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Quarta-feira,
28/2/2018
O jogo não pode parar
Isaac Rincaweski
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O futebol sempre foi meu esporte preferido. Jogávamos em qualquer lugar (principalmente na rua de terra esburacada da minha casa), desde que fosse possível a fixação das traves (duas pedras, bem grandes!), sendo que bola alta não validava o gol, pois nunca tínhamos certeza de que ela passava dentro na linha imaginária do que deveria ser uma trave de verdade.
Pior do que jogar em estrada esburacada e cheia de pedras soltas, tendo que parar o jogo a cada vez que passava um carro, era jogar no pasto cheio de vacas da casa da oma (avó) do meu vizinho, repleto de bostas frescas, com o agravante de ter que tomar o cuidado de não perder a bola, devido ao forte declive do terreno. É claro, também tínhamos cuidado para não trocar a bola por bosta de vaca na hora do chute.
Nossa bola de couro geralmente estava em frangalhos, com vários gomos faltantes, e chegava a pesar quase uma tonelada quando estava molhada.
Os dedos dos meus pés eram roxos e tortos devido aos constantes chutes em pedras ou nas canelas dos outros guris, na tentativa de acertar a bola.
Às vezes reuníamos nossa turma e fazíamos uma pequena excursão nos arredores para jogar algum torneio organizado por outras “turmas”. Nessas ocasiões, era prudente o uso de algum calçado, pois o clima de final de Libertadores era a senha para um jogo duro, com vantagem para o time da casa (sempre jogávamos no campo do adversário, pois nosso campinho, “pasto” ou “rua” não era aprovado pela federação internacional).
O pau comia solto. A regra era clara: do pescoço para baixo, valia tudo!
Mesmo assim, quando criança, nunca me machuquei gravemente jogando aquilo que eu acreditava que fosse o melhor futebol do mundo!
Eu tinha 6 anos e frequentava o Jardim de Infância. Nosso uniforme era uma espécie de bata de cor azul quadriculada, do mesmo tipo daquelas toalhas usadas em piquenique. Era simplesmente horrível!
Eu odiava ser obrigado a usar aquilo, pois, em minha opinião, era parecido com um vestido. Sorte minha é que a dos meninos era azul e a das meninas era rosa.
Excetuando o uniforme, eu adorava frequentar o Jardim de Infância e também participar de todas as atividades. O simples ato de ir e vir já era uma aventura! Eu e meus inseparáveis amigos, Beto, Tutti e Jano, aprontávamos bastante naqueles quase dois quilômetros de estrada que tínhamos de caminhar diariamente, principalmente em dias de chuva, com banhos e brincadeiras nos ribeirões existentes pelo caminho.
E foi no Jardim de Infância que fui iniciado na prática de outros esportes, e, dentre eles, a corrida foi marcante.
Aquela era a minha primeira corrida “oficial”. Estávamos todos os garotos perfilados na beira de um campo de futebol (sem bostas de vaca e, incrivelmente plano) aguardando somente o apito da tia.
Mesmo com apenas 6 anos, e com o trecho a ser percorrido não sendo superior a 50 metros, eu me sentia como se estivesse participando de uma Olimpíada, tamanha era a adrenalina que percorria o meu corpo naquele momento.
O apitou soou! Saímos em disparada, correndo como loucos. Eu queria vencer aquela prova... Ah, como eu queria.
Olhei para os lados e vi que estava um pouquinho à frente dos demais competidores, mas, nesse momento, me distraí um pouco e tropecei numa pequena saliência no gramado. Não foi uma simples queda, eu rolei na grama, diversas vezes. E a cada giro, eu via meus amigos se distanciarem cada vez mais, pois ninguém se importou com a minha queda, pelo contrário, comemoraram a desistência de um concorrente.
Quanto parei de rolar e comer grama, levantei-me e logo senti uma forte dor no ombro. Fui levado ao hospital e constataram que tive uma fratura na clavícula, o que me obrigou a ficar com a região imobilizada pelo período de um mês, aproximadamente, o que, na minha contagem de tempo, era o equivalente a uns 30 anos!.
A primeira semana (7 anos!) foi realmente terrível para mim. Ainda sem entender a gravidade da lesão e os limites do meu pequeno corpo, eu quase não me mexia (com medo ficar torto pelo resto da vida), mas, após essa primeira semana de adaptação, fui ganhando confiança e, como a capacidade de recuperação de uma criança é incrivelmente superior à de um adulto, a dor e a humilhação da queda foram rapidamente esquecidas. Mesmo estando imobilizado na forma de um “cabide”, em poucos dias, utilizando técnicas de contorcionismo que só uma criança se arrisca a fazer, eu já havia encontrado outras maneiras de brincar e me divertir (bolinha de gude, bate figurinha e bilboquê, por exemplo), conseguindo, dessa forma, uma boa redução da minha pena de 30 anos.
Ah, e é claro que, após alguns dias de confinamento, eu também já estava batendo uma bolinha na rua, afinal, eu só havia quebrado a clavícula, não as pernas!
Postado por Isaac Rincaweski
Em
28/2/2018 às 08h59
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