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Quinta-feira, 8/12/2011
Lynch, David
Vicente Escudero
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David Lynch é um artista polivalente. Produtor, diretor e roteirista de cinema que produz comerciais de televisão, álbuns musicais, pinturas figurativas contemporâneas e diariamente apresenta na internet a previsão do tempo em Los Angeles, tudo fora de ordem, como um quebra-cabeça desmontado, onde as peças não se encaixam por completo e formam apenas paisagens particulares, fragmentos da vida construídos em sonhos produzidos artificialmente, enquanto o autor está acordado, manipulando a realidade. Ninguém seria capaz de definir com tal tirocínio o processo criativo do autor de Twin Peaks a não ser ele mesmo.

A precisão da análise se encerra no processo. A maioria dos resultados, com exceção de suas produções musicais, reconstrói o caminho das memórias no subconsciente lynchiano, um conjunto de escolas estéticas servindo ao surrealismo na produção de obras heterogêneas e bastante pessoais. Desde o início de sua carreira como diretor de cinema, no primeiro longa Eraserhead (1976), passado numa cidade industrial de um futuro distópico, onde o pai de um bebê com deformidades físicas sofre com sua morte acidental, que desencadeia a destruição da própria cidade, o passado do diretor é reconstruído. Lynch viveu no subúrbio da Filadélfia durante o final da década de sessenta, quando se casou e foi -relutante- pai pela primeira vez. A casa onde morava foi assaltada logo após se mudar com a família e uma criança foi morta, semanas depois, na mesma rua. A influência destes episódios, apesar de negada pelo diretor, é indiscutível.



Gravado em preto-e-branco, com cenas desconexas e recortadas, repleto de elementos que se tornariam algumas de suas características na direção como corpos deformados, a fotografia sombria e o ritmo misterioso e lento da história, Eraserhead tornou-se uma referência entre outros diretores. George Lucas convidou David Lynch para dirigir Star Wars VI e Stanley Kubrick exibiu-o numa preparação do elenco de O Iluminado. Infelizmente, o diretor recusou o convite para produzir O Retorno de Jedi.

Com o sucesso de Eraserhead entre os experts, Lynch dirigiu O Homem Elefante em 1980, a convite do renomado comediante e produtor Mel Brooks. No drama passado durante o século XIX, em Londres, um homem com o esqueleto deformado (John Hurt) é explorado e maltratado por um dono de circo até ser resgatado por um cirurgião, interpretado por Anthony Hopkins. No seu primeiro filme produzido por um estúdio, David Lynch reduziu a marcha e conduziu a história lentamente, valorizando os personagens e seus contrastes: a inocência do homem reduzido à condição de atração de circo, seu tratamento desumano, em conflito com o interesse mórbido dos espectadores.



Manipulando sua habilidade de produção estética para humanizar o monstro, que aos poucos revela ser mais humano do que a maioria dos normais e sem conceder um final de conto de fadas, Lynch criou um dos personagens inesquecíveis do cinema, capaz de suportar a exploração pelos desejos ocultos do público sem se destruir. Neste duelo entre a curiosidade e a piedade não existe pausa para a reflexão. Em nenhum momento o salvador demonstra pena do monstro, mas age com um espírito de solidariedade inabalável para ajudá-lo a sair da condição de escravo.

É seu filme mais humano, desligado do ambiente urbano etéreo presente em obras posteriores importantes como o seriado Twin Peaks e os Filmes Blue Velvet, Wild at Heart e Mulholland Drive. Esta pá de cal no simbolismo construído sobre o passado sombrio na Filadélfia foi o início da radicalização de sua estética surrealista, e um salto ornamental no precipício da imaginação.

Veludo Azul, lançado em 1986, é indecifrável. Os únicos faróis que guiavam a interpretação de seus filmes anteriores não existem mais. Navegar entre os símbolos da violência, sexualidade e amadurecimento é quase impossível, não há mais referências para qualquer destino seguro. O pedaço de uma orelha é encontrado por um jovem (Kyle McLachlan) na grama do quintal de casa, revelando na cidade um submundo perverso, habitado por um violento -e cômico- maníaco sexual (Dennis Hopper) envolvido com uma misteriosa cantora de cabaré (Isabella Rosselini). A maioria dos acontecimentos é desconexa e só faz sentido no desenrolar da história, um processo que revela o novo estilo do diretor, a preocupação maior com a reprodução de seu universo interior, o etéreo de memórias fragmentadas. Nestes retalhos costurados em realidade, a jornada que liga os universos impossíveis de pessoas tão distintas encontra seu sentido nas conexões emotivas, a dúvida em busca da perversão, controladora da submissão. O jovem, o maníaco e a cantora submissa completam-se formando um retrato perfeito -com uma fotografia repleta de vazios, irretocável- do descontrole que reina no inconsciente.



As produções posteriores caminharam, aos poucos, para a radicalização do surrealismo lynchiano. Wild at Heart (1990), um road movie com elementos de O Mágico de Oz -um pitaco de simbolismo do início da carreira- é destacável pela composição entre trilha sonora e fotografia, uma mistura entre as décadas de setenta e oitenta, jaquetas de pele de cobra e heavy metal, e serve como um prenúncio do que estava por vir com Quentin Tarantino em 1992, com Cães de Aluguel. Felizmente, David Lynch manteve-se fiel à instabilidade da própria consciência e continuou no ritmo de Veludo Azul nas duas produções posteriores, Twin Peaks e Mulholland Drive.



Twin Peaks (1990) e Mulholland Drive (2001) são dois marcos da televisão e do cinema. Ambos sofreram com os mesmo problemas na produção, os limites que a rede de televisão ABC decidiu impor ao diretor. O roteiro da série Twin Peaks, sobre a exótica investigação do assassinato de Laura Palmer, foi alterado para revelar o assassino durante a metade da segunda temporada, esvaziando o sentido dos capítulos posteriores. Já Mulholland Drive, sobre uma mulher sofrendo de amnésia, em busca de sua identidade, nasceu como um piloto de uma série na mesma emissora, mas foi rejeitado depois de dezenas de ingerências da rede ABC no roteiro e acabou, para a felicidade do diretor, sendo produzido como filme, no cinema, com o roteiro intacto.





Mulholland Drive foi o último grande filme escrito e dirigido por David Lynch, que atualmente trabalha em vários projetos paralelos sobre música, produzindo animações na internet, comerciais para a televisão e até desenhando o interior de uma casa noturna, na França, o Club Silencio. Seu cinema autoral foi deixado em segundo plano depois da montanha de dificuldades que enfrentou para controlar todo o processo de produção, desde a criação do roteiro, passando pela escolha do elenco, cuidado com a fotografia na filmagem, a escolha da trilha sonora (Lynch filma usando fones de ouvido para ter certeza de que a música combina com a cena) até a edição final. Esse excesso de interferências, infelizmente, desviou o diretor de seu maior talento. Hoje, é difícil saber o que se passa na cabeça de David Lynch. Se nenhum grande artista suporta a censura de seu trabalho, difícil imaginar o desconforto sofrido por aquele que reproduz com fidelidade a própria consciência.


Vicente Escudero
Campinas , 8/12/2011

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