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Quarta-feira, 21/11/2018
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Heróis improváveis telefonam...



Roça do Vó Manoel, óleo sobre tela dessa neta.



Heróis improváveis ligam de número que você nunca imaginaria atender. Claro, de outro Estado que não o seu. Claro que em um dia de nada, de chuva, sem passarinhada (só as loucas das andorinhas) e chuva daquelas que você reza para jogar as mangas Doce de Leite do vizinho no seu chão. Se você acha que chuva é para encher os rios, engana-se. É pra manga cair. Principalmente a Doce de Leite, um bebezinho. Cai.

Presto atenção também em cores que não sei o nome, mas principalmente presto atenção em vento, nuvens, sabiás de setembro, sol, lua. Presto atenção para lembrar do que era bom, paz, sossego. Dos dias na roça, dos avós, das tramelas, cancelas, porteiras e palavras que não existem mais fisicamente por aqui. No meu mundo urbano cinza monstro.

Hoje o Chukichi Kurozawa me ligou. Eu fiquei com aquela cara de “peraí” mineiro. Isso tudo porque confessei prestar atenção na sua ausência do programa de domingo que assisto por afetividade guardada, o Globo Rural. Escrevi, conversando primeiramente com um robô, onde deixava minha dúvida. A dúvida não era como criar abelhas, como fazer muda de Cambuci. Era cadê o Chukichi. Que durante todos esses anos era chamado para resolver as dúvidas dos leitores e... pá, sumiu. Parecia até coisa de Minas mesmo: cadê isso que tava aqui? Sei não, sumiu. Sumiu é a explicação que mineiro aceita, se aparece, apareceu.

Carinhosamente recebi a resposta por e-mail, que ele ainda continua salvando as mais horríveis dúvidas com as mais lindas respostas. Se a planta é doce, comestível, da família de nome louco em latim... Já memorizo o preço da saca de café Arábica e Conilon. Latim ainda é difícil.

Não bastasse o orgulho que fiquei da resposta assim por e-mail, hoje me ligou! Eu que trago todas as férias na roça colada nas minhas melhores alegrias. Eu que tomo café olhando algum lugar porque lembra a cancela da cozinha e a gente olhando o quintal. Eu que fiquei presa no paiol porque esqueci de fechar a tramela e a Mimosa entrou (a vaca que meu avô amansou para seguir a gente). Aprendi que num palheiro não se acha agulha e muito menos a saída se uma vaca gorda entrar. Paiol aqui é onde se guarda palha, deixo claro. Ou era, já nem sei mais. Hoje em dia deve ser Straw Place, regulado certificado carimbado pela Anvisa.

Eu que já me perdi em planilhas do Excel e até para isso já imaginei, se meu amigo consultor do Globo Rural Chukichi Kurozawa respondesse o meu “queisso?”... Saberia! Ele que quando chamado, com uma simples fotografia, sabe... Ele que vem voando cheio de livros com desenhos de frutos e folhas, feitos à mão e pousa com sua resposta: pode comer que é bom. Ou isso veio da Índia... ou... Como pode alguém saber tudo?

Eu que quando triste de marré deci, em Belo Horizonte, olhando pela janela do vigésimo sexto andar, resolvi entre todas as opções da noite ir no show do Rolando Boldrin, no Minascentro. Sozinha na fila e pensando que estou fazendo aqui. Eu que soube. Eu que trouxe de volta aquela alegria simples da gente infância. Das prosas, dos cheiros, dos chamamentos das criações. Eu que um dia antes atravessando a Contorno esqueci do nada como era mesmo o mundo, não sabia atravessar a rua e o sinal vermelho me deu espanto e não soube ligar o telefone, discar, nem falar nada eu soube Esqueci como se lia. Porque o Excel surta a gente. Eu que triste, estava deixando de saber e acreditar. Eu que fui resgatada naquela noite pela simplicidade da roça.

Não sei quantas vezes o agro, a roça ainda vão me resgatar. Eu que hoje nem pedia resgate, voei. Desde o telefone tocar e eu desligar ainda com cara de “peraí”, estou cá pensando nas minhas referências, às somas que nos tornamos. E veio um cheiro de café, queijo, fogão à lenha, lamparina, chuveiro à serpentina, leite, quintal, açude. Hoje sei que o que vem da terra, entra no coração. Hoje sou aquele quintalzão cheio de folhas estalando debaixo dos meus pés, impossível brincar de pique-esconde. Quanto mais corre mais barulho faz. Tenho que contar, eu recebi um telefonema do Chukichi Kurozawa! Eu sou um barulho bom hoje...



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Postado por Blog de Aden Leonardo Camargos
21/11/2018 às 21h22

 
Um lance de escadas

Há décadas vivo na Irlanda, mas sou natural de Toledo, Espanha. Nasci numa família de camponeses – tínhamos algumas poucas cabeças de gado, uma granja modesta e uma pequena plantação de leguminosas. Lembro-me de aos cinco anos de idade já trabalhar na preparação da terra. Depois, em torno dos sete anos – nunca soube ao certo o motivo – meus pais me mandaram a um fazendeiro vizinho, para que eu fosse alfabetizado. Era um sujeito delgado e um tanto excêntrico, que vivia mais pelos seus livros do que para sua fazenda. Amadís de Gaula foi a base para minhas primeiras construções sintáticas e para as lições de história; meu vizinho discorria sobre a época dos feudos, sobre criaturas míticas e heróis. Com isso, não apenas fui alfabetizado, como também adquiri sólido repertório cultural.

Quando completei os estudos e fui liberado pelo meu preceptor, decidi tentar a sorte noutra região. Por um lado, gostava de trabalhar naquela terra, mas cresceu em mim certo pendor de abstração e, assim, decidi viver noutro país. Comuniquei minha decisão aos meus familiares, ao que responderam:

- E a governança da fazenda?

- Deixem os mais novos como responsáveis.

Como já haviam percebido que o território imaginativo era o mais cultivado, desejaram-me boa sorte. Antes de sair do meu povoado, decidi fazer uma visita ao meu antigo mestre; encontrei-o em sua casa, imerso em sua mesa de trabalho, com pilhas de livros para todos os lados. O quarto estava escuro e meu vizinho, mais franzino do que antes; pálido, resmungava trechos de Espejos de caballería. Chamei-lhe pelo nome, ao que ele responde apenas com um gesto de cabeça.

- Estou saindo do vilarejo.

Meu vizinho, encarando-me com ar pensativo, respondeu dando de ombros:

- Em breve nos veremos. – e voltou à sua leitura sem dizer mais nada.

Sua sobrinha relatou-me que estava preocupada com o tio; encontrava-se naquele estado há alguns meses – comia pouco, falava menos e não se importava com nada a não ser suas leituras.

- Talvez esteja se dedicando a algum estudo. – sugeri. A moça assentiu com certo ar de estoicismo, mas sem demonstrar esperança. E assim segui viagem.

*



Quando passei pela região de Salamanca, participei de uma perseguição a um tal de Lazarillo. Acusavam-no de ter roubado todo o vinho de seu mestre, um comerciante de tecidos. Depois de um dia inteiro de buscas, acharam as ânforas todas vazias na própria casa do comerciante, enquanto que o Lazarillo jamais foi encontrado.

*



Depois de dois anos de vida retirante, fixei-me num vilarejo da Irlanda. Fui recebido numa paróquia onde lecionava e cuidava das obras do prédio em troca de moradia e alimentação. Nesse entremeio, como a estrutura da igreja precisava de algumas reformas, contratei um pedreiro de renome – também conhecido por suas bebedeiras – era Tim Finnegan.

Certa ocasião, estávamos trabalhando na reforma de uma das torres do prédio. Tim Finnegan, ébrio, trabalhava no topo de sua escada de cem degraus. Cantava, como sempre. Eu, embaixo, vigiava o trabalho de todos quando, de repente, gritos interromperam a canção de Finnegan. Dois homens aproximavam-se a cavalo: um vinha na frente, silhueta magra, vestia uma armadura de cavaleiro empunhando uma lança, como se pretendesse atacar um inimigo; o outro, seguia atrás, roliço, segurando seu chapéu enquanto gritava ao outro palavras ininteligíveis.

Durante alguns segundos não soube se ria ou se me preparava para uma briga, mas percebi que o alvo não seria eu. O cavaleiro se aproximava cada vez mais, até acertar a escada de Tim, derrubando-o. O pobre pedreiro soltou um grito inefável e atingiu o solo, desfalecido.

- Em nome do poderoso Finn MacCool, o gigante Benandonner está derrotado! – bradou a estranha figura. E continuou:

- Frestón não é páreo! Enfim, dedico essa vitória à minha querida amada Dulci... – dizia o estranho, quando interrompi:

- Ei! Veja o que fizeste! Mataste o pobre Tim! – Mas não pude continuar, pois tamanho foi meu espanto ao perceber que aquela estranha figura era meu antigo mestre. Seu companheiro, que finalmente se aproximava, era outro vizinho.

Ao perceber meu olhar de surpresa, o cavaleiro disse:

- Não há do que agradecer-me. Avisei-te que nos encontraríamos.

- Mas o que aconteceu, Alon...

- Chamo-me Dom Quixote de la Mancha, o Cavaleiro da Triste Figura. E este aqui é meu fiel escudeiro, Sancho...

- ... Panza. Sei, o conheço. – completei.

Lembrei-me daquela longínqua imagem de sua figura, enredada em seus livros, o olhar fixo e a fala desconexa. “Está louco”, pensei. Para não demonstrar meu nervosismo, comecei a falar:

- Mas como tens passado, Alon... digo, Dom Quixote? Pelo que observo, foste nomeado cavaleiro, não? Conte-me, como foi? Pois quando saí de Toledo eras fazendeiro.

E, assim, meu antigo preceptor relatou todas as suas aventuras, enquanto Sancho devorava lascas de queijo com pedaços de pão. O cavaleiro contou-me suas aventuras pela Espanha, Arábia, Grécia; contou-me que um livro havia sido publicado, relatando parte de suas aventuras. Alguns anos depois tive a oportunidade de ler os dois volumes, escritos sob a pena de Benengeli, mas publicadas sob o nome de Cervantes.

Contudo, a maior parte de suas aventuras não estavam registradas; em nenhum dos dois volumes sequer é mencionada a saída de Quixote da Espanha. Creio que estejam perdidas em papéis não traduzidos, quem sabe. De qualquer modo, o encontro de Dom Quixote com Tim Finnegan, ou melhor, com o “gigante Benandonner” não está registrado, por isso, deixo minha contribuição.

Gostaria de concluir com uma observação: a despeito de tudo, Tim Finnegan segue como sempre – bêbado, alegre, trabalhando no topo de sua escada. Um dia ele confessou-me um segredo: durante uma estadia em Salamanca, roubou algumas ânforas de vinho. Bebeu todas e, quando se viu perseguido, fugiu até onde suas pernas o levaram.

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Postado por Ricardo Gessner
18/11/2018 às 14h33

 
No tinir dos metais

Em
meio
à
bruma
matutina
palavras
se
digladiam
a
golpes
de
facas
para
saírem
incólumes
dos
sonhos

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Postado por Metáforas do Zé
13/11/2018 às 16h21

 
De(correntes)

O
mal
da
memória
são
as
réplicas

O
bom?
a
continuidade...

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Postado por Metáforas do Zé
13/11/2018 às 15h29

 
Prata matutina

Em
palavras
lavadas

Deu-se
um
banho
de
cromo

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Postado por Metáforas do Zé
13/11/2018 às 15h27

 
Brazil - An Existing Alien Country on Planet Earth


Me desculpem pelo inglês errôneo, mas ainda estou aprendendo a me adaptar ao mundo, visto que este não sabe de onde venho ou que sequer existo. No entanto, estou aqui entre vocês! Eu e mais 203,9 milhões de habitantes que atualmente vivem no Brasil. Um país tido como exótico e excêntrico por outras nações, considerado tão distante e distinto que pode ser comparado a uma terra alienígena e inexplorada. Um planeta peculiar, perdido em seus próprios mistérios, cujo alguns astronautas vez ou outra chegam a visitar.

Os outros tantos, preferem acreditar nas referências caricatas de filmes e informações absurdas que foram absorvidas durante o passar dos anos e estão enraizadas na cultura mundial. Isso não é culpa de alguém, pois com certeza, nós como alienígenas, também desconhecemos vários países a ponto de tê-los como ambientes de outras galáxias.

Mesmo assim, o Brasil e muitos de seus alienígenas sofrem quando vão pra países convencionais, sendo bombardeados de perguntas irracionais e até ofensivas que nos transformam em aberrações de estudo num laboratório. Pode não ser por mal, porém já passamos por poucas e boas dentro do nosso universo que muitos desconhecem.

Mas este país não é o único lugar incógnito que há na Terra, existem diversos outros esperando pra serem descobertos na busca de um conhecimento pleno, ainda que básico de várias outras culturas pra que mundos distantes façam parte do universo numa única extensão de terra que culmine num só planeta.

Sendo assim, tantos astronautas quanto aliens precisam saber que:

O Brasil não é feito só de Rio de Janeiro, São Paulo e Amazonas. Existem outros 23 estados e um Distrito Federal, onde está Brasília, a capital do país.

Nem todo brasileiro gosta de futebol, samba e carnaval. Um país é feito de milhões de indivíduos com gostos peculiares que necessariamente não representam as características exaltadas pela maioria.

No Brasil, fala-se português! Não é brasileiro, nem espanhol! Trata-se do português oriundo de Portugal, mas que ganhou sua propriedade ao fundir-se com a linguagem indígena, africana e de tantos outros povos que aqui chegaram.

Reforçando também que a capital do Brasil é Brasilia, não Rio de Janeiro, nem Buenos Aires, tão pouco Assunção.

Lembrando que este planeta tem muito mais a oferecer do que samba, Rio de Janeiro, Pelé e Bossa Nova. Se vocês, astronautas, nos conhecerem com paciência e vontade, verão que não somos tão diferentes assim.

Quanto ao mito de odiar a Argentina... Prefiro não comentar! kkk

É importante ressaltar que há muito mais que churrasco no país, pratos deliciosos, aliás! E muito nutritivos. Além de nossa aparência, como alienígenas que somos, quase nunca ser definida.

E definitivamente não temos macacos e animais selvagens andando pelas ruas. A maioria dos aliens quase nunca viu um bicho desses na zona urbana, onde estão os prédios, carros e viadutos iguais aos de qualquer metrópole.

Enfim, esses somos nós! Será que tão alienígenas mesmo? Ou talvez só mais um povo distante do mundo, tentando fazer contato pra provar que é tão igual e humanizado quanto vocês. Nada de exótico, capaz de aprender tudo com competência e embora felizes, passando também por dias tristes, de luta e conscientização.



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Postado por Blog de Camila Oliveira Santos
13/11/2018 às 05h52

 
Casa de couro IV

Entre dois mundos espalhei meu oceano.
Entre dois mundos, dormem nossos avós.
Meu pai e minha mãe sabiam das travessias.
Para vencer aquelas águas do quintal, construí
navios de papel. Grande, o convés. Imenso, o mar.
Bem maior o porto, recebendo o estrangeiro
evadido de antigas guerras.
Travessias, tantas.

Barca de brinquedo. Barca de verdade.

Dentro da mala, as crianças
carregavam o horizonte.


(Do livro Travessias)

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Postado por Blog da Mirian
11/11/2018 às 13h18

 
232 Celcius, ou Fahrenheit 451

Você é feliz?

Uma pergunta aparentemente banal como essa foi o bastante para que Guy Montag, de bombeiro exemplar se transformasse num subversivo social procurado pelas autoridades. A situação em que uma pergunta é feita, combinada à porosidade do indivíduo interrogado, podem ocasionar mudanças profundas, tanto na índole, quanto no modo de compreender a si mesmo.

Ray Bradbury não é conhecido como um autor psicológico, nem seus romances submergem às profundezas da mente humana; entretanto, o eixo temático do livro Fahrenheit 451 se desenvolve a partir do momento em que a pequena Clarisse McClelland faz a famigerada pergunta ao seu vizinho Montag: “você é feliz?”. Um modesto convite à reflexão; um caminho aberto em direção às profundezas da condição humana.

A história de Fahrenheit 451 se passa numa sociedade em que a leitura é crime capital, sob pena de incendiar os livros e a residência do meliante, com sua subsequente prisão. A cada nova descoberta de livros escondidos, os bombeiros são acionados e seguem ao local, não para combater um incêndio, mas para provocá-lo. O trocadilho com o termo em inglês – fireman, literalmente, “homem-fogo” – é intraduzível: aplicado para nomear aqueles que combatem o fogo, no livro se refere aos que o provocam-no, invertendo o papel como representação simbólica da inversão de valores que esse livro revela. Nessa sociedade futura, os bombeiros desempenham função tripla: 1) incendiar as casas para 2) manter a sociedade pacificada, longe de qualquer livro e, assim, 3) eliminar todo e qualquer vestígio de ressentimento: “Eles [os bombeiros] receberam uma nova missão, a guarda da nossa paz de espírito, a eliminação de nosso compreensível e legítimo sentimento de inferioridade: censores, juízes e carrascos oficiais”.

Incinerar livros e proibir sua leitura é um gesto de manutenção da paz, da felicidade pessoal e do bem-estar social, mantida pelos bombeiros. Nesse ínterim, Guy Montag, chefiado pelo capitão Beatty, até então é um combatente exemplar. Disciplinado, respeitoso e dedicado, sempre manifestou seu trabalho com orgulho. Contudo, sua vida se transformou quando a pequena Clarisse lhe pergunta se é feliz. Montag, enfrenta um período de crise quando passa a observar e intuir a estranheza que compõe a sociedade em que vive e ajudou a preservar. Pela primeira vez, a paz que sempre se orgulhou de manter cede lugar a um mal-estar.

Diante de um obstáculo, basicamente há duas saídas: 1) não enfrentá-lo, ignorá-lo, fugir, desistir; ou 2) reconhecer sua existência e enfrentá-lo, atitude que exige preparação para superá-lo, sem garantia de sucesso. A primeira solução é praticamente indolor, no máximo uma pequena câimbra ao virar de costas. A segunda requer coragem e persistência para enfrentar um processo pouco prazeroso.

Ler é uma atividade intelectual; normalmente expande nossa capacidade de abstração e percepção, tornando-nos conscientes de limitações, de que somos mortais, imperfeitos, mas que, por outro lado, nos serve como uma arma de ataque contra essas limitações; conscientes de nossas falhas, ao menos sabemos o que precisamos superar. O hábito da leitura se alinha a esta atitude; no entanto, a sociedade retratada em Fahrenheit 451 escolheu a primeira saída. Dessa forma, não ler é uma proteção contra o sentimento de inferioridade gerado pela consciência inteligente da condição humana; é um meio para não enfrentar nem reconhecer nenhum tipo de injúria, defeito ou dificuldade, mesmo que combatê-las implique uma melhoria pessoal. Em síntese: ler nos faz pensar; pensar gera desconforto; logo, corte-se o mal pela raiz e proíba-se a leitura.

O chefe dos bombeiros – ressalto: cuja missão é manter a paz de espírito – afirma que o “sentimento de inferioridade” é “compreensível e legítimo”. Socialmente, significa a necessária e obrigatória manutenção da mediocridade; evitar que ela se torne consciente: “O livros servem para nos lembrar que somos estúpidos e tolos”. Representa a insegurança de assumir-se limitado e, assim, evitar qualquer angústia e melancolia subsequente. Ao relembrar os tempos de escola, Beatty menciona o aluno “excepcionalmente brilhante”, que sempre recita e responde as perguntas corretamente, enquanto os demais permanecem “sentados com cara de cretinos, odiando-o” e, depois da aula, vingam-se com violência, atacando aquele que é dedicado ou talentoso. Nessa atitude, vê-se que a eliminação do ressentimento é uma forma dialética de manifestá-lo. A sociedade pacífica de Fahrenheit 451 é aparente, pois suas raízes estão fincadas em conduta similar.

A eliminação de tudo o que nos coloca em lugar inferior representa uma atitude evasiva e covarde, mas que foi instaurada como obrigação para manter o bem-estar social. Além disso, como a lembrança está associada aos tempos da infância, a ação, por conseguinte, é igualmente infantil, definindo adultos que se comportam como crianças mimadas. Rejeitar o enfrentamento de dificuldades; colocar-se num lugar de uma superioridade confortável, mas aparente; não arcar com qualquer responsabilidade ou culpar a sociedade por todo defeito, representam a preponderância do ressentimento. A sociedade que elimina todo elemento que evidencia um problema a ser resolvido resulta numa sociedade infantil, mimada e ressentida, como o é em Fahrenheit 451. Seus habitantes divertem-se com “passatempos sólidos” – veja-se a saborosa contradição em termos, para não ofender a mentalidade limitada dos habitantes –, proporcionados pelos programas anestesiantes de televisão.

A proibição da cultura livresca é resultado de um processo silencioso e lento, em que a leitura foi gradativamente deixada de lado em detrimento de outras atividades que requerem pouco esforço e oferecem prazer imediato; “Aí está Montag. A coisa não veio do governo. Não houve nenhum decreto, nenhuma declaração, nenhuma censura como ponto de partida. Não! A tecnologia, a exploração das massas e a pressão das minorias realizaram a façanha, graças a Deus. Hoje, graças a elas, você pode ficar o tempo todo feliz, você pode ler os quadrinhos, as boas e velhas confissões ou os periódicos profissionais”.

Este é o ponto nodal de Fahrenheit 451: a leitura foi proibida em nome da paz e da felicidade; um meio de coibir o ressentimento. Houve um processo de acomodação entre o que era oferecido às massas – programas anestesiantes de rádio e de televisão – junto ao nivelamento por baixo, em que os parâmetros são estabelecidos segundo os vícios de muitos, não as virtudes de poucos. Quem pretende subir o nível é logo descartado: “Os que não constroem, precisam queimar. Isso é tão antigo quanto a história e os delinquentes juvenis”. Ou seja: se você não constrói, precisa destruir; exatamente como os firemen, cuja tradução literal – homens-fogo – abarcaria o sentido mais preciso.

Felicidade e prazer fáceis se tornam a finalidade da vida, não importa se isso implica retrocesso intelectual ou estagnação cultural. A única direção proibida é o aprimoramento, visto que isso implica pensar e, portanto, em dor. Tudo o que se pede é um “passatempo sólido”: “se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum”.

Nesse quadro, chamo a atenção ao importante papel desempenhado pelas minorias. Em nome de um “bem-estar” absoluto, em nome da “justiça social”, reivindicações de minorias ressentidas se tornam inquestionáveis, condenando-se qualquer perspectiva diferente. O resultado é uma visão de mundo simplista e parcial. A higienização em nome do bem aplicada em larga escala, resulta na promoção da mediocridade em detrimento da alta cultura. Shakespeare é abolido, pois uma elite com critérios elitistas (socialmente injustos) não tem o direito de considerá-lo melhor do que Paul Rabbit. “Todos devem ser iguais. Nem todos nasceram livres como diz a Constituição, mas todos se fizeram iguais. Cada homem é a imagem de seu semelhante e, com isso, todos ficam contentes, pois não há nenhuma montanha que as diminua contra a qual se avaliar”.

Se algum poeta, com maestria, desenvolve artisticamente as inquietações mais abissais da condição humana, logo é eliminado. Shakespeare não pode provocar nenhum sofrimento, nem pode ser considerado melhor do que outro. Na verdade, se o poeta provoca algum incômodo, mínimo, por estimular o pensamento, deve ser considerado ainda pior. Na fala de Beatty, o homem deixa de ser “imagem e semelhança de Deus” para ser apenas “imagem de seu semelhante”, isto é, de outro homem. Deus, imortal e perfeito, é o avesso do humano; jamais deverá ser cultuado nessa sociedade.

O resultado de tudo isso é a decadência cultural. “A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?”.

Esse excerto é um resumo do que encontramos atualmente. Veja-se a censura no ensino de gramática padrão, tomando-se o cuidado para não incorrer em preconceito linguístico; veja-se a substituição da desinência de gênero por caracteres supostamente neutros, para evitar a supressão machista do masculino e, assim, legitimar a igualdade; veja-se os Parâmetros Curriculares Nacionais, que questionam o ensino de Machado de Assis alegando que os alunos não entendem por que ele é literatura e deve ser ensinado. Ora, se as explicações não fazem sentido aos alunos, isso demonstra o despreparo do professor junto à sucatização dos cursos de licenciatura, que não tem capacidade de justificar qualitativamente a diferença de um Dom Casmurro de um O Alquimista, nem argumentar a importância da cultura literária na formação humanística e educacional de uma pessoa. Além disso, questionar o ensino de algo sob alegação de não fazer sentido ao aluno é fundamentar a imbecilização, assim como justificar a infantilização. Isso me lembra de um relato de Theodore Dalrymple a respeito do ensino público britânico, em que um acadêmico sugeriu a mudança ortográfica, visto que a maioria esmagadora dos jovens estudantes não escrevia conforme o padrão. O erro de antes, agora mascarado em eufemismos da novilíngua, é reapresentado como algo natural e, assim, ao invés de ser corrigido é instaurado como nova regra.

Enfim, se as explicações do porquê Machado é literatura não fazem sentido aos coitados dos alunos, isso não é problema da Literatura. Particularmente, nunca entendi o sentido de se calcular forças aplicadas em roldanas e bloquinhos, então deveríamos reformular o ensino de Física. O acesso a Shakespeare, Milton, Dante, Machado, a alta cultura de maneira geral, é direito de todos; é patrimônio da humanidade. Privar esse acesso é elitismo, não o contrário. Não é exagero supor que o mundo caminha para Fahrenheit 451.

Quando Clarisse McClellan pergunta a Montag se ele é feliz, a indagação brota dentro de uma sociedade em que a felicidade é obrigatória e literalmente inquestionável, daí o espanto de Montag. Contudo, trata-se de uma felicidade que deita raízes em solo arenoso, o que reverte a pergunta num gesto nada banal. O olhar de Montag é direcionado para perceber toda a aridez ao seu redor: sua mulher cada vez mais demente e rodeada por televisores que dejetam “passatempos sólidos”; a memória das pessoas, cada vez mais defasada; a ausência de respeito pela vida de outrem, exibida em ações homicidas, seja pelos habitantes, seja pelos programas televisionais. A pergunta de Clarisse brota como uma planta suntuosa num terreno tomado por ervas daninhas, cuja beleza está sujeita a ser sugada pelo ressentimento das demais.

Como afirmei algumas linhas acima, não seria exagero considerar que nosso mundo caminha para um Fahrenheit 451. O comportamento alienado da esposa de Montag no romance equivale ao dos usuários de smartphones, cujos olhos estão a todo momento vidrados nas telinhas brilhantes. É cada vez mais raro estabelecer uma conversação duradoura, isto é, de cinco minutos, sem que o interlocutor desvie os olhos para o aparelho. Com isso, a mente está cada vez mais habituada a lidar com o universo virtual e passa a se esquecer do mundo concreto. A memória, o raciocínio, as capacidades cognitivas superiores, enfim, se atrofiam gradualmente. No início do romance, Montag, ao chegar em casa encontra sua esposa em estado de coma; ela havia tomado, involuntariamente, uma overdose de remédios, pois se esquecera de que já havia se medicado anteriormente. O mais assustador é que não foi a primeira vez, segundo o relato da narração. É o resultado de uma vida confortável, sem ressentimentos, sem decepções, sem compromissos, recheada de televisores e “passatempos sólidos”, mas que configura alguém sem anseios, sem ambições, sem cultura, sem memória e, em síntese, sem personalidade.

Simbolicamente, a amnésia de Mildred corresponde a um suicídio cultural, mesmo que involuntário. É comparável ao incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018. Séculos de história se perderam. Séculos da memória nacional se foram. E ao contrário do que manifestaram os brasileiros, ninguém se preocupou, nem se preocupa, de fato. A primeira manifestação do então prefeito Marcelo Crivella foi dizer que iriam restaurar a fachada, que ficou relativamente bem preservada. Em seguida, nas redes sociais, começaram as acusações em que jacobinos acusavam girondinos da culpa pelo incêndio e vice-versa. A discussão entre um lado e outro ainda persiste, mas os referenciais já mudaram algumas vezes e ninguém mais se lembra do que aconteceu.

Conforme Montag adquire consciência do que se passa, sente-se responsável pelo cenário e, aos poucos, percebe a importância de combatê-lo. Assim, recorre a única pessoa que parecia ter um mínimo de consciência: Faber, um professor de inglês (equivalente a um professor de Literatura) aposentado, descartado quando os cursos de ciências humanas perderam sua relevância e deixaram de ser procurados. Faber sabe da importância da leitura e aceita auxiliar Montag.

Com isso, formam uma dupla equivalente à do papel e caneta, cujos nomes – Montag e Faber – são de marcas correspondentes. Além disso, faber é um termo latino, que significa “aquele que produz ou fabrica”. O homo faber, nosso antepassado histórico que desenvolveu a competência de fabricar seus próprios instrumentos de caça, retorna nessa sociedade neo-primitivista.

A união de Faber com Montag, do lápis com o papel, é fundamental tanto no romance quanto na vida. Um não funciona sem o outro e essa união simboliza o novo livro que poderá ser escrito – e quem sabe lido – fora da aridez social que representa Fahrenheit 451. Não necessariamente será um livro de papel, mas de carne, osso e espírito – completo, portanto – graças à consciência da mediocridade reinante.

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Postado por Ricardo Gessner
11/11/2018 às 09h20

 
Mãe

Início do meu romance Até Breve Mamãe (Páginas Editoras) a ser lançado amanhã.

Mãe,

A aula mal começou, a universidade já está em greve. E pior, o restaurante dos estudantes está fechado, e a comida na cidade é cara. Eu não queria falar nisso, a senhora já tem muito problema. Não esquenta, eu me viro. Lembra do fogareiro que pôs na mala na hora em que eu estava saindo? Está ajudando muito. Quando o negócio aperta, eu quento uns ovos, faço um macarrão e vou levando. As aulas podem não voltar logo, mas as pessoas da cidade ajudam a gente. Ontem mesmo comi na casa de uma mulher que falou que se a greve demorar a acabar, eles vão dar cesta básica pros alunos carentes que não podem ir pra casa. A viagem pra cá durou dois dias e meio. Não sei quando vou ver a senhora de novo. Deixa melhorar, eu junto um dinheiro e vou te visitar. E o pai deu notícia? E a Selminha, o menino vai nascer quando? O cara vai assumir ou não? Essa minha irmã desde pequena eu achava que ia dar trabalho.

Estou começando a ganhar dinheiro trabalhando com entrega de lanche. É de moto, mas a senhora não precisa ficar preocupada. Aprendi a “muntar”, como dizem os mineiros. Vai estranhar também um universitário num emprego desses. Aqui é comum encontrar pessoas formadas ocupando os mais variados tipos de serviço que nada têm a ver com o que estudaram. Outro dia mesmo conheci um taxista agrônomo. Todo mundo estuda. As duas filhas da faxineira da minha lanchonete fazem doutorado.

Não tenho carteira ainda, por isso rodo mais de madrugada por causa da polícia. Ganho pouco por corrida — “depois que você se habilitar eu te pago mais” — fala o patrão. Parece que ele gosta de mim. De vez em quando ganho uma gorjeta. Outro dia mesmo ganhei uma boa de um estudante, vou muito na casa dele, mas ele cheira a noite toda e põe o som na maior altura. Uma vez perguntou se eu queria ganhar uns trocados pra trazer umas encomendas. Desconversei logo que vi que era fria.

O alojamento eu não acho ruim, mas aqui em Viçosa faz um frio de rachar. Em algumas manhãs quando vou pra aula e que vejo as árvores e as montanhas, é até bonito. Parece que é noutro país, daqueles que aparecem nas gravuras das folhinhas, tudo branquinho por causa da neblina. Na universidade tem gente de tudo quanto é lugar. O alojamento das meninas é longe pra não ter galinhagem. O ruim do nosso é que às vezes é uma bagunça, principalmente nos dias de jogo. Os caras vestem as camisas dos times e ficam tocando corneta. Zorra mesmo é quando acaba a luz. É até gozado. Eles mexem com as pessoas do outro lado da represa. As meninas eles chamam de piranha e os homens de veado. É só pra passar o tempo, porque aqui todo mundo é do bem. Mas tem hora que é triste, mãe, muito triste. Dá vontade de chorar. Tem hora que dá medo. Medo de tudo. Às vezes acontece cada uma, igual semana passada que encontraram o corpo de um estudante boiando na lagoa, na frente do alojamento. Eles falam que foi suicídio. Aí a coisa aperta. No Natal foi pior. Quando chegou de noite, as luzes de enfeite dos prédios tudo piscando, a gente imaginando as pessoas lá dentro conversando na maior alegria, música vindo de tudo quanto é canto, e eu lembrando, criança ainda, o pai vivendo em casa, tudo bom, tudo feliz naquele tempo, e a turma aqui, um silêncio de endoidecer no alojamento, uma chuva miúda caindo, e nós enchendo a cara (não precisa esquentar — foi só no Natal) porque tem hora que o estômago dói, mãe, não é de fome, é de saudade. De saudade e de solidão também. Eu sei que não devia dizer essas coisas, desculpa, eu não tenho mais ninguém pra contar o que pega fundo. A senhora tem minha irmã aí. Mesmo desmiolada serve de companhia, uma vai encostando na outra. Já escolheram o nome do netinho? Ela quer menino ou menina?

Pra terminar e não falar só de coisa ruim, tem uma menina aqui, Lúcia, eu estou a fim dela. É da Nutrição, do tipo que qualquer sogra ia gostar: meiga, simples. Mora no alojamento também. Em algumas noites — e as daqui são bonitas, dá pra ver o céu de um lado ao outro da cidade —, a gente vai pro campus e conversa muito tempo sentado na grama. Outro dia, o friozinho chegando, joguei minha jaqueta nas costas dela e ficamos. De repente, uma estrela arranhou o céu e caiu lá pros lados dos eucaliptos. Lembra, eu pequeno, a senhora falando que quem via estrela cadente dava verruga nos dedos? A bênção, mãe.

Lançamento: dia 10/11, sábado, a partir de 11 horas, Livraria Quixote, Rua Fernandes Tourinho, 274, BH.

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Postado por Blog de Anchieta Rocha
9/11/2018 às 14h22

 
Auto contraste

Através
da
palavra
leio
o
silêncio

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Postado por Metáforas do Zé
5/11/2018 às 23h49

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