesh) -, fundada nos anos 80, no estado de Oregon, nos Estados Unidos, seria um fracasso desde o início.

Mas o Osho acreditou, e seus comandados - e levaram milhares de pessoas para lá.

A própria Filosofia nos ensina que, apesar da beleza - sublime - da sua “República”, Platão não foi bem-sucedido quando tentou implementar suas políticas em Siracusa.

E do pouco que conheço de filosofia política é infinitamente mais recomendável estudar as conclusões de Maquiavel, que simplesmente estudou a prática, do que embarcar num sistema “desenhado” (designed) sem base na realidade.

Se o projeto de Brasília pode soar discutível para alguns, eu convido os resistentes a examinar qualquer projeto de “utopia socialista”, sendo o mais próximo de nós, o do PT, sob cujas consequências estamos vivendo até hoje, 2018, final do mandato do Vice da Dilma.

Para qualquer brasileiro maior de idade, que tenha vivido no país, dos anos Lula pra cá, e que não tenha sua inteligência obliterada pela ideologia, considero autoevidente que qualquer tentativa de “refundar” a sociedade - à esquerda, à direita ou ao centro - seja um total disparate e que não merece a nossa consideração.

Mas Osho acreditou; e seus seguidores - e levaram milhares de pessoas pra lá...

Se eu me decepcionei com Osho? É claro que sim. Não basta ser um guru? Tornar-se sábio, ter seus livros publicados, ser consagrado até fora da Índia? Para que fundar uma cidade? Ainda mais nos Estados Unidos? E para que “refundar” o Homem? Que diabo que pretensão é essa? E que delírio?

Não; não consegui admirar a Sheela. Para mim, ela nunca passou de um leão-de-chácara do Osho. Aquele capanga, ou personagem meio mafioso, que todo idealista, ou líder benevolente, tem, para fazer o serviço sujo, enquanto se mantém puro, limpo ou quase isso.

No documentário, Sheela tem ideias próprias: acha que, além de administrar Rajneeshpuram, pode interferir até no destino do próprio Osho - até que dá tudo errado, ela foge com seus comandados; ele não a perdoa, rompe seu voto de silêncio, de anos - e o mundo assiste a uma troca de acusações nada edificante.

Para mim, é o pior momento do Osho: quando ele tem de dizer que não teve nada com ela, nenhum envolvimento homem-mulher, que ela está drogada, usou drogas pesadas etc. E Sheela devolve, chamando Osho de “manipulado” - sob efeito de um novo círculo, que não quer o seu bem, até deseja a sua morte etc.

O bate-boca é suficiente para o governo dos Estados Unidos interferir e terminam ambos presos, mais pessoas próximas do círculo de Sheela.

No caso de Osho, ele aceita um acordo, assume a culpa por crimes ligados a imigração ilegal, enquanto retorna à Índia. Já Sheela cumpre prisão, sem atenuantes, e termina liberada na Europa, onde vive até hoje.

Osho termina tão desiludido da vida que quer ser esquecido. Desiste do próprio nome, “Bhagwan”. Quer ser “ninguém”. Não quer ter nome. Até que alguém sugere, justamente, “Osho” - que, em japonês, quer dizer “mestre”.

Bhagwan morre em 1990, mas Osho vira uma marca. Até hoje.

O documentário, da Netflix, não se decide por uma conclusão positiva ou negativa, do Osho e até de Rajneeshpuram. Termina com a Sheela, que montou um asilo. Arrependida?

Gurus foram moda, sobretudo nos anos 60. E até os Beatles caíram...

Quando resolveram ir embora da Índia, John Lennon resolveu testar o guru - Maharishi - para ver se ele sabia (por que eles iam). Lógico que ele não sabia.

Lennon fez “Sexy Sadie” para ele: “What have you done? O que você fez? You made a fool of everyone. Você fez todo mundo de bobo...”

Fast-forward para 2018. E as pessoas, no Brasil, continuam seguindo gente como “A Monja”, Karnal, Pondé... como se fossem gurus...

“Sexy Sadie. You laid it down for all to see... Você pôs tudo abaixo - para que todo mundo visse...”

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Postado por Julio Daio Bløg
2/5/2018 às 09h02

 
Um velho adolescente

Descobri recentemente, mais precisamente no sábado passado, que sou um velho adolescente.

Isso porque me peguei grudado a tarde toda num livro da Thalita Rebouças.

A visão da escritora me fez voar, imaginar situações, me perder em dilemas, num passeio raso d’água nos olhos, encarar alguns medos eternos, até sentir novamente as transformações.

Thalita escreve para mulheres de um modo tão próximo e profundo, que conseguiu, por momentos, me transformar num velho adolescente menina.

Foi um despertar, pouco antes, na minha retina cansada, guardava a adolescência como se fosse a estátua de Antínoo, dura, fria, calada, mas eternamente jovem.

No livro, logo me identifiquei com a personagem, uma garota sem dotes de beleza, um tanto desleixada, dona dos cabelos ruins e peso acima do ideal.

Outras semelhanças apareceram durante a narrativa: a menina ouve música para sentir vontade de chorar.

Fiz isso recentemente, sem motivos aparentes, lágrima libertária, não de agonia, envolta numa música antiga e besta, de um cantor que eu desprezava quando adolescente, o Biafra, naquela parte que ele afirma existir um licor a mais no bombom.

Homem não chora! Uma ova, chora sim, mesmo na maturidade.

Trago ainda guardado alguns costumes de quando adolescente; usar roupa velha e rasgada em casa e desligar o mundo, ler, ouvir música, assistir séries de TV; visitar fotos antigas e me espantar: nossa, quando foi isso? Eu era magro em 87.

Creio, com sinceridade, envelheci bem, eu era muito feio na adolescência, e fazia bullying comigo, me olhava no espelho e dizia, “tu é horrível, desajeitado, seu cabelo ruim lembra nuvens de tempestades”, e depois ria da própria desfaçatez.

Hoje me acho bonito, mesmo quase sem cabelos – algo libertador, no meu caso – e com essa barba rala que não tem nada a ver com rebeldia, é coisa de vaidade mesmo.

Se existe algo bastante mudado é a minha capacidade atual de me amar, de olhar para o espelho e afirmar: cara, você está lindo!

Narciso me incorpora todas as manhãs.

Ser adolescente é dolorido para todos, mas, para as meninas, Thalita me ensinou que o baque é maior; a transformação para mulher requer o apego o quanto antes à maturidade; a menstruação é um sinal assustador, noves fora o crescimento dos seios, do quadril, e os olhares ameaçadores que começam a surgir em volta, de repente, sem avisar.

Thalita Rebouças é doutora no assunto.

Declaro, no entanto, o sofrimento do eu menino daquela época.

De repente, espalharam-se em mim as espinhas, a espantosa percepção das curvas do avesso, das medidas, de cada detalhe: a menina franzina e irritante, moradora da vizinhança, de repente se tornou uma encantadora fêmea fatal, me fazendo suspirar profundamente.

Será que ela ainda se lembra de mim?

Era um tempo de solidão, de descobrir detalhes nunca antes imaginados; a luz da lâmpada atraia os insetos, medrava a escuridão, mas nada afastava alguns pensamentos.

Fui salvo pela erudição: muito mais do que banho gelado, a leitura acalmava a febre.

Quase adulto, imaginava a maturidade tal e qual a quinta sinfonia de Beethoven, a reta final, da qual queria distância.

No entanto, cá estou.

Acho que Biafra me fez chorar por causa disso: o licor ainda vivo, perdido em meio ao bombom.

Imagino Beethoven, mas escuto Biafra.

“O que sai de mim vem do prazer, de querer sentir o que eu não posso ter...”, o que ele quis dizer com isso?

As folhas da árvore da minha adolescência ainda tremem, esparramam o orvalho no soprar do vento, pingos daquela mesma chuva que me arrancou o sono, restando em mim o pensamento incerto: será que existe por ai outro adolescente velho, quieto e atento, tal e qual a estátua de Antínoo, ouvindo, entrelaçado por pequenos tremores, a sinfonia de Beethoven?

Fechei a última página, já sentindo saudades da menina do livro e à procura do resto de licor perdido dentro do bombom.

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Postado por Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
1/5/2018 às 12h14

 
Um velho adolescente

Descobri recentemente, mais precisamente no sábado passado, que sou um velho adolescente.

Isso porque me peguei grudado a tarde toda num livro da Thalita Rebouças.

A visão da escritora me fez voar, imaginar situações, me perder em dilemas, num passeio raso d’água nos olhos, encarar alguns medos eternos, até sentir novamente as transformações.

Thalita escreve para mulheres de um modo tão próximo e profundo, que conseguiu, por momentos, me transformar num velho adolescente menina.

Foi um despertar, pouco antes, na minha retina cansada, guardava a adolescência como se fosse a estátua de Antínoo, dura, fria, calada, mas eternamente jovem.

No livro, logo me identifiquei com a personagem, uma garota sem dotes de beleza, um tanto desleixada, dona dos cabelos ruins e peso acima do ideal.

Outras semelhanças apareceram durante a narrativa: a menina ouve música para sentir vontade de chorar.

Fiz isso recentemente, sem motivos aparentes, lágrima libertária, não de agonia, envolta numa música antiga e besta, de um cantor que eu desprezava quando adolescente, o Biafra, naquela parte que ele afirma existir um licor a mais no bombom.

Homem não chora! Uma ova, chora sim, mesmo na maturidade.

Trago ainda guardado alguns costumes de quando adolescente; usar roupa velha e rasgada em casa e desligar o mundo, ler, ouvir música, assistir séries de TV; visitar fotos antigas e me espantar: nossa, quando foi isso? Eu era magro em 87.

Creio, com sinceridade, envelheci bem, eu era muito feio na adolescência, e fazia bullying comigo, me olhava no espelho e dizia, “tu é horrível, desajeitado, seu cabelo ruim lembra nuvens de tempestades”, e depois ria da própria desfaçatez.

Hoje me acho bonito, mesmo quase sem cabelos – algo libertador, no meu caso – e com essa barba rala que não tem nada a ver com rebeldia, é coisa de vaidade mesmo.

Se existe algo bastante mudado é a minha capacidade atual de me amar, de olhar para o espelho e afirmar: cara, você está lindo!

Narciso me incorpora todas as manhãs.

Ser adolescente é dolorido para todos, mas para as meninas, Thalita me ensinou que o baque é maior; a transformação para mulher requer o apego o quanto antes à maturidade; a menstruação é um sinal assustador, noves fora o crescimento dos seios, do quadril, e os olhares ameaçadores que começam a surgir em volta, de repente, sem avisar.

Thalita Rebouças é doutora no assunto.

Declaro, no entanto, o sofrimento do eu menino daquela época.

De repente, espalharam-se em mim as espinhas, a espantosa percepção das curvas do avesso, das medidas, de cada detalhe: a menina franzina e irritante, moradora da vizinhança, de repente se tornou uma encantadora fêmea fatal, me fazendo suspirar profundamente.

Será que ela ainda se lembra de mim?

Era um tempo de solidão, de descobrir detalhes nunca antes imaginados; a luz da lâmpada atraia os insetos, medrava a escuridão, mas nada afastava alguns pensamentos.

Fui salvo pela erudição, muito mais do que banho gelado, a leitura acalmava a febre.

Quase adulto, imaginava a maturidade tal e qual a quinta sinfonia de Beethoven, a reta final, da qual queria distância.

No entanto, cá estou.

Acho que Biafra me fez chorar por causa disso: o licor ainda vivo, perdido em meio ao bombom.

Imagino Beethoven, mas escuto Biafra.

“O que sai de mim vem do prazer, de querer sentir o que eu não posso ter...”, o que ele quis dizer com isso?

As folhas da árvore da minha adolescência ainda tremem, esparramam o orvalho no soprar do vento, pingos daquela mesma chuva que me arrancou o sono, restando em mim o pensamento incerto: será que existe por ai outro adolescente velho quieto e atento, tal e qual a estátua de Antínoo, ouvindo, entrelaçado por pequenos tremores, a sinfonia de Beethoven?

Fechei a última página, já sentindo saudades da menina do livro e à procura do resto de licor perdido dentro do bombom.

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Postado por Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
1/5/2018 às 12h14

 
Carne & Unha


entre
nós

Os
laços
não
se
desatam

sem
unhas
nos
dedos

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Postado por Metáforas do Zé
29/4/2018 às 12h15

 
T(r)ato do olhar

As cores
Estão
Para
O
Motivo
Assim
Como
O
Clima
Está
Para
A
Paisagem

Eis
A
Era
Das
Texturas

Quando
Da
Maturidade
Das
Aquarelas
Teu
Corpo
Se
Revela

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Postado por Metáforas do Zé
28/4/2018 às 08h46

 
Escriturar=costurar

Escrever é costurar-se
Às coisas, à mesa,
Ao solo, ou
A mim mesmo

Para que
Os
Ventos,
Correntezas,
Palavras
Não me
Carreguem

Escriturar-se...
Ou costurar-se
Ao lombo
Do
Mundo...

... escriturar-se
Aos
Ventos
É
O mesmo
Que
Bordar
Bandeiras,
Enquanto
Elas
Ondulam

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Postado por Metáforas do Zé
26/4/2018 às 09h43

 
Pierrô

Xadrez é
minha alma

Dia e noite
Seco e molhado
Sol e chuva
Plano e profundo
O movimento
e o
estático
Agridoce
Doce e salgado
alegre e triste
Movimento
binário...

Crespa e lisa
como o
mar,
um espelho ou
encapelado
Nuvem e sol
Fosco e cristalino
A descoberta
e a mesmice
Revelação
e segredo
O óbvio e o
complexo
Sístole e
diástole
Côncavo e
convexo
Simples e
complicado
Sonho e
realidade
Curvas e
retas
Prisão e
liberdade
Solução e
labirinto
Luz e
sombra
Amor e
ódiio
Drama e
comédia
Sagrado e
profano
Divino e
repugnante
Voador e
rastejante
Sólido e
líquido
Ventilado e
asfixiante
Vento e
brisa
Cru e
cozido
Palavra e
despalavra
Construido e
demolido
Função e
desfunção
Interrogação e
exclamação
Exclamação e
interrogação
Ponto final
e etc e
tal

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Postado por Metáforas do Zé
22/4/2018 às 08h57

 
Lugar comum

A descoberta
tem seus
limites
- a surpresa,
o espanto...-

Assinar-lhe
a propriedade
é cavar
o próprio
cativeiro

As paisagens
são de
todos

Os pássaros
que o
digam

As mãos
ansiosas
em apropriarem-
se dos
ventos
que ventilem
a lição

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Postado por Metáforas do Zé
21/4/2018 às 23h42

 
Os galos

Para Luiz Ventura

Compondo a plumagem das tintas,
os galos cantam as cores das aves terrenas
diante do sol iluminando brasilidades
que acolheram caravelas portuguesas
e sonoridades d’África.

Esses galos rememoram
a tecelagem do dia no poema de João Cabral.
E antigos quintais de Belchior.

Um deles canta as aflições de São Pedro.

E todos sonorizam angústias humanas
levando matizes de esperança
aos sertões e cidades.

Ante as dobras da noite,
os galos costuram a manhã
nas Três Marias pontuadas no chapéu do Setestrelo.
Por encantação, as três estrelinhas
se transformam em asas festejando o sol.
Na madrugada, elas são lamparinas
guiando o chapéu do Conselheiro do Nordeste.

Então, compondo tintas do sono,
os galos dormem para redobrar
as cores do canto do dia seguinte.


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Postado por Blog da Mirian
21/4/2018 às 16h56

 
Cenas do bar - Wilsinho, o feio.

O novo garçom tem a cara do Wilsinho.

Eu não sei se feiúra mata, se sim, Wilsinho deve ter morrido faz muito tempo, assim como não terá vida longa esse garçom à minha frente.

- Vai mais um patrão?

- Sem espuma, por favor.

Mulher muito bonita quase sempre é cruel.

Maria das Dores, apesar desse nome horripilante, era linda da cabeça aos pés.

Vá lá, omitindo a bunda ligeiramente achatada, mas quem era eu para ficar preso a detalhes naquele fim de março de 1984, na quadra de esportes durante o recreio, momento sublime no qual ela dirigiu seus imensos olhos verdes na minha direção.

- Oi, você é o Juvenal?

Tive vontade de responder sobre o erro, meu nome é Vladimir de La Mancha, mas não podia perder a oportunidade.

Além dos olhos verdes do tamanho das estrelas, Maria das Dores tinha a voz de veludo.

Fiquei Juvenal mesmo.

- Sim, Juvenal, eu sou o Juvenal...

- Então Juvenal, eu queria saber se você topa fazer parte do nosso grupo para o trabalho de desenho geométrico.

Até hoje, passados tantos anos, não consigo compreender porque raios existia desenho geométrico no curso de biologia da Fucmat.

Estranhei o convite, eu era pé rapado, esquisito, só me sentia bem perto do Wilsinho, que era mais feio do que eu; e de desenho, até hoje, só sei desenhar o sol e umas nuvens bêbadas.

Geometria, para mim, era um palavrão e nada mais.

- Claro que aceito! Respondi após a terceira profunda respirada.

Ela usava uma blusa de riscado, azul e branco, bastante espaçosa.

Acho, não posso garantir, rolou uma lágrima quente de contentamento no canto do meu olho.

Levada pelo contentamento, Maria das Dores abriu um sorriso de metal, ela usava aparelho nos dentes já naqueles tempos, abriu os braços para cima, deixando aparecer os cabelinhos das axilas, visão ao mesmo tempo divina, inquietante e apavorante.

Gritou sem se constranger:

- Olha Deise, o Jacinto aceitou fazer o trabalho com a gente.

Deise era uma menina baixinha, usava sempre vermelho, tinha cachinhos e vivia pregada na Das Dores.

Era a cara da Luluzinha, famosa personagem dos gibis daqueles tempos, veio correndo para o nosso lado, mostrando uma cara tão aberta que pude ver pedaços da garganta.

Claro que notei a troca do nome, mas pra quem já havia aceitado ser Juvenal, não aborrecia nem um pouco ser o Jacinto.

Foi quando o Wilsinho se aproximou, no andar quase dançado, ajeitando os óculos fundo de garrafa e alisando os cabelos com as pontas dos dedos pouco antes encharcados pelo próprio cuspe.

Apertou minha mão olhando para as meninas, mais precisamente para Das Dores.

Preciso aqui abrir um parênteses para explicar melhor o Wilsinho: ele era horrível, tipo do feio cego, não enxergava a própria feiúra, pelo contrário, se achava bonito.

Além de pentear os cabelos com cuspe, ficava erguendo a abaixando as grossas sobrancelhas, em movimentos rápidos e irritantes.

Das Dores fez cara de nojo, Luluzinha continuou com as vistas pregadas em mim.

Achei estranho...

- E ai Vladimir, quais são as novas? Falou o Wilsinho, sem me dar tempo de explicar que naquele instante eu era o Juvenal.

Das dores levou um susto:

- Seu nome é Vladimir?

O olhar de desapontamento de uma mulher bonita é um dos mais terríveis venenos da natureza, mata aos poucos, sem encostar.

. Quantas dores pode provocar uma Maria bonita?

- Sim... Respondi meio gaguejante e senti um leve tremor nas pernas.

Eu tinha muito disso naquela época, tremia por qualquer coisa e colocava a culpa na virgindade.

Sim, eu era virgem em 1984.

O desapontamento marcado no rosto da musa dos olhos verdes não conseguiu retirar o olhar de Luluzinha para mim.

Me entupi de velho e bom orgulho e resolvi falar:

- Sim, meu nome é Vladimir de La Mancha. Algum problema?

Ela sorriu, um tanto sem jeito.

- É que eu pensei que você fosse o Juvenal...

- Juvenal é do quinto semestre e sabe tudo de desenho geométrico. Revelou Luluzinha, finalmente retirando aqueles olhos pequenos do brilho inquietante sobre mim.

A musa dos baitas olhos verdes a apanhou pelos braços, se retirando sem olhar para trás.

- Vamos Deise, a aula já vai começar.

Eu ia perguntar sobre o trabalho, se ainda estava de pé o convite, mas Wilsinho me atropelou:

- Viu o jeito que ela olhava para mim?

- Qual? Brinquei.

- A zoiúda, é claro.

- Wilsinho, caia na real, você é feio pra caralho!

Ele ergueu os óculos e mexeu as sobrancelhas bem perto de mim.

- Cale-se, você é virgem, não entende nada de mulheres, nem percebeu que a baixinha queria o seu colo. A gente podia combinar, eu fico com a gostosona e você com aquele piolho de galinha.

- Wilsinho, creia, ela nunca vai te dar bola!

- Seu rabo! Tá no papo. Eu sou amado, e você, um cão danado.

Ainda guardo na retina o olhar de triunfo do Wilsinho, a dor da saudade atravessada na lembrança de momento, aguda, dolorida pelo amigo que nunca mais reencontrei.

Bebo um último gole, aceno para o garçom, peço mais um chope, ele logo caminha até mim, um jeito de andar quase rebolado, a magreza infindável, o par de sobrancelhas grossas e vivas, atiçando o passado.

- Muito obrigado – eu digo e tomo em três goladas o copo todo. Pago com dinheiro e sorrio para o novo garçom.

- Fique com o troco e leve um abraço ao seu pai.

Ele então me olhou surpreso:

- Você conhece o meu pai?

- O Wilsinho? Sim, desde os tempos que nós dois éramos virgens.

Saí do bar sem esperar respostas, preferindo o gosto da dúvida, no peito ardendo a esperança que o meu antigo amigo ainda esteja vivo, apanhado pelo sopro do vento lá de fora, aos poucos voltando à realidade e permitindo o arroto de chope explodir, engolindo figuras do passado.

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Postado por Blog de ANDRÉ LUIZ ALVEZ
21/4/2018 às 11h52

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